Alberto da Cunha Melo e Benedito da Cunha Melo (pai) |
1966. Sábado de Zé Pereira, 19 de fevereiro, pela
primeira vez, depois do Golpe Militar de 1964, eu voltava a Recife com o
propósito de rever os amigos mais próximos que deixei em Jaboatão, e que há
dois anos não tinha deles notícias. Não
era fácil chegar até eles, pois eu não podia ir a Jaboatão durante do dia, e a
noite somente se fosse de taxi depois das 22 horas; eram tempos difíceis e eu
temia ser preso. Fretei um taxi, visitei meus pais, e pedi-lhes que avisasse
Alberto da Cunha Melo que eu estava em Recife, e no dia 21, segunda feira de
carnaval, eu gostaria de vê-lo. Deixei meu endereço, uma pequena hospedaria que
ficava nas imediações do antigo terminal rodoviário de Recife, no cais de Santa
Rita, pertinho do Mercado de São José. No horário marcado, Alberto estava lá.
Disse-me que tinha ido avisar Jaci Bezerra Lima, e decerto ele se encontraria
conosco no Parque 13 de Maio, no
restaurante Torre de Londres. No recado que enviei pelos meus pais a
Alberto, eu não havia mencionado Jaci, pois este morava em Cavaleiro, e eu não
queria de modo algum causar esse incômodo ao amigo.
Chegamos bem antes que Jaci, e então fizemos o
possível para resgatar fatos e assuntos desse hiato de tempo em que deixamos por circunstâncias
alheias a nossa vontade de nos encontrar, coisa que fazíamos regularmente pelo
menos duas vezes durante a semana. Conversa longa, precisa e abrangente, pois
Alberto da Cunha Melo era de uma capacidade de observação e síntese
extraordinárias, e me passou com riqueza
de detalhes a descrição do clima de desconfiança, mesquinhez, dedurismo e
terror que grassava na cidade, ele, inclusive, pretendia logo que pudesse mudar
pra Recife. Falou-me da prisão da irmã de Zé Luis (1) e do namorado dela,
estudante da Faculdade de Direito. Das prisões de ferroviários, trabalhadores
rurais e de velhos comunistas, principalmente das torturas que sofreram no
DOPS. Manaçu, líder ferroviário, que havia ido a Moscou, foi várias vezes preso
e submetido a sessões de espancamento. Falou-me que eu, ao cair fora, escapei
de receber os mesmos maus tratos, pois a prática dos auditores do exército era
inicialmente interrogar, prender e logo depois entregar a vítima à sanha dos
policiais do DOPS, tradicional centro de torturas da Rua da Aurora em Recife.
Depois de esgotarmos
vários copos de chope, apareceu o poeta Jaci Bezerra Lima, e se desculpou pelo
atraso; não vinha acompanhado do Grão Mogol, Domingos Alexandre (2), que mesmo
morando em Cavaleiro andava meio desaparecido. Até então Alberto não havia me
falado de poesia. Eu havia também notado a ausência de sua inseparável bolsa de
mão, onde acumulava papeis e livros, e que sempre a conduzia debaixo do sovaco.
Jaci trouxe numa pequena pasta de papelão vários recortes e folhas de jornal e ainda poemas
datilografados em folhas de papel almaço tamanho ofício, e a poesia passou então a ser
pauta e ocupou daí por diante todo nosso tempo.
Jaci Bezerra Lima |
Alberto me falou que o
grupo, Jaci, ele, Zé Luis e Domingos, continuava a encontrar-se pra discutir
política e sobretudo literatura. Havia já uma boa produção acumulada de poemas,
mas infelizmente ainda não publicados. A novidade mais bem fresquinha era de que
César Leal (3), organizador da Página Literária do Diário de Pernambuco, havia
dedicado uma página quase inteirinha do suplemento do jornal, nesse domingo de
carnaval, 20 de fevereiro, aos poemas de Jaci, uma coroa de sonetos: Sonetos de
Arlequim a Colombina. Jaci havia deixado carta com seus poemas na portaria do
DP, endereçada à redação e, através da Coluna Informações, recebera o recado
para comparecer e identificar-se pessoalmente no jornal. Recentemente ao reler Geração 65. O livro dos trinta anos, organizado por Jaci Bezerra
Lima, eu encontrei o recado do DP, com data de 6 de janeiro, e aqui o reproduzo: Jaci Bezerra. Você nos enviou uma Coroa de
Sonetos. É um trabalho de grande valor. Sua carta vem com endereço de Jaboatão.
