terça-feira, 1 de julho de 2008

CINEMA - ENTREVISTA - O CINEMA SEGUNDO PEDRO VICENTE COSTA. SOBRINHO - Francisco Sobreira

O Cinema, segundo Pedro Vicente


Pedro Vicente, o nosso entrevistado de hoje, sempre esteve ligado ao cinema. Sendo ele também apaixonado pelo cinema, este teria inevitavelmente que nos aproximar um do outro. Isso aconteceu nos anos 60 (segunda metade), quando algumas vezes trocamos idéias sobre o filme que acabávamos de ver. O cinema teve uma importância fundamental para Pedro Vicente, porque lhe revelou o misterioso e fascinante caminho da arte. Um conhecimento feito através de livros, do convívio com integrantes do Cineclube Tirol e, claro, das obras dos grandes cineastas. Depois de se familiarizar com a linguagem Pedro Vicente começou a trabalhar em prol do cinema. Foi quando presidiu a Federação Norte-Nordeste de Cineclubes. Em seguida, tornou-se membro do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, oportunidade em que colaborou no levantamento do acervo das obras dos cineastas Norte-Rio-Grandenses João Alves de Melo e José Seabra. O material resgatado foi doado à Cinemateca do Museu de Arte Moderna, do Rio.
 
Até que um dia ele virou sociólogo e foi se exilar no Acre. Lá se tornou professor universitário, função que hoje ocupa na UFRN. Sua vivência na Amazônia lhe deu elementos para escrever o livro “Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental”, publicado pela Editora Cortez. Tem mais dois livros na gaveta, além dos que já publicou, à espera de editor. De novo em Natal, Pedro Vicente continua um apaixonado pelo cinema, exercendo a crítica na imprensa local. Eis a sua entrevista.

Como você define o cinema?

A meu ver, a mais moderna e completa forma de expressão da criação artística. Síntese do espetáculo e da arte. O mundo dos sonhos fez-se realidade.

Você lembra-se do seu primeiro contato com o cinema?

O cinema prematuramente esteve presente no meu universo de criança. Fui freqüentador assíduo de matinês, levado por uma tia desde os 5 anos. O Zorro, Tarzan, Durango Kid, Flash Gordon, Carlitos e o Capitão Blood são personagens inesquecíveis. Posso afirmar sem exagero que o cinema foi responsável pela minha formação intelectual. A partir dele fui levado aos quadrinhos e às fotonovelas. Depois ao romance de aventuras e ao conto infantil. A grande literatura foi uma conseqüência natural.

A seu ver, quais foram os filmes que mais contribuíram para evolução da linguagem cinematográfica?

Intolerância (David Griffith), Encouraçado Potemkin (S. Eisenstein), Metrópolis (Fritz Lang); O Cantor de Jazz (Alan Crosland); Cidadão Kane (Orson Welles); Roma, Cidade Aberta (Robert Rossellini); Acossado (Jean-Luc Godard) e Hiroshima, Meu Amor (Alain Resnais). Ainda incluiria nesta relação Branca de Neve e os Sete Anões, de Walt Disney; este filme levou o cinema à criança, com toda magia dos contos de fada. O desenho animado ocupou seu lugar na história do cinema.

Quais os seus diretores preferidos?

Sem ordem de preferência, John Huston, Charles Chaplin, Luchino Visconti, John Ford, Frank Capra, Alfred Hitchcock e Ingmar Bergman. No entanto, com Huston, Visconti, Bergman e Ford sempre manterei uma relação mais afetiva, situada para além do essencialmente estético.

E os atores e as atrizes?

Também sem ordem de preferência, Henry Fonda, John Wayne, Gary Cooper, James Stewart, Marcelo Mastroianni e Burt Lancaster. Atrizes, mais pela paixão despertada do que pela avaliação rigorosa do desempenho, Ingrid Bergman, Marilyn Monroe, Jane Fonda, Brigitte Bardot, Jeanne Moreau e Isabelle Adjani. Por lapso, quase cometi uma injustiça comigo mesmo, deixando de incluir os atores Humphrey Bogart e James Cagney.

Como você vê, 30 anos depois, o movimento do Cinema Novo brasileiro?

O Cinema Novo continua sendo o marco de referência do cinema brasileiro. Seu melhor momento. Tendo como inspiração o Neo-Realismo italiano e o movimento renovador da Nouvelle Vague, os jovens diretores, como Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Leon Hirschman, Joaquim Pedro, Roberto Santos fizeram obras já merecidamente incorporadas à história da arte do cinema. Alguns filmes até considerados como obras-primas do cinema.

O que acha do videocassete?

O ritual de ir ao cinema, a sala escura, a sensação de estar junto e só ao mesmo tempo, a concentração na tela, a qualidade da imagem, eles continuam pra mim mantendo o mesmo atrativo e encanto. Continuo nesse sentido tradicionalista. Faço minhas as palavras de um chefe de cozinha: diante das mais recentes inovações culinárias, nada melhor do que uma velha receita. Reconheço a natureza revolucionária do vídeo, ao trazer o cinema para dentro de casa; ao permitir pela reedição em escala industrial o acesso a filmes já fora de circulação. E também por levar ao mais longínquo vilarejo a arte do cinema. O vídeo calou os vaticinadores da morte do cinema. Esses, por pressa ou burrice, confundiram a arte do cinema com a sala de projeções. O telão e a TV de alta definição darão ao cinema impulsos definitivos.



Entrevista concedida ao escritor Francisco Sobreira.

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