quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ARTIGO/ENTREVISTA - CHICO MENDES: A TRAJETÓRIA DE UMA LIDERANÇA - Pedro Vicente Costa Sobrinho

 
 Chico Mendes

Algumas considerações à guisa de introdução

 
A ocupação recente das terras do Acre por empresários do Centro-Sul instaurou, no início da década de 70, um clima de terror e violência no mundo dos seringais. Em pouco tempo, três ou quatro anos, um terço do Acre havia passado para as mãos de proprietários residentes fora do Estado. A marcha em direção à nova fronteira foi arrasadora. A compra de seringais, cuja extensão nunca havia sido definida, permitiu o uso e abuso do método de esticamento da terra, sendo assim incorporadas grandes áreas devolutas ou sem possuidor identificado.
 
Na região dos vales dos rios Acre e Purus, quase sempre seguindo o traçado estratégico das Brs-364 e 317, e também Ac-40, as terras alienadas foram ocupadas pelos novos proprietários, que deram início a uma operação sem controle de destruição indiscriminada da floresta, com o objetivo de instalar fazendas para a prática da pecuária extensiva de corte. Para isso, não faltaram os incentivos fiscais, juros subsidiados, terra barata e órgãos públicos, estaduais e federais, solidários com os desígnios dos novos colonizadores.
 
No governo do Acre, nomeado pela ditadura militar, instalou-se o professor Wanderlei Dantas, adepto inconteste da política do "Brasil grande potência", e inteiramente afinado com as diretrizes para a integração da Amazônia emanadas pelo governo federal. Dantas trazia para o Acre um projeto de modernização da economia que não passava pelo extrativismo.
 
A tradicional atividade extrativista da borracha e, secundariamente, da castanha, já em processo avançado de desarticulação, estava fadada a desaparecer rápido e definitivamente pela ação das motosserras e das grandes queimadas. No lugar de uma floresta exuberante, o destino reservava uma paisagem de extensos campos com pastagens artificiais, cuja monotonia seria quebrada pelas patas do boi.
 
O processo civilizatório desencadeado na fronteira ocidental teve como demiurgos ilustres empresários do Centro-Sul, que na cobiça pela terra se confundiam com grileiros, especuladores e sicários. Após legitimar a ocupação da área pela compra, esticamento da propriedade e o registro fraudulento dos títulos em cartórios, a preocupação da horda civilizatória se voltou para a expulsão de quem se encontrava no seu interior. Limpar ou clarear as terras de índios, posseiros e seringueiros passou a ser a ordem do dia. Para isso, foram mobilizados advogados, oficiais de justiça, promotores, juízes, policiais, jagunços e pistoleiros.
 
Os métodos expulsórios utilizados foram os mais diversos. Iam desde a compra da posse e benfeitorias por preços irrisórios ou troca por lotes, de área inferior ao módulo oficial, à destruição das plantações, invasão de posses, proibição de desmate para o roçado, obstrução de caminhos e varadouros, inclusive de rios e igarapés. Além do emprego de outras formas de violência como espancamentos e assassinatos.
 
Durante dois ou três anos os fazendeiros foram donos absolutos da situação, sem encontrar pela frente qualquer forma de resistência. Até que os trabalhadores, em defesa de suas condições de sobrevivência na floresta e em suas posses, resolveram se opor, contando para isso com o apoio da Igreja local. Os conflitos entre posseiros e fazendeiros com seus jagunços tornaram-se públicos. O clima de hostilidade e tensão tornou-se permanente. As baixas resultantes do confronto agora não se davam só de um lado; capatazes e jagunços passaram a ser atingidos.
 
No início de 1975, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) instalou sua delegacia no Acre. O trabalho da Contag foi facilitado pela receptividade encontrada no seio dos posseiros e seringueiros, em decorrência da situação de conflito, e do apoio ostensivo da Igreja e dos seus agentes pastorais, nos vales dos rios Acre e Purus.
 
No curto prazo de três anos, levando em conta as condições adversas para a atividade sindical, a Contag conseguiu organizar sindicatos de trabalhadores rurais nos municípios de Sena Madureira, Brasiléia, Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Xapuri e Feijó. Na maioria dos municípios do Estado os movimentos de resistência não estavam mais isolados, dispunham de condições, mesmo ainda precárias, para melhor defender suas posses e colocações.
 
O recém-criado movimento sindical encontrou certa dificuldade para definir linhas de ação que orientassem suas atividades de mobilização e a resistência dos trabalhadores. O Estatuto da Terra e o Código Civil foram os instrumentos jurídicos acionados, porém o seringueiro, com suas especificidades de extrator, se constituía numa categoria socialmente nova no âmbito da legislação agrária brasileira.
 
Para garantir ao seringueiro o reconhecimento pela justiça da sua condição de posseiro nos termos da Lei 4504, Estatuto da Terra, que assegurava a posse da terra desde que provada sua permanência nela por mais de um ano e um dia, além das provas testemunhais necessárias recomendou-se o plantio de roçado, fruteiras e outros bens considerados de raiz. No caso do seringueiro, já que as estradas de seringa não contavam, apenas o barraco de moradia era benfeitoria. Outra orientação fora para que o seringueiro não pagasse a renda, pois esse pagamento implicava reconhecê-lo como arrendatário, negando, portanto, a sua condição de posseiro e criando dificuldades na Justiça, quando da defesa dos seus direitos de acordo com a lei avocada. Assegurada a sua condição de posseiro, restava orientar para que vendesse a borracha e comprasse mercadorias de quem bem entendesse, livrando-se definitivamente da dependência do barracão.
 
Postas em prática as orientações do sindicato, o trabalhador extrativista tornava-se posseiro, constituindo-se em produtor autônomo, passando da condição de seringueiro cativo a seringueiro liberto. O golpe fatal fora desfechado sobre os seringais e seu anacrônico sistema de aviamento. O seringueiro, que já vinha ao longo do tempo se autonomizando em virtude do abandono dos seringais nos períodos de crise, da adoção do contrato-padrão, da presença das estradas e dos marreteiros, concluía em tese esse processo.
 
Foi nesse contexto de lutas que se destacou a figura de Chico Mendes, Francisco Alves Mendes Filho, participante ativo do movimento de resistência contra a exploração nos seringais, do enfrentamento aos fazendeiros e da defesa da floresta.
 
Chico Mendes começou a participar do movimento sindical em 1975, na cidade de Brasiléia. Após participar de um curso de formação sindical, organizado pela Delegacia da Contag, conquistou a confiança dos seus companheiros e, na assembléia de fundação do sindicato, foi indicado e eleito secretário da entidade.
 
O primeiro teste de Chico Mendes à frente do sindicato se deu no conflito entre seringueiros e o proprietário do seringal Carmem. Para impedir a destruição das colocações e estradas de seringa, trabalhadores armados de espingardas e terçados cercaram mais de cem peões que estavam derrubando a floresta com motosserras para formar pastos. A ação decidida dos seringueiros sob a liderança de Chico Mendes levou o proprietário da fazenda a negociar. O acordo daí resultante, mediado pela Delegacia da CONTAG, implicou no abandono dos seringueiros de suas colocações em troca de lotes de terras em locais determinados e acordados entre as partes. Pouco tempo depois, a maioria dos trabalhadores abandonou ou vendeu por preços irrisórios os lotes recebidos, e migrou para os seringais bolivianos ou se deslocou para a cidade.
 