Pedimos-lhe o obséquio de confirmar o endereço. Também esperamos informações
adicionais sobre seus trabalhos de poesia. Estamos dispostos a conceder uma
página inteira aos seus versos. Identifique-se, pessoalmente, em nossa redação.
Jaci atendeu o chamado e juntamente com Alberto foram até César Leal, que nesse
primeiro encontro foi muito aprazível, cordial e amigo, revelando o interesse
de logo conhecer o grupo e a sua poesia, pois a mostra que ele tinha em mãos
era de boa qualidade. Em sua coluna datada de 6 de fevereiro, César Leal
noticiou o encontro: Além de Jaci
Bezerra, mais três bons poetas jovens moram em Jaboatão. Formam um grupo ativo,
que se reúne frequentemente para autocrítica e crítica recíproca de seus
próprios trabalhos. São eles Domingos Alexandre, Jaci Bezerra, José Luiz de
Almeida Melo e Alberto da Cunha Melo. José Luiz de Almeida Melo é exímio no
soneto. Segundo o próprio Jaci Bezerra, o mais forte do grupo é Alberto Cunha
Melo.
Na matéria ele anunciou a publicação próxima de dois poemas de Zé Luis, e isto
ocorreu no dia 13 de fevereiro. Revendo a matéria, eu registro aqui a visão
premonitória de César, ao vaticinar: ...
grupo
que parte daquela cidadezinha interiorana para conquistar rapidamente o país
inteiro. Quem duvidar, recorte o que afirmamos aqui agora. O grupo de
Jaboatão, decerto, foi o núcleo inicial da que veio a ser denominada pelo crítico Tadeu Rocha (4) de Geração 65, e os
dois poemas Sonetos da procura, de
Jaci Bezerra, publicados no dia 23 de janeiro de 1966, segundo Sebastião Vila
Nova (5), é o ponto de partida da história pública dessa geração,
constituída por poetas, ensaístas e ficcionistas
que alcançaram o reconhecimento e
consagração nacional. Ao publicar no Diário de Pernambuco os Sonetos da procura, de Jaci, escreveu
César Leal: Lançamos hoje aqui um jovem
poeta. Tem apenas vinte anos, e vive em Jaboatão. Os dois sonetos que
divulgamos não são os mais representativos de sua poesia. Infelizmente nossas
limitações de espaço não permitem dar uma medida exata de Jaci Bezerra. O poeta
é muito pobre, não possui livros: conhece os poetas brasileiros apenas através
do que se publica nos suplementos. Disseram-lhe que Geir Campos (6) havia
escrito, certa vez, uma ‘corôa de sonetos’. ‘O que é uma coroa de sonetos –
indagou ao informante, que nada também conhecia sobre teoria literária.
Contudo, deu-lhe algumas indicações. Foi o suficiente para que ele fizesse, com
rigorosa técnica e não menor intensidade lírica uma coroa de sonetos que, pela
unidade do tema e beleza das imagens, deixou para trás quase tudo o que no
gênero a ‘antiga musa canta’.
