Marcus Accioly |
OS PESOS
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que o meu canto te cante a vida (Chico)
e não a morte (que és dos seringais
irmão de leite e sangue) São Francisco
das últimas florestas nos quintais
do mundo (pai-da-mata-mãe-do-filho
das raízes e folhas tropicais
que perderam seu meio com meu tronco
de jacaré tombado no barranco).
“o movimento se desenvolveu”
(tu disseste) contudo (companheiro
da natureza) o crime aconteceu
(como a árvore-humana de Pinheiro
em Brasiléia) o chumbo derreteu
nos jornais (a cavalo o pistoleiro
teve por cela a sela da polícia
que o levou do Brasil pela Bolívia)
se a barreira-dos-corpos (mãos do empate)
defende (contra a anfíbia motosserra
que à coivara do sol ergue o desmate)
teu índio e teu caboclo (tua selva)
se dos dedos das plantas o alicate
arranca unhas ou pétalas (se resta
esperar que o Amazonas tenha sede)
acorda (Chico) fogo-fátuo verde
(mineral-vegetal-animal-homem)
e grita à terra-Acre (em Xapuri)
“basta (o dente do tempo rói meu nome
por dentro do caroço) o açaí
(vinho das minhas veias) serve à fome
das formigas carnívoras (JARI)
USAndo a tua cinza a UDR
é um sepulcro Caiado para o verme”
Poema para Chico Mendes, do poeta Marcus Accioly no seu Livro de Poemas LATINOMÉRICA, p. 105, TOPBOOKS, 2001.
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