A avaliação feita por Chico Mendes dos resultados dessa luta, que considerava uma contundente derrota, foi da maior importância para que ele viesse a repensar a orientação sindical até então aceita. A luta pela terra e a resistência contra a ação dos fazendeiros no Acre assumiu formas diferenciadas. Em determinadas áreas os trabalhadores organizavam-se em mutirão para fazer pequenas derrubadas na floresta e nelas colocar os seus roçados. Nesse ato atraíam contra si os funcionários do IBDF, ciosos do seu dever protecionista, e também o poder dos fazendeiros, dispostos a criar obstáculos a qualquer estratégia de sobrevivência do posseiro. Em outras áreas, os trabalhadores procuravam impedir que os fazendeiros realizassem suas derrubadas, pois, ao colocar em risco as árvores de seringueiras e castanheiras, ameaçavam as suas condições de sobrevivência no interior da floresta.
 
Em decorrência da gravidade dos conflitos, as políticas dos governos estadual e federal foram alteradas. A questão fundiária no Acre passou a ter outro tratamento. O INCRA passou a contestar a legalidade dos títulos de terra apresentados pelos fazendeiros, e assim dificultou a obtenção de incentivos e financiamentos aos projetos agropecuários junto aos órgãos públicos. Além de com isso, legitimar de certo modo a ação do movimento sindical, que não aceitava a alegada propriedade dos fazendeiros.
 
O governo estadual retirou, por sua vez, a polícia civil e militar dos conflitos de terra. Passou também a reivindicar junto ao governo federal a urgente necessidade da desapropriação para fins de reforma agrária de grandes áreas em litígio. Começou ainda a reconhecer oficialmente o papel do movimento sindical, comparecendo às suas assembléias e destacando sua mediação nos conflitos. Esses fatos colocavam no vazio as denúncias dos raivosos proprietários de terra junto aos órgãos de segurança.
 
Diante de um rápido processo de sindicalização rural, com os trabalhadores desenvolvendo ações organizadas e formas de luta diversificadas como o empate, acampamentos, comissões a Brasília, pressões sobre parlamentares, denúncias aos órgãos públicos, demandas judiciais, e até mutirões com armas para impedir a violência contra a posse, os fazendeiros foram sentindo que o cenário da questão fundiária estava se descortinando de modo adverso aos seus intentos iniciais. Outro agravante foi a mudança da política do governo. Restava então se encaminhar para a negociação como meio de defesa dos seus interesses, os quais nem sempre tinham respaldo legal.
 
De parte do movimento sindical havia uma disposição para negociar. A delegacia da Contag, que coordenava a ação sindical, orientava o movimento para fazer acordos que asseguravam a posse e as benfeitorias, não importando que dessas negociações resultasse a saída do posseiro para outro lote de terra proposto pelo suposto proprietário, desde que fosse maior ou no mínimo estivesse de conformidade com o módulo definido para a Amazônia, para efeito de reforma agrária. A localização dos lotes e as condições de acesso também faziam parte do acordado.
 
Esses acordos de certo modo foram vantajosos para o posseiro agricultor, que além do lote de terra legalizado e as benfeitorias indenizadas tinha ainda a possibilidade de engajar-se num Projeto de Assentamento Dirigido (PAD). A política de desapropriação de áreas para efeito de reforma agrária e implantação dos PADs do Acre veio a ser um fator de estímulo aos acordos entre posseiros e fazendeiros. Para o seringueiro, que vivia quase exclusivamente da extração da borracha e de modo complementar da castanha, a saída da colocação significava a sua destruição enquanto produtor com relativa autonomia, e mesmo sua extinção enquanto categoria social. Os acordos feitos pela Contag e sindicatos resultaram em tragédia para o seringueiro.
 
Chico Mendes logo se apercebeu desse fato. Dizia que o seringueiro não podia de uma hora para outra se transformar num agricultor. Sua vida era diferente, o plantio da roça, a agricultura, tinha para ele pouca importância. A luta do seringueiro era no sentido de manter a sua posse, a colocação com suas estradas de seringa e seu traçado original.
 
Sem se aperceber ou sem levar em consideração as diferenças dos protagonistas, a orientação do movimento sindical na direção dos acordos estava liquidando o tipo social que até aí constituía o grosso dos seus filiados, e os de maior disposição para a luta. Além disso, involuntariamente, passava a colaborar com os desígnios criminosos dos pecuaristas, pois estes, ao se livrar dos seringueiros, teriam o caminho livre para destruir a floresta e transformá-la em pastagens.
 
A conduta do sindicato de Xapuri sob a liderança de Chico Mendes era diferente. Os seringueiros foram orientados para não abandonar as colocações. Não fazer acordos. Assegurar a posse. A legalidade dessa posição não encontrava respaldo na Justiça. A área reconhecida da posse não levava em consideração as estradas de seringa. Esse fato, significaria creditar ao seringueiro de 300 a 400 hectares de terra, inviabilizando, portanto, qualquer ação indenizatória por parte do fazendeiro.
 
Para evitar os desmatamentos autorizados pelo IBDF aos patrões, que colocava em perigo as estradas de seringa, o sindicato organizou os empates. A operação de defesa das condições de vida do seringueiro se entrelaçou e confundiu-se com a preservação da floresta. A questão ambiental estava posta. Manter a floresta era garantir o direito de existência do seringueiro enquanto produtor e extrativista.
 
O sindicato passou inclusive a exercer uma ação coercitiva com relação aos seus filiados e até não-filiados. Segundo Chico, foi proibido ao seringueiro negociar sua posse com o patrão. A comunidade foi mobilizada para pressionar os recalcitrantes. A venda de uma colocação no seringal fragilizava as outras. Isso permitiria abrir caminho para o fazendeiro desmatar e comprometer a resistência.
 
A estratégia de luta delineada pelo movimento de Xapuri implicou na necessidade de elaborar uma nova proposta de reforma agrária, diferente em pontos essenciais da proposta até então colocada pelos organismos oficiais. Inclusive diferente da proposta de reforma agrária defendida pelo sindicalismo de trabalhadores rurais no País. A reforma agrária do seringueiro teria de contemplar a regularização de sua posse de 300 a 400 hectares, a manutenção da floresta e as condições para que continuasse na sua condição de extrator. Isso alertava para o fato de que qualquer iniciativa de reforma agrária para a Amazônia deveria levar em consideração as múltiplas diferenças existentes, e, sobretudo, a realidade específica do trabalhador extrativista.
 
Essa proposta aparentemente simples de reforma agrária do seringueiro, defendida pelo movimento de Xapuri, passou a mobilizar contra ela interesses poderosos. Os grandes fazendeiros instalados no município de Xapuri e em algumas áreas limítrofes já sentiam a força dessa proposta. Em defesa dela os seringueiros organizaram dezenas de empates, indo ao confronto com policiais e pistoleiros. O movimento era essencialmente pacífico, mas sua persistência tornava a derrubada uma operação de custos elevados. A Fazenda Bordon depois de várias tentativas de desmates e negociações suspendeu suas atividades pecuárias no Estado do Acre. Até mesmo chegou a apelar para a corrupção de lideranças sindicais.
 