Poeta e crítico literário César Leal |
César não sabia, até
então, que Jaci e Alberto eram contumazes fuçadores de bibliotecas, leitores
fominhas e garimpeiros de livros onde quer que eles pudessem ser encontrados. Por sua vez,
contavam também com a biblioteca do poeta Benedito Cunha Melo (7),
pai de Alberto, e ainda com o pequeno acervo bibliográfico do Grêmio
Lítero-Recreativo de Jaboatão. Apesar da penúria em que viviam, nunca deixaram de
juntar seus escassos trocados para adquirir livros, pois eram leitores
compulsivos e vorazes. Vez por outra, eu comentei com Alberto e Jaci, a parte do
texto da nota de César Leal em que se
referia a Jaboatão como um cidadezinha
interiorana, e não era bem isso. Jaboatão era uma cidade muito politizada. Fora o núcleo central da rebelião comunista
de 1935 em Pernambuco, e elegeu, em 1947, o primeiro prefeito comunista no
Nordeste, por isso sua alcunha de moscouzinho, de repercussão nacional. Além
disso, para os limites de Pernambuco, à época, era uma cidade de base
industrial, pois em seu sítio rural e urbano estavam instaladas três grandes
usinas de açúcar e álcool, uma das maiores indústrias de papel papelão do
Brasil, a única fábrica de vidro do Nordeste, indústrias de transformação e
beneficiamento de alimentos, e a maior oficina ferroviária do Nordeste. Pela
proximidade com Recife, quase já coladinha naquele tempo, era uma cidade também
considerada dormitório, com significativa população operária e de trabalhadores
de diversas categorias profissionais que nela residiam e trabalhavam na
indústria e comércio da capital pernambucana.
A esquerda, em particular os comunistas, sempre teve uma boa inserção na
política local, e, na sua maioria, os eleitores de Jaboatão, quase sempre votou
nos candidatos da Frente de Recife nas eleições para o governo estadual e
presidência da república. Três anos antes desse encontro, precisamente em 1963,
nas eleições municipais, Jaboatão foi manchete nos jornais nacionais e no
noticiário que era veiculado nos cinemas, devido a decantada derrota dos
comunistas e da eleição do candidato de direita Vicente Carício (8), largamente
apoiado com recursos do IBAD, Instituto Brasileiro de Ação Democrática,
instituição financiada por grandes empresários brasileiros, multinacionais e
organizações dos EUA, que teve participação ativa no desfecho do golpe militar
de 1964. Jaboatão não era a cidade tão interiorana e ingênua quanto imaginava
nosso grande poeta César Leal.
Jaci nos mostrou todos os recortes e páginas do DP, entre quais estavam as que traziam publicados dois sonetos de Zé Luis e sua elogiada Coroa de Sonetos, com o título:
Sonetos de Arlequim a Colombina, estes publicados no dia 20 de fevereiro de
1966. Disse-lhes que estava trabalhando no Departamento Estadual de Imprensa,
órgão responsável pela edição do Diário Oficial do estado. Naquele momento
estava exercendo o cargo de supervisor das oficinas gráficas, que além de
material de expediente para o setor público editava livros e revistas. Sem
assumir maior compromisso, eu sugeri que era possível editar uma plaquete com os
sonetos publicados no DP. Para isso, eu teria que convencer a direção do DEI, e
arranjar um bom prefácio de autor local de reconhecido mérito intelectual. Logo
pensei em Nei Leandro de Castro (9), poeta já então conhecido por Jaci e
Alberto. Alberto sugeriu que se pusesse novo título para o sonhado projeto do pequeno
livrinho. Depois de uma longa discussão, ficamos com a proposta de Alberto:
Sonetos Inconhos, depois que ele nos convenceu ao explicar que aqueles poemas
eram como frutos que nascem acasalados, ligados entre si. Saímos do restaurante
Torre de Londres quase ao cair da tarde, nos despedimos e ficamos de nos
encontrar dentro de mais algum tempo, e devido a minha condição de exilado não
aprazamos datas. Eu tomaria a iniciativa de me comunicar com eles através de
meus pais.
João Cabral de Melo Neto |
Em Natal, eu mostrei os
sonetos ao poeta Jarbas Martins (10), que leu e disse-me que muito havia
gostado, comentou, contudo, que a poesia de Jaci revelava certa influência do
grande poeta pernambucano Carlos Pena Filho. Jarbas ainda me emprestou, e que a ele
não devolvi, o livro que reunia a poesia de Carlos Pena Filho (11): A Vertigem
Lúcida. Entreguei os sonetos pro Nei Leandro de Castro, que me devolveu sem
comentários. O poeta decerto não teve tempo, pois estava ora arrumando as malas
pra se mudar às pressas pro Rio de Janeiro.
