quinta-feira, 10 de julho de 2008

ENTREVISTAS - José Soares Júnior entrevista PEDRO VICENTE COSTA SOBRINHO


Foto coletiva dos acadêmicos da ANL, na data dos seus 70 anos
 
IMORTAL, ENQUANTO DURE...

Pedro Vicente Costa Sobrinho é natural de Macau-RN. No entanto, na cidade em que nasceu, residiu por um curto período, pois parte de sua família deslocou-se para o estado de Pernambuco. No subúrbio de Recife e interior do estado residiu por dezoito anos, nas cidades de Jaboatão e Ribeirão, onde freqüentou os antigos cursos primário e ginasial.
 
Os primeiros contatos afetivos com o mundo do livro aconteceram aos sete anos, ao ter acesso à pequena biblioteca do seu primo João Costa. Entre os sete e onze anos, nela pôde ler romances de Michel Zevaco, Rafael Sabatini, Victor Hugo, Alexandre Dumas (pai e filho), Ponson du Terrail, Humberto de Campos, Coelho Neto, José de Alencar; obras psicografadas e da doutrina espírita, além de muita revista, quadrinhos, cinema e fotonovelas: Grande Hotel, Ilusão, Capricho etc. O alargamento do horizonte de leitura, contudo, tinha por obstáculo a não existência de bibliotecas escolares e públicas na cidade, e até mesmo de livrarias. Para superar esta carência, a compra de livros tinha que ser feita em Recife ou através do sistema de reembolso postal. Disse o escritor Pedro Vicente: “Na cidade de Ribeirão, consegui adquirir muitos livros através da Editora Gertum Carneiro, atualmente Ediouro, que mantinha um bom serviço de remessa através do correio. Lembro-me bem que recebi obras de Aluisio de Azevedo, Eça de Queiroz, Alencar, Bernardo Guimarães, Lima Barreto, Émile Zola, Júlio Ribeiro, entre outros. Até os quinze anos, não havia recebido orientação para a leitura. Lia por hábito tudo que me chegava às mãos, e assistia muitos filmes, especialmente, western".
 
Fato importante, em sua trajetória de formação intelectual, foi ter conhecido, em 1961, o operário Sebastião Ricardo e o poeta Alberto da Cunha Melo. Através do primeiro, comecei a ler a literatura socialista; Alberto, por sua vez, revelou-me o mundo da poesia e aproximou-me de jovens intelectuais que editava o “Dia Virá”, pequeno jornal de circulação mensal em Jaboatão. “Desse momento, guardo gratas recordações – disse Pedro Vicente -, pois, daí em diante, envolvi-me em duas frentes: os movimentos sociais e com o núcleo de jovens poetas e escritores que conviviam no Colégio Estadual e no jornal “Dia Virá”. Desse núcleo, participavam os poetas Alberto da Cunha Melo, Jaci Bezerra, Domingos Alexandre e José Luís de Melo, que vieram a constituir o grupo deflagrador do movimento que ficou conhecido como geração – 65, de marcante presença no cenário cultural de Pernambuco”.
 
Muitos foram os livros lidos, porém - disse Pedro Vicente – alguns deles marcaram profundamente sua formação, sem que isto, no entanto, tenha qualquer significado de avaliação crítica ou estética. “Posso afirmar que a Bíblia, que lia desde os nove anos, induzido por minha convivência com evangélicos; O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë; Judeu sem Dinheiro, de Michel Gold; e o Manifesto Comunista, que me fez aproximar e filiar-me ao Partido Comunista Brasileiro. Daí, acredito, a minha compulsão para as ciências sociais e, consequentemente, para a pesquisa e docência”.
 
No ano de 1964, em decorrência do golpe militar, foi compelido a sair de Recife e voltar ao Rio Grande do Norte. Tinha dezoito anos, e regressava à Natal já na condição de exilado, pois fugira da perseguição política em Pernambuco, motivada pela sua atuação nos movimentos estudantil e sindical, e militância no PCB .
 