Era preciso conter o movimento de Xapuri a todo custo. Se a idéia no acre se expandisse seria um perigo. Imagine se ultrapassasse as fronteiras do Estado, tornando-se epidêmica, e se espalhasse pela Amazônia. Isolar Chico Mendes e o seu movimento aos limites de Xapuri e, conseqüentemente, esmagá-lo, passou a ser a estratégia dos fazendeiros, políticos do PMDB e de parte do movimento sindical.
 
O cerco a Chico Mendes veio a ser parcialmente rompido a partir de 1975 com a realização do primeiro Encontro dos Seringueiros, em Brasília. Em sua conversa Chico realçou a sua importância para o movimento. Daí por diante novas alianças puderam ser feitas. A luta sindical veio aliar-se à questão ecológica. A idéia de reserva extrativista tomou fôlego. Chico passou a ser cidadão do mundo.
 
Conheci Chico Mendes logo que cheguei ao Acre. Acredito que em 1978. Acompanhei sua trajetória de lutas. Meu interesse em desenvolver pesquisa sobre o sindicalismo no Acre me levou a ficar próximo do movimento dos trabalhadores e de sua liderança. Essa relação resultou na dissertação de Mestrado em Ciências Sociais que apresentei na PUC-São Paulo.
 
No ano de 1988 precisei conversar com Chico Mendes. Logo no início do ano. Os meus afazeres na universidade e suas constantes tarefas sindicais adiaram por meses o nosso encontro. Combinamos a conversa para novembro em Xapuri. Ele havia me falado algumas vezes que sua vida estava ameaçada. Fui sabedor de ameaças e atentados contra ele. Agora em Xapuri andava cercado por dois policiais. O clima na cidade era de guerra. A insegurança era geral. Os Alves, Darli, Alvarino e filhos espalhavam o terror impunemente. As autoridades locais e do Estado, omissas ou coniventes, nada faziam.
 
Levei para Xapuri, a pedido do professor João Correia, roteiro de entrevista de Cândido Grzybowski, para aplicar a uma liderança sindical de minha escolha. Como tinha uma conversa marcada com Chico, consultei-o se dispunha de tempo para outro papo. Mostrei o roteiro para ele, obtive sua anuência e disse-lhe que não ia me restringir ao roteiro. Instigaria para que a conversa fosse a mais abrangente possível, pois dali esperava tirar algumas informações para o meu trabalho. Nossa conversa gravada durou duas horas e trinta minutos. O papo paralelo foi muito além. Combinamos um próximo encontro para fins de novembro. Eu voltei a Xapuri trazendo alunos de agronomia para os quais lecionava Sociologia Rural. Com os alunos visitamos a reserva extrativista de Cachoeira e a Cooperativa, e também tivemos uma conversa no sindicato. Aproveitei para realizar a entrevista que havia combinado com Chico Mendes, cujo conteúdo estava relacionado com o meu projeto de escrever um seu perfil.
 
Após transcrever as fitas gravadas verifiquei que não eram suficientes. Faltavam muitas informações que considerava importantes. Resolvi fazer uma entrevista complementar, e de imediato programei minha volta a Xapuri.
 
No início de dezembro voltei a me encontrar com Chico em Xapuri. Estava mais a vontade, a campanha eleitoral havia terminado, o candidato a prefeito pelo PT tinha sido derrotado, mas o partido conseguira eleger três vereadores. A parte complementar da entrevista foi feita sem roteiro, conversa entre amigos, e em duas etapas, uma delas à noite, em sua casa; outra, na sede do sindicato dos trabalhadores rurais de Xapuri. O resumo textualizado dessa última entrevista eu publiquei na Revista São Paulo em Perspectiva, próximo da realização da ECO-92.
 
No dia 22 de dezembro de 1988, vinte dias após nosso encontro e conversa, Chico Mendes foi assassinado no quintal de sua casa, ao sair para o banheiro. Os mandantes e assassinos de Chico Mendes não esperavam o clamor que suscitou a sua morte. De todos os recantos do planeta se pediu justiça, punição para os criminosos. Os mandantes e coniventes ficaram impunes. Os criminosos diretos foram presos e julgados, mas poderão a qualquer momento estar soltos. Confiam na falta de memória do povo brasileiro e na impunidade reinante no país.

UMA CONVERSA COM CHICO MENDES
Reconstituindo uma trajetória de vida e lutas

"Sempre me perguntaram como é que cheguei a me tornar uma liderança importante no movimento dos trabalhadores. Será que eu sou o melhor de todos? De repente eu tinha uma cabeça melhor que todos os outros companheiros. Essa pergunta, até bem pouco tempo me recusava responder. Agora eu posso explicar e aí é que está o âmago da história.
 
Eu comecei a cortar seringa com nove anos de idade. Em vez de ir pra escola, aprender ler e escrever, fui desde cedo sangrar seringueira. O patrão não deixava filho de seringueiro ir pra escola. Não era do seu interesse, pois o filho de seringueiro, ao aprender ler e contar, iria descobrir que o pai era roubado no final da prestação de contas. Além disso, o fato de aprender não aumentava a produção, pelo contrário, ao ir pra escola a gente deixava de ajudar o pai no corte. A minha infância, portanto, foi igualzinha a de todos os filhos de seringueiros. Até os dezoito anos era analfabeto.

O encontro com Euclídes Távora
 
Nos meados de 1961 ou 1962 apareceu uma pessoa desconhecida no nosso barraco. Havíamos há pouco tempo chegado da estrada de seringa e já estávamos começando a defumar o leite. Essa pessoa vinha de viagem, tinha ido ao barracão do seringal comprar mercadorias. Quando ele chegou e nos cumprimentou eu percebi que era uma pessoa diferente. Não se parecia com os companheiros de nossa vizinhança. Nós tínhamos aquela nossa forma tradicional de falar, pessoas humildes, fala de homem da mata. Ele nos revelou que morava ali perto, três horas de distância da nossa colocação. O visitante logo verificou que eu estava interessado em sua conversa, pra mim era curioso encontrar uma pessoa tão diferente.
 
Por gostar de receber as pessoas que viajavam, meu pai ofereceu nosso humilde barraco para que o visitante pernoitasse. Ele tinha uma conversa bonita. Falava de política, falava em coisas que eu nunca havia ouvido falar em minha vida. Fiquei até altas horas da noite ouvindo aquele homem. No outro dia ele convidou meu pai e a mim pra ir até a sua casa.
 
No dia de folga fui com meu pai até sua colocação. Observei que sua vida era diferente dos outros companheiros seringueiros. Ao tomar conhecimento que eu não sabia ler, perguntou se isso me interessava. Respondi que sim. Foi além e perguntou, por quê você tem vontade de aprender? Expliquei que era pra descobrir o roubo dos patrões. A gente por não saber ler e contar era enganado, e não podia provar que estava sendo roubado. Após ouvir atentamente a minha conversa, se dispôs a me ensinar. Todos os sábados à tarde eu deveria caminhar até sua casa, pernoitaria e durante a noite teria aulas.
 