Cabe ainda realçar que, na conversa com Alberto e Jaci, eles haviam me
falado de suas andanças e garimpagem por livros na biblioteca de Afogados, e que
nela tinham lido a obra de dois grandes poetas: João Cabral de Melo Neto e
Carlos Pena Filho, ambos pernambucanos; desde então ficaram entusiasmados com
os dois, mas tinham feito escolhas pessoais diferentes: Jaci identificou-se
mais com Carlos Pena Filho, e Alberto, por sua vez, com João Cabral. Logo que
voltei desta viagem e do encontro com os dois eu comprei a Antologia Poética de
João Cabral, primeira edição, de 1965, exemplar 2929, Editora do Autor, que até
hoje está em minha estante de poesia. Nesse ano de 1966, fiz contato tardio com
a obra desses dois grandes poetas: Carlos e João, e nunca mais consegui me
desligar deles. Não pude editar em Natal a coroa de sonetos, e os originais
desses poemas permaneceram muitos anos comigo, não me lembro de tê-los
devolvidos para Alberto sequer para Jaci.
1967. De novo no
carnaval, manhã de terça-feira, sete de fevereiro, eu reencontrava Alberto. Não
fora possível contatar a tempo Domingos Alexandre e Jaci e por isso eles não
compareceram ao ponto. O Bar Savoy, já então demonstrando claros sinais da
futura decadência, fora o local escolhido. Lembro-me então que a música que
mais ouvimos pelo som da eletrola do Savoy foi a marcha- rancho Porta
Estandarte, de Fernando Lona e Geraldo Vandré, na belíssima voz e interpretação de Vandré. Conversamos
muito sobre política, e também sobre os nossos destinos. Falei, então, que
havia retomado os contatos com o Partido Comunista Brasileiro, e que ora me
encontrava envolvido na reorganização do PCB no Rio Grande do Norte. Participava
do Cine Clube Tirol e que também vinha mantendo um bom relacionamento com
grupos de jovens intelectuais de Natal.
Jaci Bezerra, Sebastião Vila Nova, Alberto e Ângelo Monteiro |
Alberto, por sua vez,
falou-me que o grupo de Jaboatão havia rompido o silêncio quanto a
sua poesia e produção intelectual, e mais: que o grupo já tinha conquistado espaço nos
suplementos literários de Recife. Ele, por sua vez, havia publicado alguns dos seus poemas
em livro: Círculo Cósmico, pela Editora Universitária, graças o apoio e
mediação do poeta César Leal. Jaci, desde a publicação de sua coroa de sonetos,
vinha colaborando regularmente em suplementos literários da imprensa
pernambucana. Dentre em breve ele estaria publicando seus poemas em livro. Isso
veio a acontecer no ano de 1968, quando
seu livro de poemas Romances
foi editado também pela Editora da Universidade Federal de Pernambuco As duas da tarde,
daquela terça de carnaval, nos despedimos. Naquele ano de 1967, eu fui
estudar na escola de formação de quadros do movimento comunista internacional,
em Moscou, capital da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Somente
voltei a rever meus bons companheiros Alberto da Cunha Melo e Jaci Bezerra
cinco anos depois. Pouco tempo de separação para uma relação de amizade construída
em bases sólidas, resistente anos a fio a qualquer possível tormenta, tudo
seria decerto como antes o nosso próximo reencontro.
