Homero Fonseca
Com 500 anos de atraso, conheci a Amazônia. Atendendo convite do professor Pedro Vicente Costa Sobrinho, pernambucano-potiguar-acreano, participei, recentemente, como registrado em post anterior, da 1ª Bienal do Livro e da Leitura da Floresta. Antes, não me animava a subir em direção ao Equador, por preguiça, falta de oportunidade e medo do calor brabo (apesar de nordestino, não convivo bem com altas temperaturas devo ter descendência groenlandesa, aliás, tenho uma hipótese mirabolante sobre isso que contava aos meus filhos, mas isso é outra história).
Da floresta, pouco vi, pois não houve chance de adentrá-la. Conheci o Parque Chico Mendes, dentro de Rio Branco, uma amostra grátis da Hiléia de Humboldt. A capital acreana, com seus 300 mil habitantes e uma visível presença do Estado em toda a parte, é um brinco incrustado na beirada da mata. Dei sorte, pois peguei a “friagem”, um raro período anual com temperaturas amenas, entre 16 e 22 graus.
Mas indo ao miolo do assunto: a Bienal foi um sucesso de crítica, embora não tanto de público (digo isso em função de platéias raquíticas para altos debates, coisa que não é privilégio do extremo Norte, pois anda se repetindo no Rio, São Paulo, Porto Alegre e quejandos). A competente curadoria de Pedro Vicente, com a colaboração valiosa de Helena Carloni, diretora da Biblioteca Pública (recém-reformada, moderníssima, ampla, clara, agradável, equipada com computadores e espaços para crianças, acervo de 60 mil volumes, com verba garantida este ano de mais R$ 1 milhão para aquisições!), reuniu um timaço das letras nacionais: Fábio Lucas, Gilberto Mendonça Teles, Márcio Souza, Ignácio de Loyola Brandão, Luiz Ruffato, Hildeberto Barbosa, André Seffrin, Alexei Bueno, Rogério Pereira (do “Rascunho”) e uma delegação pernambucana formada por Cláudio Aguiar, Fernando Monteiro, Jomard Muniz de Britto, Marcus Accioly.
As barraquinhas com livros de tudo que é editora, na Praça da Revolução, atraíam curiosos e enxames de colegiais circulavam, orientados por professores, para fazer pesquisas superficiais com escritores.
Oportunidade de conversas interessantes, conhecimento com gente nova, reencontro com amigos. Quanto ao resultado geral, creio que eventos desse tipo aproximam os autores dos leitores e podem estimular a leitura em geral (mas não exageremos), especialmente no formato muito bem sucedido das conversas informais dos escritores com a estudantada tão avessa à leitura, em parte pela falta de exemplo em casa, em parte pela concorrência dos meios audiovisuais e on line, e, em grande parte, pela inadequação do encaminhamento ao mundo da leitura (é preciso seduzir!). Se os escritores se safam bem nesses contatos dessacralizados – e acredito que muitos o fizeram – podem atrair sempre alguns para nosso exército brancaleônico. O que por si só já justifica a iniciativa (afinal, os leitores-mesmo nunca foram maioria, em tempo algum, em lugar nenhum).
Participei de mais de uma mesa, a mais instigada, ao lado de Cláudio Aguiar, Fernando Monteiro e Luiz Ruffato, com a presença luxuosa na platéia de Jomard Muniz de Brito, sobre o escritor e seus personagens.
Aproveitei para desancar os excessos formalistas que afastam cada vez o leitor da literatura, no que provoquei certa marola. Às vezes, pareço ser conservador, mas o fato é que me insurjo contra as invencionices vazias de uma literatura autista influenciada (como sempre) por teorias da moda que, ciclicamente, com roupagens novas, infesta o ambiente literário. Tive que explicar não defender uma literatura fácil, de narrativa redundante, interessada em cortejar o público como uma cortesã. Mas o fato é que, pelo andar da carruagem, vamos terminar escrevendo apenas para escritores. E isso se me afigura um beco sem saída.
Se não fosse o calor, eu seria capaz de morar no Acre, onde a internet banda larga do hotel era bastante veloz, me possibilitando a conexão necessária com o mundo.
Artigo publicado: www3.interblogs.com.br/homerofonseca; em 17/06/2009.
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