Os primeiros dias foram muito difíceis. Não havia cartilha do ABC. Ele não me ensinava por esse método. Ele começava a ler comigo uma história de um jornal, recorte de jornal. Eu não conhecia jornal, nunca tinha visto. Aqueles jornais chegavam às suas mãos com dois ou três meses de atraso. As dificuldades iniciais foram pouco a pouco sendo superadas. Com mais ou menos três meses eu comecei a ler também. Entendia as letras e passei a me interessar muito mais. Com um ano eu já sabia ler e escrever corretamente. Passei a me preocupar com os companheiros de minha região, eles não sabiam ler e escrever. Isso não preocupava meu instrutor, falava que era muito difícil e complicado fazer aquilo com mais pessoas.
 
Pouco tempo depois ele conseguiu um rádio de pilha. Pela primeira vez eu ouvia programas de rádios internacionais. Ouvia a BBC de Londres, a Voz da América, a Central de Moscou, uma emissora comunista. Ouvíamos com atenção todo o noticiário. Às sete horas da noite ouvia-se o programa de rádio Paz e Progresso, esse era o que mais interessava. Nele se falava da revolução socialista, da reforma agrária, da organização dos trabalhadores e dos sindicatos, da ideologia do movimento. No outro dia eu recebia uma aula baseada em tudo aquilo. Logo após a aula abria-se uma discussão. Eu fazia perguntas e ele explicava o significado dos programas.
 
No seringal as pessoas costumavam dormir muito cedo. O silêncio da floresta, o não ter o que fazer, mesmo a obrigação de acordar muito cedo para as tarefas do corte e coleta da seringa levavam as pessoas muito cedo pra cama. Eu, pelo contrário, não sentia sono, lia e conversava até a madrugada. Não me sentia mais só.
 
O tempo de convívio foi estabelecendo uma relação de confiança entre nós. O meu instrutor começou pouco a pouco a se identificar. Era muito desconfiado. Depois de um ano dessa convivência ele passou a revelar as suas origens, o seu passado. Seu nome era Euclides Fernandes Távora, havia sido militar. Participara do levante comunista de 1935. Era prestista. Estivera preso na ilha de Fernando de Noronha de onde conseguira fugir para o Pará. Lá se envolvera em outras escaramuças, tendo que se exilar na Bolívia. Contava que na Bolívia se envolveu com o movimento dos mineiros e depois com a Revolução de 1952 ao lado dos camponeses. Ele não conseguia contar bem essa história, mas a verdade era que se sentindo encurralado teve que fugir e, se embrenhando na selva, chegou até a fronteira. Conviveu com seringueiros bolivianos por pouco tempo e passou pro lado brasileiro.
 
Muitos seringueiros que moravam nas proximidades o conheciam. Alguns se deslocavam até sua colocação pra conversar. Ele falava do preço da borracha, da exploração dos seringueiros. Isso com muita cautela. Lia as notícias dos jornais e se dizia também seringueiro, só que não sabia cortar seringa. Alguns companheiros chegaram a comentar comigo que ele sabia ler muito bem, mas não sabia escrever. Ninguém havia visto a sua letra. Eu também nunca vi. Eu sabia que ele escrevia muito bem, só que não entendia porque ele tinha um cuidado tão grande. Enquanto estava dando as aulas às vezes ele anotava as coisas, mas em seguida queimava tudo que escrevia.
 
Com o golpe militar de 1964, a nossa atenção com as programações das rádios internacionais foi aprofundada. Acompanhamos através dos noticiários toda a violência que houve neste país. A BBC de Londres era ouvida de modo especial, nela era divulgado o que estava acontecendo. A rádio Central de Moscou fazia comentários e denunciava prisões e torturas contra presos políticos e lideranças sindicais. Através da Central de Moscou cheguei a ouvir entrevista gravada com Luís Carlos Prestes.
 
Os últimos contatos com Euclides foram no ano de 1965. Nesse ano suas conversas foram reveladoras. Dizia ele: Chico, nós temos pela frente duros anos de repressão, de ditadura, de linha dura, mas fique certo que o movimento de libertação neste país e de qualquer lugar do mundo nunca se acabará. Eu ficava emocionado quando ele colocava aquilo. Falava que o ideal revolucionário de liberdade iria continuar vivo. A ditadura poderia continuar 15, 18 anos, mas não duraria todo o tempo. O movimento de resistência iria se fortalecer, abrindo brechas para criação de novas associações e sindicatos. Apesar do controle das organizações trabalhistas pelo governo é lá que você tem que atuar. Euclides, meu velho amigo e instrutor, queixava-se de se encontrar muito doente. Nesse mesmo ano saiu de sua colocação pra Xapuri. Não voltei a encontrá-lo".
 
As primeiras lições da prática política
 
"A partir do desaparecimento de Euclides eu fiquei isolado com as idéias na cabeça. Sem rumo, feito uma cortiça no meio do mar. E daí, o que fazer? Comecei então um movimento, uma luta pela autonomia do seringueiro. O patrão obrigava o seringueiro a entregar toda produção de borracha pelo preço que ele queria pagar, e vendia as mercadorias muito caro. Procurei convencer o trabalhador a não se submeter à exploração, vendendo a borracha para o marreteiro. Naquele instante eu contei com a ajuda dos marreteiros que estavam interessados na compra da borracha. Eles pagavam melhor preço e vendiam as mercadorias mais baratas. Eu me encarregava de organizar pontos estratégicos para os marreteiros esperarem, e reunia os seringueiros para levar a borracha.
 
Isso aconteceu no rio Acre. A gente saía às vezes à 'meia-noite' e pela madrugada entregava o produto pro marreteiro. Naquele momento, o marreteiro era uma figura importante pra que se iniciasse o trabalho, o movimento para sensibilizar o seringueiro a romper com essa corrente de escravidão com os patrões. Eu enfrentei muitos problemas; os seringueiros não tinham consciência da questão. Muitos vinham participar do movimento e depois contavam ao patrão. Eu já entendia que isso era resultado da falta de consciência, faltava preparo. O movimento era isolado, não tinha outros companheiros pra ajudar. Fui denunciado e comecei a ser mal visto pelos seringalistas. Eles achavam que eu estava criando um clima de tumulto nos seringais, agitando os seringueiros e jogando contra eles. Apesar de haver encontrado um aliado, o seringueiro Antônio Vítor da Silva, do seringal Cachoeira, que sabia ler e escrever e tinha uma certa consciência de luta, não deu pra continuar o movimento.
 
Junto com Antônio Vítor, procurei encontrar outra forma de resistência. Ele sugeriu que fizéssemos um artigo, alguma coisa escrita denunciando a exploração no seringal. Durante noites e dias escrevemos um bocado de folhas de papel contando a história, o sofrimento dos seringueiros, a exploração dos patrões; aí eu aprendi com ele o que era o homem devorando o homem. Pela primeira vez eu fui até a cidade de Xapuri, isso em 69 ou 70, e tentei fazer com que esse documento fosse divulgado. Procurei mostrar para alguns políticos, que me advertiram: 'Se for publicado isso, você vai preso'. Desisti do intento sem desistir da luta".
 