Recentemente, ao ler Linha d’água, reunião da poesia de Jaci
Bezerra, eu verifiquei que a coroa de sonetos: Sonetos de Arlequim a Colombina,
publicada no carnaval de 1966,
diferentemente do que aconteceu no Livro das Incandescências (1985),
onde a coroa aparece sob o título Livro do Amante, com todos sonetos
intitulados, cujos títulos compõem um poema de quinze versos rigorosamente
metrificados (decassílabo) e com rimas, ela reaparece no aludido livro com o título original de quando ora foi editada no suplemento literário
do Diário de Pernambuco em 1966. Este fato, fez-me lembrar de que em 1978 eu
adquiri no sebo Livraria do Messias: O
Pequeno Dicionário de Arte Poética, primeira edição de 1960, exemplar 3894,
da Editora Conquista, de autoria de Geir Campos, poeta que em sua Uma História da Poesia Brasileira,
Alexei Bueno (12) considera: o grande
virtuose do verso e poeta de índole rilkiana (...), e nele encontrei o verbete COROA DE SONETOS.
Geir Campos dela diz: Composição poética
em que o SONETO funciona como estrofe, aparecendo em número de quinze, dos
quais o último é formado pelos quatorze versos finais dos anteriores e estes
começam, cada qual, pelo último verso do anterior. Pouco tempo depois eu encontrei, no sebo Cruzeiro do Sul, o livro Coroa
de Sonetos de Geir Campos, edição de 1953, da Organização Simões, e pude constatar que sua coroa ali estava,
segundo o verbete do dicionário do próprio autor, incompleta, pois faltava o
soneto de número quinze como fecho. Não encontrei outra edição para conferir se
houve a devida correção do autor e, então, aqui eu confesso meu descuido quanto a busca, até porque
gosto muito desse poeta, sua poesia e prosa e ainda das muitas traduções que nos legou:
Brecht, Rilker, Kafka, Walt Whitman etc.
1997. Ao fazer um pouco
mais de trinta anos da publicação da coroa de sonetos de Jaci Bezerra Lima: Sonetos de Arlequim a Colombina, voltei
a ler no livro: Para uma teoria do verso,
de Sânzio de Azevedo (13), Edições da UFC, Fortaleza, 1997, a transcrição do
verbete do poeta Geir Campos sobre coroa de sonetos. Segundo Sânzio, esta
definição coincide com as de Péricles Eugênio da Silva Ramos, Leodegário A. de
Azevedo Filho, Raul Xavier e outros. Registra também que o poeta cearense
Otacílio Colares publicou em 1979: Entre
o bem e o mal, coroa de sonetos que segue rigorosamente o esquema, deixando
de rimas apenas o soneto final, como sempre ocorre. O autor não faz menção, certamente por desconhecer,
à coroa de sonetos de Jaci Bezerra Lima, cujo artesanato na tessitura dos poemas
exauriu o aspecto formal dessa forma da arte poética. O soneto quinze da coroa de
Jaci tem métrica e rimas perfeitas. Nada melhor repetir o que bem disse, à
época, ao referir-se a Jaci, o grande crítico literário César Leal: (...) com rigorosa técnica e não menor
intensidade lírica uma coroa de sonetos que, pela unidade do tema e beleza das
imagens, deixou para trás quase tudo o que no gênero a ‘antiga musa canta’.
O amigo Jaci certa vez
disse-me: - Pedro, a nossa produção
poética não consegue ultrapassar a fronteira da Paraíba, que é a mais próxima
de Recife. Pessimismo do poeta, pois a poesia dele e de Alberto chegaram
bem mais longe, apesar dos muitos obstáculos editoriais. Reproduzo aqui os 15 versos que a pretexto de
títulos encimam e até escondem a antes coroa de sonetos: Sonetos de Arlequim a
Colombina, publicados no seu livro: Livro
das Incandescências. Ao ordenar esses versos, eles passam a compor um novo poema, sem
título, um décimo sexto poema que seria
impróprio para coroa por não ser soneto e ainda ser excedente, sob o
mesmo tema: o amante, o amor e a amada. Estes versos que encimam a coroa de
sonetos aparecem devidamente ordenados no Livro Final, acrescido de mais um
verso, no referido Livro das Incandescências, completando a quarta estrofe de
quatro versos, com a devida pontuação: vírgulas, dois pontos e ponto final.
Vejamos:
Gravando minha dor numa
água-forte /esqueci no caderno a adolescência,/ queria, ao me gravar, vencer a
morte,/ir além dos limites da inocência.
