segunda-feira, 13 de outubro de 2008

ARTIGO - ASSIM ERA MEU AMIGO E POETA MAIOR ALBERTO DA CUNHA MELO - Pedro Vicente Costa Sobrinho

ASSIM ERA MEU AMIGO E POETA MAIOR ALBERTO DA CUNHA MELO



A face semi-oculta do poeta maior Alberto da Cunha Melo como agitador, organizador e administrador cultural precisa com certa pressa ser revelada. Desde sua infância, adolescência e juventude Alberto esteve sempre envolvido com poesia, literatura e promoção da cultura. Em Jaboatão, cidade em que ele nasceu, Alberto sempre foi referência maior para os jovens de sua geração que se preocupavam com arte e literatura.

No Grêmio Lítero-Recreativo de Jaboatão, Alberto, salvo erro, cuidava do pequeno acervo de livros; e por sua atividade atraía a juventude local para o contato com livros e consequentemente para a iniciação a leitura. No Colégio Estadual da cidade soube agregar no seu círculo de influência um grupo de estudantes tais como Jaci Bezerra Lima, Domingos Alexandre, Glauco, Karl Marx, Ricardo, Pedro Vicente, entre outros. Alguns dentre esses deram continuidade a sua vocação literária e vieram a ser escritores de reconhecido valor intelectual. É, no entanto, no pequeno jornal alternativo “Dia Virá”, fundado por Alberto e grupo de amigos, que sua contribuição intelectual à cultura local foi sobejamente ampliada. A participação de Alberto é simplesmente multifacetada; crônicas, reportagens, editoriais foram publicadas sob pseudônimo ou sem identidade assumida, e esse material, mesmo que sendo produto de sua juventude, bem merece ser resgatado para melhor avaliação crítica.

A longa aprendizagem da infância e juventude se projetou no futuro Alberto, como organizador, agitador e administrador da cultura. Coordenou cadernos literários em jornais e revistas de Pernambuco. Marcou sua presença como pesquisador no Instituto Joaquim Nabuco. Gerenciou com mestria a área social e cultural do SESC no Acre. Foi coordenador de cultura da Fundarpe, entre outros. Todas essas atividades nas quais ele esteve muito envolvido não impediram Alberto de construir uma obra poética de altíssimo nível, hoje reconhecida por todo país graças à publicação e reedição dos seus muitos e valiosos livros. Falta muita coisa ainda de sua poesia a ser publicada. E também de sua prosa essencial, memórias e pesquisas.

Nesse tributo à memória do poeta maior Alberto da Cunha Melo, que se encantou faz um ano no dia 13 de outubro, abro espaço nesse meu blog para registrar de rápido sua presença essencial na redação do pequeno jornal alternativo “Dia Virá”. Faço isso, pois quero realçar em Alberto da Cunha Melo o atributo de personagem diferenciada, como disse ou, salvo erro, se atribuiu ao poeta Brecht; e que grosso modo aqui reproduzo: há homens que se tornam importantes para a história, tudo bem; mas há outros que se tornam absolutamente imprescindíveis, e esses ficarão.

O “Dia Virá” circulou por pouco mais de dois anos. A periodicidade era um tanto irregular, pois o jornal era dependente das horas vagas dos seus redatores e da pequena tipografia onde era editado. De início o jornal era meio confuso politicamente; pouco a pouco foi assumindo posição mais definida, isto por obra e graça de José Luis e Alberto da Cunha Melo. Esse trecho de um dos editoriais é bastante revelador do novo e radical diapasão; “A batalha ideológica que se trava no Brasil atualmente é a mais linda de quantas foram travadas neste solo. Vocês são uns retrógrados... covardes... que segam a cooperar na luta contra o desprezível capitalismo, palavra que deveria ser escrita com excremento de animais”.

As divergências internas no “Dia Virá” foram a cada edição sendo acumuladas. Alberto, Zé Luis e eu estávamos afinados com os novos rumos dos movimentos sociais no país. A política social da Igreja Católica, União Nacional de Estudantes, Governo Arraes, Ligas camponesas e sindicatos rurais, as reformas de base etc. A polêmica travada com um jornalista local foi a gota d’água para o desfecho do que já era até esperado: a cisão do grupo. Zé Luis e Alberto tomaram a iniciativa de redigir e encaminhar carta ao jornal para solicitar nosso desligamento da redação, alegando sérias divergências quanto a princípios éticos e ideológicos. Não pude assinar a carta por estar fora da cidade, porém meu nome foi incluído e, certamente, eu estava de acordo com seu inteiro teor.

O grupo que assumiu integralmente o jornal publicou a carta e também ao lado a réplica: “Resposta aos três mosqueteiros”. Assim inicia a carta: “Escolhemos o título... porque achamos que se enquadra muito bem, nos três personagens cavalheirescos que compunham o “Dia Virá...”. Nela é reconhecida a qualidade literária do texto dos que saiam; e a importância dos serviços prestados ao jornal por Zé Luis e Alberto. Ressalva-se, porém, que apesar de serem valiosos cooperadores não são indispensáveis e são substituíveis; e conclui “... porque o único indispensável e insubstituível, é DEUS”.

Os escribas da carta estavam profundamente enganados pois Alberto da Cunha Melo não só era indispensável e insubstituível; ele era para o pequeno alternativo “Dia Virá”, ao modo brechtiano, imprescindível. O resultado é que esta foi a última edição do jornal. A carta-resposta foi o réquiem do “Dia Virá”. Zé Luis e Alberto eram corpo e alma do jornal. No seu livro sobre a história da imprensa de Jaboatão, Eliezer Figuerôa registrou: “Depois da troca de correspondência interna... nem o “DIA VIRÁ” sobreviveu, pois aquela, a 18ª, foi sua última edição”. Mais sobre Alberto, ver: http://www.albertocmelo.com/http://www.trilhasliterarias.com/ e http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/



Nota: Nesta foto que ilustra o texto, vemos Alberto e minha companheira Socorro, que tinha grande admiração e amizade pelo poeta. 

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