De correio sentimental a alfabetizador
 
"Com a morte de meus pais eu fiquei sozinho. Meus irmãos menores foram pra casa dos tios. Fiquei mais à vontade pra entrar de cheio na luta. No seringal havia muitos jovens, quase todos analfabetos. Eles se namoravam, rapazes e moças queriam escrever cartas, se corresponder. Eu me coloquei à disposição para escrever as cartas e também as ler. Passei a ser a pessoa de confiança da juventude. Muitas vezes eu levei cartas de rapazes pra moças, lia pra elas, e trazia resposta delas pra eles. Fiz muitos amigos. Nunca briguei com ninguém. A minha liderança era reconhecida; quando alguém se sentia prejudicado vinha falar comigo. Todo mundo me procurava pra fazer cartas, pra fazer isso e aquilo outro. Aproveitei dessa liderança para fazer uma escola.
 
Juntei alguns vizinhos, construímos uma escola e iniciei um movimento de alfabetização. Para arrumar o material para equipar a escola tive que procurar o Mobral. Fiz um trabalho de infiltração. Fiz inscrição para participar de um curso para monitores. O pessoal se surpreendeu, pois, apesar de não ter freqüentado escolas, tirei as melhores notas. Consegui muito material, reuni um grupo de 60 alunos dos seringais Porvir e Santa Fé e comecei o trabalho.
 
Logo me dei conta que o material do Mobral não servia pra conscientizar ninguém. Mudei o esquema. Minha intenção era preparar aqueles alunos, dar uma consciência política pra que aprendessem a lutar. A coisa estava braba. Naquele momento os fazendeiros do Sul estavam chegando. Expulsavam os seringueiros da forma mais violenta. No seringal Albraça, no Riozinho, no rio Xapuri foram espalhados muitos pistoleiros. Eles chegavam na colocação e tocavam fogo na casa do seringueiro, matavam as criações e destruíam o roçado. O seringueiro desesperado se mandava a qualquer custo. Fui dedurado pela inspeção do Mobral. Estava violando o esquema de ensino, e de repente fui chamado para me explicar. Não quis me submeter e fui cortado. Suspenderam a minha remuneração. Fiquei de voluntário alguns meses; não agüentando, voltei a cortar a seringa. Fui pro seringal Filipinas.
 
No seringal Filipinas a sujeição era muito grande. O patrão explorava demais. Mobilizei os seringueiros para desviar a borracha e vender aos marreteiros. Eu mesmo ajudava os seringueiros a levar a borracha pra margem do rio. Quando a pressão aumentava contra mim, o jeito era me deslocar. Levava uma vida itinerante. O clima de violência estava se generalizando por toda a região. Os seringueiros tinham medo de enfrentar a situação.
 
No seringal Santa Fé, onde comecei a escola, os seringueiros foram forçados a assinar documento, sob a ameaça de armas em quarto fechado com a presença dos fazendeiros, pelo qual desistiam de suas colocações. Tentei denunciar os fatos, fui pra lá pra evitar que isso acontecesse. Orientei para que reagissem, mas apenas dois seringueiros não se submeteram. A maioria se entregou, foi uma grande derrota. Apesar de tudo, cabia agora lutar para reverter o processo, evitar que fossem expulsos e começar uma nova luta".
 
Da luta quase isolada ao movimento sindical
 
"No ano de 1975, segunda quinzena de novembro, chegava em Brasiléia uma comissão da CONTAG com a finalidade de organizar o sindicato dos trabalhadores rurais. O grupo tinha o apoio da Igreja Católica. Fui informado que havia uma reunião programada para o salão paroquial. Sem ser convidado me desloquei pra lá. Eu sabia que aquilo era do interesse de todos.
 
Mais ou menos vinte companheiros se reuniram no salão paroquial. Eram considerados as principais lideranças. Entre eles destacavam-se Elias Rosendo, Raimundo Maranhão, Wilson Pinheiro. Seria dado um curso sobre sindicalismo, do qual participei até o final. O curso foi realizado num momento de muita pressão dos fazendeiros. Ligados à polícia e autoridades locais, os fazendeiros começaram a espalhar pela cidade que um grupo de comunistas tinha chegado em Brasiléia, pra começar a tumultuar e agitar os trabalhadores, principalmente os seringueiros. No final do curso marcou-se uma outra reunião com a finalidade de fundar o sindicato. Os participantes teriam que mobilizar os trabalhadores, contariam com o apoio da Igreja pra uma assembléia na qual seria criado o sindicato.
 
No dia 21 de dezembro se realizou a grande assembléia de fundação do sindicato. Pela primeira vez eu me vi diante de um público de quase 900 companheiros no salão paroquial. Eu tive que fazer um discurso, meio enrolado, nunca havia falado em público. Nessa assembléia fui eleito pra diretoria. Ocupei o cargo de secretário. A diretoria eleita não tinha nenhuma experiência de luta sindical. Eu já colocava as coisas com maior facilidade, causava uma certa admiração entre as pessoas, que até pensavam que havia participado de sindicato. Esse fato era naturalmente decorrente dos contatos que havia tido com pessoas mais amadurecidas na luta. A memória de Euclides se fazia presente.
 
Fiquei pouco tempo em Brasiléia. No ano de 1976 voltei a Xapuri. Estava com o firme propósito de criar o sindicato lá, na minha região. Conhecia bem a situação nos seringais e a nova situação com a vinda dos paulistas. Os companheiros de Brasiléia entenderam, inclusive fizemos um acordo, pra que eu me deslocasse com a finalidade de criar o sindicato. Só que em Xapuri as dificuldades eram bem maiores. O padre local, José Carneiro de Lima, se opunha frontalmente ao sindicato. Logo ao chegar fiz algumas reuniões nos seringais. No entanto, ao passar na sede do município, fui detido pela polícia. Na cidade o padre já havia me denunciado aos órgãos de segurança, como seringueiro agitador e subversivo. Passei mais de duas horas depondo na delegacia de polícia, sem saber do que se tratava.
 
A aliança da Igreja local, através do padre José, com os fazendeiros e seringalistas criou muitos obstáculos ao movimento dos seringueiros em Xapuri. O trabalho de organização teve que ser mais devagar. Convencer o trabalhador que o padre era bonzinho, mas estava do lado do patrão não foi fácil.
 
No ano de 1977, o bispo Dom Moacyr Grechi, informado que a paróquia de Xapuri estava contrariando as linhas do trabalho pastoral da Igreja, com relação à situação do campo, mandou para o município os padres Otávio Destro e Cláudio Avallone. Esses padres chegaram com a missão de mudar, mas aí se travou uma guerra muito intensa com o pároco local. Padre José tentou jogar toda a classe média da cidade, autoridades, polícia, juiz e políticos contra os religiosos recém-chegados. Com a mediação do bispo a coisa foi pouco a pouco mudando. Eu me engajei na organização das comunidades eclesiais de base, e ao mesmo tempo fazia o trabalho sindical. No começo do ano de 1977 realizamos o curso de formação sindical em Xapuri. Não pude participar da diretoria, tinha um mandato de vereador, mas pude influenciar na composição da diretoria".
 