A vida é uma saudade
sem retorno /iluminando o fundo da gravura:/mulher que me oferece o corpo morno,/visão
que me assedia e me tortura.
Alguns integrantes da Geração 65 (Alberto e Jaci estão na Foto) |
Último Livro publicado, em vida, por Alberto da Cunha Melo |
Os dois poetas têm uma
obra relativamente extensa, grosso modo, eu relaciono os livros que disponho
deles em minha estante de poesia. Alberto da Cunha Melo entre outros livros publicou:
Círculo Cósmico, Oração pelo poema, Noticiário, Poemas a mão livre, Poemas
anteriores, Clau, Meditação sob os lajedos, Um certo Jó Patriota (ensaio), Dois caminhos e uma oração, Yacala, Carne de
terceira, O cão de olhos amarelos, Um certo Louro do Pajeú (ensaio), Marco Zero
(crônicas) e Cantos de Contar. Por sua vez, Jaci Bezerra Lima entre outros
livros publicou: Romances, Lavradouro, A onda construída, Inventário do fundo
do poço, Os pastos de minhas lembranças (contos), Emílio Madeira, o Galo
(novela), Livro de Olinda, Auto da renovação (teatro), Livro das
Incandescências, Comarca da memória e Linha d’água (poesia reunida).
Notas: (1) José Luis de
Melo, poeta, médico( ortopedista), ex-deputado estadual, editor do jornal
alternativo Dia Virá, fez parte do grupo de Jaboatão, núcleo inicial da Geração
65; (2) Domingos Alexandre, advogado, poeta, fez parte do grupo de Jaboatão,
integrante da Geração 65, entre outros livros publicou: O avesso do avesso. (3)
César Leal, poeta, romancista, ensaísta e crítico literário, publicou mais de
vinte livros, poesia e ensaios, e o romance Minha amante em Leipzig; (4) Tadeu Rocha,
geógrafo, historiador, entre outros livros publicou: Modernismo &
regionalismo, Delmiro Gouveia: o pioneiro de Paulo Afonso, e A Geografia Moderna
em Pernambuco;(5) Sebastião Vila Nova, sociólogo, poeta, músico e ensaísta,
entre outros livros publicou: Teoria completa dos dias e das noites (poesia) e
Sociologia e Pós-sociologia em Gilberto Freyre; (6) Geir Campos, poeta,
dramaturgo, contista, ensaísta, tradutor, publicou entre outros livros: Pequeno
Dicionário de Arte Poética, Tarefa (poesia), O sonho de Calabar (teatro) e O
problema da tradução no teatro brasileiro; (7) Benedito da Cunha Melo, poeta e
ensaísta, publicou entre outros livros: Trovas e trovadores; (8) Vicente Carício, político de direita
filiado ao Partido Social Democrático (PSD), foi candidato e eleito prefeito de
Jaboatão nas eleições de 1963 com apoio do IBAD, o seu principal concorrente foi
A Frente Única de Jaboatão, com os candidatos comunistas Miltom Gomes e o vice
Joaquim Gonçalves; o poeta Alberto da Cunha Melo e eu fizemos parte da equipe
que redigiu o Programa de Governo da Frente; (9) Nei Leandro de Castro,
jornalista, poeta, ensaísta e romancista, entre outros livros publicou: As
pelejas de Ojuara – O homem que desafiou o diabo, Era uma vez Eros, As dunas
vermelhas e Universo e vocabulário do Grande Sertão; (10) Jarbas Martins,
professor universitário, poeta e ensaísta; (11) Carlos Pena Filho, poeta, entre
outros livros publicou: A vertigem lúcida e Livro geral. (12) Alexei Bueno,
poeta, ensaísta e historiador da poesia, entre outros livros publicou: Uma
história da Poesia brasileira, Antologia pornográfica: de Gregório de Mattos a
Glauco Mattoso e Poesia reunida; (13) Sânzio de Azevedo, poeta, ensaísta e
historiador de Literatura, entre outros livros publicou: Caminhos da poesia, A
Padaria Espiritual e Cantos da longa ausência.
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