sábado, 11 de outubro de 2008

ARTIGOS - HÉLIO MELO - O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA EDÊNICA - DORIAN GRAY CALDAS


Em sua resenha sobre a arte de Hélio Melo, Pedro Vicente, escritor, sociólogo, amante da arte, diz: “chama a atenção sua técnica de combinar nanquim com tintas elaboradas com sumo extraído das folhas das árvores”. Este sumo das árvores não é só a cor, o sangue da terra que Thiago de Mello, o poeta soube cantar tão bem nos rios da Amazônia, mas é principalmente arte, a qual Hélio Melo se doa na sua obstinada criação do fazer e refazer o universo nativo da Amazônia, sua cosmogonia. Uma doação em forma de cor e traço de representação e denúncia de beleza. Aureano de Antimari, ele universalizou sua visão ao contato com os rios largos, rios profundos como os rios do poeta Langston Hughes. Observador da sociologia do povo, suas desventuras e as suas perplexidades. Soube Hélio Melo particularizar o Universal, redescobrir e tocar a alma edênica da floresta na sua intimidade mítica; a misteriosa pulsação de sua vida vegetal, registrando também a arbitrária espoliação de seu território sagrado. Mas assim mesmo, constituída em sua grandeza da força elementar do macro poder que emana da terra e a salva e a redime. Taine citado por Mário de Andrade diz: “que o ideal de um artista consiste em apresentar mais que os próprios objetos.” Esta “apresentação” da natureza na obra de Hélio Melo não poderia fugir a esta regra que a Amazônia exorciza o artista à capacidade multifacetada da interpretação panteista. A grande floresta com os seus atavios, o encontro das águas, os sortilégios dos abismos; as grandezas incomensuráveis. O artista jubilisa-se com os contrastes; aprisiona o fantástico, sonha a paz; o homem e a terra, a planta e a água, a morna fermentação das margens e as luminações entre os espaços verdes reverberados nos leitos dos rios; o trabalho manual dos artesãos, no ofício do dia-a-dia observado pela máscara impiedosa dos feitores. Hélio nos dá lições de sociologia na obstinada firmeza criativa de seu estilo inconfundível; na filigrana de seus vegetais, na luminosidade do chão e na largueza do céu. O trabalho do homem voltado para a terra, como aqueles camponeses de Milet; denúncia e reconstrução no tempo e no espaço dos valores morais e éticos do homem brasileiro em aguda observação da cosmovisão destes contrastes das grandezas naturais e das pequenezas humanas antologiadas na visão do artista; a um tempo despertado pela alma fechada do verde compacto da floresta em contraste com a possibilidade da fraterna liberdade criativa do artista.


Dorian Gray Caldas - Artista Plástico (pintor, escultor, gravador, desenhista); Poeta e Ensaista; Membro da Academia Norte-Riograndense de Letras; Sócio-efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do RN; Conselheiro do Conselho Estadual de Cultura do Rio G. Norte. Autor de vários livros de poesia, ensaios e álbuns de arte.

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