Um encontro inusitado: Che Guevara
 
"Naquele momento se falava no Guevara, mas eu não conhecia. Nunca havia visto seu retrato nos jornais, até porque não tinha nem revistas ou jornais no seringal. Tinha ouvido seu nome através da Rádio Central de Moscou, não me recordo bem o ano, creio ter sido nos meados de 65 ou 66, eu estava caminhando do seringal para a cidade. As pessoas costumavam fazer longas caminhadas pela Br-317, na estrada velha, em direção a Brasiléia ou a Xapuri. Passava muita gente. Eu estava cansado e parei no bar, no entroncamento, a 12 quilômetros de Xapuri. Naquele instante chegou um cidadão vindo das bandas de Rio Branco. Demonstrava ser uma pessoa muito educada, encostou-se no bar e puxou conversa comigo e com outros que estavam próximos. Falou que tinha interesse em conhecer a selva amazônica, principalmente os seringais e a selva boliviana. Indagou se eu era seringueiro, respondi que sim e já há muitos anos. Perguntou se não gostaria de acompanhá-lo até os seringais da Bolívia, pois não tinha costume de caminhar na selva. Precisava de uma pessoa que conhecesse os varadouros e o levasse na direção da fronteira. Dava para identificar que não era brasileiro, misturava um pouco de português com o espanhol.
 
Ele conduzia uma mochila, falou que tinha jóias e aproveitava a viagem pra vender e sobreviver durante o percurso. Não dispunha de muito dinheiro, mas perguntou quanto eu queria por dia para ir com ele até onde pudesse. Não aceitei o convite. Alguém me disse que era perigoso, podia ser um bandido. Não acreditei, mas não podia ir. Alguns meses depois, em Xapuri, passei diante da delegacia de polícia e um retrato me chamou a atenção. Havia um cartaz, nele anunciava-se um prêmio de 50 milhões de pesos a quem entregasse o terrorista Che Guevara, vivo ou morto. Dizia que Che se encontrava em território boliviano para organizar o terror na região. Fiquei abalado. Lembrei-me que havia visto e conversado com aquela pessoa no entroncamento. Nunca pude imaginar, pensei comigo mesmo, que aquela pessoa fosse um terrorista. Olhei várias vezes a fotografia. Não tive a curiosidade de pegar uma propaganda, um cartaz e guardar comigo. Tempos depois, ao ler o livro sobre a guerrilha do Che na Bolívia, reafirmei a convicção de que cruzei com ele. Posso afirmar com certeza, era o Che”.
 
No caminho da política e dos partidos
 
“Em 1976 eu voltei a Xapuri com a intenção de organizar a luta sindical. O pessoal da direção do MDB no município me procurou pra ser candidato a vereador. De repente ficou aquela confusão na minha cabeça. Estou no movimento sindical, iniciando agora, e de repente entro num processo político-eleitoral. Com muita insistência, alguns companheiros me aconselharam que seria bom tentar. Na época, o MDB tinha dificuldades de encontrar pessoas para se candidatarem pela legenda do partido. Aproveitei a campanha para divulgar a idéia do sindicato, e mesmo tentar ajudar na elevação da consciência política dos companheiros do partido. O MDB era o único partido de oposição. Suas bandeiras de luta contemplavam a reforma agrária e se colocavam contra o latifúndio. Mesmo sem dinheiro, sem apoio de qualquer deputado, sem sequer material de propaganda, fui eleito.
 
A desilusão com o MDB veio cedo. Eleito vereador continuei na luta contra a expulsão dos seringueiros. Participava nos empates contra os desmatamentos e derrubadas de seringueiras e castanheiras. Enfrentava os fazendeiros e seringalistas. Parece que essa forma de atuar não agradava a cúpula do MDB. Fui advertido pelo deputado Nabor Júnior pra ter muito cuidado. Era um político no início da carreira, não devia prescindir da ajuda dos fazendeiros, que podiam financiar minha campanha. Isso foi um duro golpe.
 
No ano de 1978 comecei a me entrosar com os intelectuais. Os estudantes me procuravam pra discutir novas idéias, outras formas de ação política. Nesse momento eu passei por uma fase meio complicada. Eu estava saindo da condição de seringueiro para me relacionar com intelectuais. Aí começa um processo diferente. Fui levado a conhecer grupos que atuavam na clandestinidade. Pessoas ligadas ao Partido Comunista do Brasil (PC do B). Comecei minha militância nesse partido, achando que nele tinha uma alternativa muito além do MDB. Não deixei o MDB pra não perder o mandato. Passei a vender o jornal Movimento. Depois a Tribuna Operária. Passei a ser sócio do Centro de Cultura Operária. Na medida em que fui me envolvendo veio a decepção e desilusão com o PC do B.
 
De repente comecei a simpatizar com as propostas do PT. Ingressei de cheio nele. Pelo PT fui candidato a deputado estadual em 1982. Voltei a ser candidato a prefeito de Xapuri em 1985, em 86 concorri de novo à Assembléia Legislativa Estadual. Não consegui eleger-me. Não tinha costume de conviver com tantos grupos divergentes. Na eleição de 1982 fiquei decepcionado. Companheiros que confiava, de repente descubro que estavam fazendo campanha contra mim. Temiam que, se fosse eleito, poderia levar o PT na direção do radicalismo; passei a ficar desconfiado.
 
Hoje a minha situação político-partidária está muito embananada. É preciso que os partidos de esquerda assumam um compromisso sério na defesa dos trabalhadores. Renunciassem aos interesses de grupos e fortalecessem o movimento e as lutas dos trabalhadores. No momento estou acreditando, estou apostando mesmo no movimento dos seringueiros, na resistência do trabalhador de forma organizada. No seu sindicato ou na sua entidade, no caso da Amazônia, no Conselho Nacional dos Seringueiros.
 
Mesmo assim eu acho que o PT ainda é a alternativa para os trabalhadores se fortalecerem, apesar das contradições e divergências internas”.
 
Da luta contra os desmatamentos à questão ecológica
 
“Havia uma pressão muito grande dos fazendeiros para derrubar a floresta. O sindicato de Brasiléia estava dando os primeiros passos, não tínhamos experiência da luta sindical. Não se tinha ainda encontrado uma forma de resistência contra as expulsões e os desmatamentos que estavam se generalizando na região. O sindicato não dispunha de recursos financeiros para manter a diretoria fora do trabalho no seringal. Criamos um sistema de rodízio. Ficava sempre um diretor na sede, enquanto os outros iam pra colocação cortar seringa. Era meu período de permanência no sindicato. Se me recordo bem era 10 de março, quando apareceram vários companheiros do Seringal Carmem. Estavam alarmados. Suas colocações estavam ameaçadas de ser destruídas. Havia mais de cem peões já dentro da floresta desmatando. A mata ia cair e os seringueiros seriam expulsos.
 
A situação era crítica. Pensamos um pouco e avaliamos algumas alternativas. A Justiça não merecia confiança, sempre ficava do lado do patrão. Contratar advogado não era fácil. Mesmo que o advogado fizesse alguma coisa pra impedir o desmatamento, a questão ia rolar na Justiça, enquanto isso a mata ia desaparecer, com ela as seringueiras e castanheiras. Decidimos usar nossa própria força. Mobilizamos de imediato uns 60 seringueiros, armados de espingarda e terçados, e cercamos o acampamento dos peões por três dias. Foi uma correria muito grande. As autoridades se movimentaram. Exército e polícia foram acionados. Naquele momento houve a primeira reunião, entre fazendeiros e seringueiros, para resolver a situação.
 
Nós não tínhamos ainda um rumo definido, a saída foi aceitar um acordo e garantir pelo menos um lote de terra. Em troca de suas colocações os seringueiros receberam alguns pedaços de terra. Não foi um bom negócio. Seringueiros transformados em agricultores da noite para o dia não deu certo. Pouco tempo depois venderam ou abandonaram os lotes e muitos deles foram cortar seringa na Bolívia.
 