O momento histórico era difícil; os duros anos da ditadura militar estavam iniciando. O ambiente político e cultural em Natal sofrera profunda alteração. O prefeito Djalma Maranhão havia sido preso e seu mandato cassado, juntamente com seu vice. Vários políticos tiveram o mesmo destino. Estudantes, jornalistas, professores, escritores, lideranças sindicais e trabalhadores foram perseguidos, muitos até foram presos. O clima de insegurança e desconfiança era dominante, contudo, a década de sessenta fora um período rico de acontecimentos políticos e culturais no Brasil e no mundo: a Nouvelle Vague, o cinema novo, a bossa nova, a revista Civilização Brasileira, o tropicalismo, a revolução cubana, Che Guevara, os Beatles, Woodstock, a guerra do Vietnam, o assassinato dos Kennedy, o Concílio Vaticano II, o Encontro de Medellín, Sartre, a atmosfera de Paris e Praga; em sessenta e oito, a passeata dos cem mil, e também a edição do AI-5 e o início da luta armada no Brasil, foram fatos dos mais marcantes.
 
Apesar dos atropelos e perseguições pouco a pouco, a cidade foi tomando ares de normalidade. O clima generalizado de desconfiança foi, de certo modo, contido, e certas pessoas do mundo intelectual e político voltaram a se reencontrar para conversar sobre política e arte.
 
A livraria Universitária foi um espaço importante, porque lá se podia adquirir livros e revistas que veiculavam idéias contrárias ao regime militar, e por meio da variedade e qualidade do seu acervo bibliográfico atraía pessoas interessadas em história, política, literatura e artes.
 
Outros núcleos foram destacados por Pedro Vicente: o Cineclube Tirol, que reunia jovens intelectuais apreciadores de cinema, tais como Moacy Cirne, Gilberto Stábile, Francisco Sobreira, Alderico Leandro, Falves, Franklin Capistrano, Bené Chaves, Juliano Siqueira, entre outros, tornou-se um centro irradiador de cultura e aglutinador de centenas de pessoas em suas sessões de arte; a Casa do Estudante, após a desarticulação das lideranças e entidades estudantis, tais como DCE, UEE e UPE e diretórios acadêmicos, passou a desempenhar papel decisivo na reorganização do movimento estudantil de oposição ao regime militar.
 
Diferentemente dos outros núcleos, acima citados, – disse Pedro Vicente- “no Grande Ponto, na recém-inaugurada Praça Kennedy, um grupo de intelectuais se reunia informalmente, porém com certa regularidade, para conversar e discutir idéias sobre política, cinema, música, dança, teatro e artes plásticas. Deste núcleo que se autodenominou “Geração das Cocadas”, participaram muitos jovens intelectuais que vieram a assumir posição de destaque no cenário político e cultural da cidade.” Na verdade, a “Geração das Cocadas”, a Casa do Estudante e o Cineclube Tirol interagiam; muitos dos seus personagens circulavam sem fronteiras no interior desses núcleos, que se constituíram, segundo Pedro Vicente, junto aos partidos de esquerda e o movimento estudantil, na oposição mais coerente e ativa contra a ditadura militar no Estado. Realça – Pedro Vicente – que deve muito a esses grupos, pois tiveram papel fundamental na sua formação intelectual. A sua participação e envolvimento, com eles, aconteceu logo que voltou a Natal, quando passou a trabalhar no Departamento Estadual de Imprensa e como revisor no jornal Tribuna do Norte.
 
Nos anos de sessenta e cinco a sessenta e nove, Pedro Vicente destacou sua presença no grupo que reorganizou o Partido Comunista no Rio Grande do Norte, vindo a participar de sua direção clandestina no Estado, bem como seu envolvimento com a fundação do MDB. E, também, sua ida a União Soviética, para estudar, em Moscou, no Instituto de Ciências Sociais, anexo do Comitê Central do PCUS.

Sua atuação, contudo, não se resumia apenas na atividade política. Ele participou de vários encontros e jornadas de cinema como membro fundador da Associação Brasileira de Documentaristas, do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro, e foi presidente da Federação Norte - Nordeste de Cineclubes. Dirigiu o Centro Acadêmico Josué da Castro, da Faculdade de Sociologia da Fundação José Augusto e presidiu a Associação dos Sociólogos do Rio Grande do Norte. Exerceu vários cargos de chefia no Departamento Estadual de Imprensa do RN. Foi superintendente da tipografia Relâmpago. Diretor da gráfica Manimbu, assessor cultural e Coordenador da Assessoria Especial da Fundação José Augusto.
 