Apesar da derrota, a partir daí foram dados os primeiros passos na definição de uma estratégia de luta mais abrangente. O movimento foi se generalizando e alcançando toda a região do vale do Acre. Tratava-se agora de impedir o desmatamento, defender as colocações. O empate estava consagrado como forma de luta".
 
A reforma agrária do seringueiro
 
"No início da luta tentamos assegurar a posse da terra com base no Estatuto da Terra que garantia o direito à posse desde que o posseiro trabalhasse a terra por mais de um ano e um dia. Enquadrar o seringueiro na condição de posseiro até que foi fácil. Nossa orientação era pra que ele botasse roçado, plantasse fruteiras, tivesse criação de pequenos animais. A Justiça considerava a posse a área de cultivo, o barraco e outras benfeitorias. As estradas de seringa nunca foram aceitas como benfeitorias ou áreas de posse efetiva. Por aí a coisa ficava difícil de ser resolvida. A gente podia garantir sua permanência na colocação, pelo menos uns cem hectares, mas não era a solução. O seringueiro tinha que ceder as estradas de seringa e com isso era um homem liquidado. A derrubada de seringueiras e castanheiras era inevitável e sem elas o trabalhador não sobreviveria. A garantia do lote não impedia o desmatamento.
 
A reforma agrária do INCRA, com base no Estatuto da Terra, não servia pro seringueiro. Passamos a lutar pela permanência na colocação com as estradas, com seu traçado original. Isso correspondia a 300 ou mais hectares. Mobilizamos o pessoal todo pra luta. Vamos empatar o desmatamento. No seringal Santa Fé, fomos à luta contra a derrubada da floresta. Houve muitas prisões, mais de 150. A questão da legalidade da coisa nos deixava em difícil situação. Os advogados da CONTAG nada podiam fazer".
 
A destruição da floresta
 
"Depois do assassinato de Wilson Pinheiro, presidente do sindicato de Brasiléia, Xapuri tornou-se o centro da resistência contra a destruição da floresta. O impacto da ação predatória dos fazendeiros foi dos mais violentos. Se a coisa continuasse com a mesma intensidade, o mesmo ritmo do início, só ia se ter no município pastagem e boi. Pra se ter uma idéia, aqui em Xapuri foram destruídas pelo fogo e pelas motosserras aproximadamente 180 mil árvores de seringueiras, 80 mil árvores de castanheiras e mais de 1 milhão e 200 mil árvores de outras espécies, dentre elas muita madeira de lei e plantas medicinais. Além disso, com as queimadas e derrubadas mataram os animais, acabaram com a caça. Levamos dois anos fazendo esse levantamento. Muitos seringueiros tiveram que sair pra cidade, viver como favelado. Defender a floresta era defender a nossa vida.
 
Uma das lutas mais longa e difícil foi travada com o grupo Bordon. Durou quase 10 anos. Durante esse tempo nós fizemos mais de 20 empates. Os proprietários tentaram me corromper. Ofereceram terra e cem cabeças de gado para que eu servisse de mediador entre a Bordon e os seringueiros. Não conseguiram. Em 1984, com a chancela de uma tal comissão de alto nível para questões de terra, criada pelo governo do PMDB, a Bordon propôs demarcar lotes de 300 até 500 hectares para cada seringueiro em troca de suas colocações. No entanto, decidimos não fazer nenhum acordo e continuar resistindo. Espalharam que o sindicato estava radicalizando. Não entendiam a natureza de nossa luta.
 
Durante o ano de 1984, a Bordon obteve do IBDF (Instituto Brasileiro de Defesa Florestal) autorização para desmatar área do seringueiro Antônio Cândido. Organizamos um empate que teve enorme repercussão na imprensa local e nacional. A luta foi intensa. A empresa conseguiu mandado judicial e a polícia militar foi para a área de conflito. Tiveram que manter a força militar durante todo o tempo do desmate. Cerca de 50 homens armados, comendo dois bois por dia e ganhando diárias. Ficou caríssimo pra Bordon. Alegaram um prejuízo grande, mesmo tendo feito a derrubada.
 
No ano de 1986 foi muito pior pra empresa. Agora a gente estava mais organizado. Contávamos com o apoio dos movimentos de defesa do meio ambiente, personalidades nacionais, estudantes, partidos políticos. Isso de certo modo assegurava a divulgação na imprensa. Não era ainda muito forte, mas já era diferente. A Bordon conseguira, com a cumplicidade do IBDF autorização para desmatar mil hectares. Os seringueiros empataram o desmate. Muita gente foi mobilizada e a resistência foi pra valer. Mesmo com o apoio do governo e a presença da polícia só conseguiram desmatar 300 hectares. Essa derrota levou a empresa a desinteressar-se pelo empreendimento, e se mandou de Xapuri.
 
Na medida em que o movimento ia crescendo passava a exigir novas alternativas de sobrevivência para o seringueiro. Era preciso melhorar as condições de renda, pra isso era preciso eliminar o intermediário, o marreteiro. Sem ele, sem a dependência do seringueiro ao marreteiro era possível se ter um melhor preço pra borracha e se comprar mercadorias mais em conta. A cooperativa foi a alternativa escolhida. A dificuldade maior é que o seringueiro era, na sua grande maioria, analfabeto. Daí surgiu o Projeto Seringueiro, com uma proposta de cooperativa e alfabetização da comunidade. Não se tratava apenas de um projeto de alfabetização, pra ensinar ler e escrever, mas pra conscientizar da necessidade da luta em defesa da floresta".
 
Do conselho de seringueiros à reserva extrativista
 
"Desde 1976 que a gente organizava movimentos de resistência contra os desmatamentos, a derrubada da floresta. Em Xapuri o movimento se fortaleceu, mas estava longe de conseguir conter a ação predatória dos fazendeiros e madeireiros. Se em Xapuri eles encontravam resistência, no resto do Acre não acontecia o mesmo. O governo do PMDB, instalado no Acre a partir de 1983, conseguiu cooptar a maioria das lideranças sindicais. Lideranças antes combativas se atrelaram ao esquema do PMDB. Esvaziaram o movimento. O sindicato de Xapuri não fez acordos espúrios, não traiu os seus compromissos com os trabalhadores e ficou isolado. Pra romper o isolamento tornou-se preciso buscar apoio diretamente nos seringueiros. Sem a mediação das velhas lideranças! Isso não só no Acre mas também na Amazônia como um todo. A gente tinha uma tradição de resistência contra o desmatamento, mas era necessário esclarecer melhor porque a gente queria defender a floresta. Dessa ansiedade, dessa necessidade de ampliar o movimento, surgiu a idéia do Encontro Nacional de Seringueiros. A adesão da antropóloga Mary Allegretti foi decisiva. Através dela foram feitos muitos contatos, daí resultando os recursos financeiros para patrocinar o evento. Além disso, Mary participou ativamente de toda a organização do evento.
 
O Primeiro Encontro Nacional de Seringueiros reuniu 130 seringueiros em Brasília. Muitos companheiros que se encontravam espalhados nos seringais, na floresta amazônica, fazendo ouvir sua voz por observadores nacionais e internacionais. Dessa reunião saiu a proposta de reserva extrativista. O ano de 1985 foi um marco fundamental na consolidação do movimento seringueiro, o encontro criou as condições para que o movimento fosse ampliado, recebesse novas adesões e passasse a mobilizar os povos da floresta.
 
No mês de janeiro uma comissão, de índios e seringueiros, foi à Brasília para levar suas reivindicações. Estava selada a união dos povos da floresta. Tornou-se indispensável definir melhor o que seria reserva extrativista e demonstrar a sua viabilidade econômica”.
 
A idéia de reserva extrativista
 
"Há uma necessidade grande e urgente de se evitar o desmatamento na Amazônia. Esse desmatamento ameaça os povos da floresta e mesmo a vida de todos os povos do planeta. Pensamos em uma alternativa de preservação sem tornar a Amazônia um santuário intocável, mas garantindo a sobrevivência com dignidade dos que vivem na floresta. As reservas extrativistas seriam terras da União com direito de usufruto para os que nelas habitam e trabalham. Os vários tipos de trabalhadores extrativistas, da juta, do babaçu, da borracha, castanha e outros produtos. Nessas reservas o trabalhador continuaria a explorar os recursos que antes explorava. Outros produtos, da infinidade de riquezas naturais que se encontra na mata, passariam a ser utilizados de maneira não predatória, tornando viáveis economicamente as reservas. Para isso seria necessário desenvolver estudos e pesquisas. Uma maior preocupação do governo, para que fosse utilizado de modo racional esse potencial sem destruir a floresta”.
 
O Seringal Cachoeira
 
"O seringal Cachoeira foi a primeira conquista do seringueiro de uma reserva extrativista. Ali se travou um luta decisiva. Os seringueiros acamparam na área mais de 30 dias. Fizeram piquetes. Decidiram que ali não entrariam mais fazendeiros. Eram mais de 400 homens e mulheres. Havia consciência de que se estava lutando contra assassinos sanguinários. Interesses poderosos. A delegacia do MIRAD era franca em dizer que o seringal não seria desapropriado. Conseguimos vencer. Cachoeira transformou-se numa conquista para os trabalhadores e num exemplo temido pelos grupos econômicos que querem destruir a Amazônia”.
 
De humilde seringueiro de Xapuri a personalidade respeitada internacionalmente
 
"Na primeira viagem ao exterior aproveitei para denunciar as políticas ditas de desenvolvimento para a Amazônia. Essas políticas eram financiadas pelos bancos internacionais, e só serviram para arruinar a vida de milhares de trabalhadores da região e contribuir para a devastação da floresta. Essas denúncias eu fiz em Miami, na Flórida, e depois no Congresso Americano em Washington. A repercussão foi muito grande, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa. No Brasil também se falou muito. A força de minha denúncia levou-me a receber o prêmio Global 500, da ONU, no dia 6 de julho em Londres.
 
No dia 21 de setembro recebi em Nova York a medalha da Sociedade para um Mundo Melhor. No dia 22 de setembro de 1967, tive a primeira audiência com os diretores do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Falei da ruína que haviam causado com a aprovação de determinados projetos, sem que as pessoas envolvidas fossem escutadas. A partir daí, me parece, nasceu a idéia de se criar uma comissão de ambientalistas para opinar sobre projetos destinados à Amazônia. O asfaltamento da BR-364 também foi discutido por mim na comissão de Operação de Verbas do Senado americano. Denunciamos a destruição da floresta, os impactos ambientais causados pelo asfaltamento da estrada no trecho Cuiabá - Porto Velho. Falei que se a intenção era levar o desenvolvimento para os povos daquela região, o que ocorreu foi exatamente o contrário. A estrada serviu para beneficiar meia dúzia de latifundiários e arruinar a vida de milhares de trabalhadores.
 
Essa minha presença no cenário internacional, o registro de minhas denúncias, a repercussão nos jornais americanos, a oportunidade de ser ouvido por banqueiros internacionais, autoridades, políticos, líderes ambientalistas, tudo isso me faz muito feliz. Acho que tenho, dentro de minhas limitações, contribuído para a defesa da Amazônia, dos seus trabalhadores. Nunca passou pela minha cabeça, dez anos atrás, chegar nos Estados Unidos com a missão de falar pelos povos da floresta. Isso foi o resultado do trabalho de muitos companheiros. Apesar de aparecer na história, não me sinto uma liderança; sinto-me igual a outro seringueiro que tenha contribuído para o fortalecimento do movimento. Apesar dos ataques, calúnias, acusações, eu me sinto feliz. Parte dos meus sonhos já foram realizados".
 
Dados biográficos
 
Francisco Alves Mendes Filho nasceu em 15 de dezembro de 1944, num seringal de Xapuri, Acre. Foi secretário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia; Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri; vereador do Município de Xapuri; membro do conselho Nacional dos Seringueiros, inclusive seu organizador e fundador; membro da Central Única dos Trabalhadores - CUT; militante do Partido dos Trabalhadores - PT, defensor ecológico da Amazônia. Em 1987, recebeu o Prêmio Global 500 da ONU, concedido a líderes que lutam pela preservação ambiental. Nesse mesmo ano recebeu a medalha da Sociedade para um Mundo Melhor, em Nova York. Em 1988 recebeu o título de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro. Chico Mendes foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988, ao sair para o quintal de sua casa em Xapuri.
 
Nota: o presente texto sofreu pequenas modificações que de certo modo não alteram a versão antes publicada.

4 comentários:

Anônimo disse...

Anônimo disse...
Caro Pedro Vicente:

Muito bons o texto e a entrevista. Vou encaminhá-las ao editor do Terra. Talvez seja melhor publicar a entrevista em novembro ou outubro, mais próximo dos 20 anos da morte de Chico Mendes.

Obrigado pela hospitalidade. Gostei muito do Acre e dos acreanos (os nativos e os adotados).

Um grande abraço,

Milton Hatoum
19 de Julho de 2008

Anônimo disse...

Raimundo disse...
Caro Pedro,


Sua pena continua límpida e profunda. É muito bom vê-lo em ação, observando os fatos e os analisando com riqueza detalhes. Com seu blog, nós ganhamos muito em qualidade e requinte. Parabéns!!!!!!!!!
17 de Julho de 2008

Anônimo disse...

Moacy Cirne disse...
Pedro, meu caro,
sente-se, aqui, a densidade e a pertinência de seu texto. Mas tenho uma observação a fazer: seria um blogue o espaço ideal para editar textos longos? Até mesmo os comentários que andei lendo são longos! De qualquer modo, vida LONGA a seu blogue. Em tempo: publiquei os meus 10 Mais do bangue-bangue nos comentários da postagem apropriada, do dia 4 de julho. Um abraço.
17 de Julho de 2008 08:05

Vivarte disse...

Que resgate maravilhoso da História do Acre, atraves dessa entrevista.
Pedro Vicente fez a entrevista com Chico,20 dias Antes do Assassinato de Chico.
O Assassinato de Chico Marcou profundamente minha existencia,não o conhecia,morava em Porto Velho.E Lamentável,e cheguei em Rio Branco no dia da morte de Chico.Dia 22 de dezembro de 1988. Eu minhas duas filhas e meu companheiro Dalmir Ferreira,minhas filhas Daniele tinha 5 anos e Gabriela 6 meses.