No final dos anos setenta a vida de Pedro Vicente tomaria outro rumo. Em 1978 foi para o Acre, onde assumiu a Direção Executiva das Delegacias do SESC e do SENAC. Lá iniciou a carreira de professor do Ensino Superior, lecionando na Universidade Federal do Acre. Na época era Bacharel em Ciências Sociais, com área de concentração em Sociologia e Política, pela UFRN. Em seguida faria Especialização em Economia Rural (UFAC); Mestrado em Ciências Sociais (Sociologia Política) PUC-SP; e, depois, vindo a obter o título de doutor em Ciências da Comunicação, na USP. Ainda no Acre exerceu o cargo de vice-presidente da Associação de Docentes da Universidade Federal do Acre. Na UFAC, foi Diretor do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais e editor das revistas Cadernos UFAC: Ciência e Tecnologia, Estudos Sociais, e Estudos e Pesquisas. Além disso, foi livreiro, dono de restaurante, e correspondente do semanário Voz da Unidade.
 
Quando retornou ao Rio Grande do Norte em 1992, já como professor da UFRN no Departamento de Ciências Sociais, foi professor-orientador no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (mestrado e doutorado). Alguns anos depois foi chamado a exercer o cargo de Diretor da Editora Universitária, quando editou dezenas de livros e coordenou duas Feiras Nacionais de Livro do Rio Grande do Norte, e a Primeira Bienal Nacional do Livro do Rio Grande do Norte.
 
Sua atuação cultural, no entanto, se tornou muito ampla. Lançou sete livros, entre eles: Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental (1992); Reflexões sobre a desintegração do comunismo soviético (1995); Exercícios circunstanciais. Natal (1997); Comunicação alternativa e movimentos sociais na Amazônia Ocidental e Vozes do Nordeste (2002). Ver a relação completa no final do capítulo. Foi integrante do Conselho Municipal de Cultura; tornou-se sócio-efetivo da União Brasileira de Escritores (UBE) e Instituto Histórico e Geográfico do RN, e conselheiro do Conselho Estadual de Cultura do RN.
 
Sua entrada para Academia Norte-Rio-Grandense de Letras não é por acaso. No seu currículo constam inúmeras atividades, prêmios e funções na vida cultural do país. Como cinéfilo e crítico de cinema arrancou elogios de Ivan Junqueira da Academia Brasileira de Letras: “... gostei muito do que você escreveu sobre A festa de Babette e O professor aloprado (...) não conhecia esse seu talento, regozijo-me com a descoberta...”, afirmou o acadêmico. O professor Pedro Vicente também faz parte da comissão de editoração e conselhos editorais de diversas revistas culturais e científicas, regionais e nacionais, entre as quais: revista Cronos, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN; revista Estudos de Sociologia, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia, UNESP; revistas do Conselho Estadual de Cultura do RN, Crítica Marxista (SP), Novos Rumos (SP) e Política Democrática (DF).
 
Sua relação com a comunicação sempre esteve presente desde a infância, quando lia as revistas em quadrinhos; quando se tornou cineclubista e crítico de cinema; quando assumiu cargos de direção no Departamento Estadual de Imprensa do RN (1964-69); na Tipografia Relâmpago – Natal-RN (1971-72); na Editora e Gráfica Maninbu da Fundação José Augusto (1973-1974) e quando foi o editor responsável pelo Programa Editorial da Universidade Federal do Acre (1990-1991). Por causa disso, sua trajetória profissional e universitária o levou a fazer doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP.
 
Logo que conheceu a Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, na década de 70, e alguns dos seus acadêmicos, colocou como um dos seus objetivos vir a pertencer aos seus quadros. “Fui convidado pelo meu amigo Manuel Onofre Junior várias vezes para concorrer, porém não aceitei por achar que não era o momento oportuno, e que não tinha publicado ainda os livros necessários. Além disso, concorrer a uma vaga na Academia dependia também de bons e sólidos contatos com seus integrantes. O reconhecimento deles ou de alguns deles é fundamental”, declara Dr. Pedro Vicente.
 
Assim, no momento oportuno concorreu à cadeira 31, cujo patrono é o Padre Francisco de Brito Guerra, e tinha como primeiro ocupante o professor José Melquíades de Macedo, sendo eleito com 27 votos em 25/7/2002. A posse ocorreu no dia 26/8/2004. Em sua opinião, a ANL tem no decurso dos seus 70 anos, desde sua fundação em 1936, cumprido o seu papel de instituição cultural por excelência. “Parte do que houve e que há de mais importante no conjunto de intelectuais do Rio Grande do Norte, dela participa ou participou”. “O somatório da produção intelectual dos seus integrantes, científica e literária, com certeza, tem um peso cultural inestimável na história social e política do nosso estado, e por extensão do país”. Com sua obra reconhecida em todo país, Dr. Pedro Vicente colheu vários depoimentos importantes de sua obra, entre eles, os que seguem abaixo:


OPINIÕES SOBRE O AUTOR:

“... ademais de ser um empenho analítico, este livro é também um testemunho de solidariedade com uma terra e uma gente que, para Pedro Vicente, se converteram em sua terra e sua gente”.
José Paulo Netto – ensaísta e professor da UFRJ


“... concluí leitura detida e atenta do seu Capital e trabalho na Amazônia Ocidental. (...) é seguramente um marco na literatura sobre o assunto naquelas paragens do nosso país. (...) Enfim não me surpreende como não surpreende ninguém que conheça a sua inteligência aguda e a sua sensibilidade...”.
Sebastião Vilanova - professor, sociólogo e ensaísta

Recebi e li, com receptividade empática, os seus exímios Exercícios circunstanciais, escritos com vigor e rigor, texto fluente e capacidade de informar sem “fofocalísticas” ou pontificações profissionais.
Marcos de Farias Costa – poeta e ensaísta

“Continuo lendo o seu livro. (...) A variedade temática tem me agradado bastante. Embora a aridez dos assuntos políticos possa criar certas dificuldades para os poetas, o livro oferece outras iguarias bem mais palatáveis. É o caso, por exemplo, do excelente trabalho sobre o filme A festa de Babette”.
Francisco Carvalho – poeta e ensaísta

“Foi reconfortante constatar que o autor é bom. (...) Fico feliz por você e pelo Rio Grande do Norte (...) os artigos que têm o cinema como tema estão ótimos”.
Gilberto Stábile – crítico de cinema

“Ontem à noite me você me proporcionou bons momentos de leitura. (...) Obrigado Pedro, e obrigado pelo prazer da leitura que o seu livro Exercícios circunstanciais me proporcionou. Você é um belo ensaísta. Escreva mais, muito mais, dê vazão ao seu talento”.
Nei Leandro de Castro – poeta e romancista

“Através da leitura do seu trabalho (Comunicação alternativa e movimentos sociais na Amazônia Ocidental), tomei completo conhecimento dos trágicos acontecimentos que transformaram, há poucos anos, o Acre em um território sem Lei, objeto da “invasão” dos pecuaristas “paulistas”. Você traçou, com maestria, aqueles, conturbados tempos, motivo pelo qual lhe apresento os mais sinceros parabéns pelo seu trabalho literário.
Olavo de Medeiros Filho – historiador e ensaísta (da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras)

“O trabalho se destaca ainda pelo cuidado empírico de caracterizar os temas explorados naqueles periódicos e sua materialidade de imprensa – estilos textuais, imagens, etc. Alia-se a isso a preocupação erudita de debater uma bibliografia ampla e diversificada e o apelo à documentação” complementar de grande interesse... A solidez do texto está apoiada, por fim, na experiência anterior de pesquisa... e em seu convívio direto com muitos personagens agora estudados”.
Marcos Silva – historiador, ensaísta e professor da USP

“Muito obrigado pela sua permanente generosidade e por me permitir agora, mais do que antes, conhecê-lo, não mais citado em diversos textos - entre os quais o do nosso comum e querido amigo Ascendino Leite -, mas, sobretudo através da leitura que acabo de fazer de seus Exercícios circunstanciais. É um trabalho que me deu não poucos elementos para minha reflexão, me enriquecido de modo especial no belo capitulo sobre a Nicarágua e de outras partes como “Pistoleiros do entardecer”, um texto provocador desde o titulo, mas, mais do que especificamente este ou aquele argumento tão bem enfocado por você, o que mais me revelou foi a sua sensibilidade, a sua capacidade de associação e o resultado a que tanto universos levam a se pensar de forma clara e bela o Brasil e o mundo”.
Marco Lucchesi – Poeta, ensaísta e professor da UFRJ

“Este é provavelmente o mais representativo livro de Pedro Vicente. Nele, o leitor encontrará um pouco de cada uma das faces de um dos seres mais poligonais que conheço, e o conheço desde a adolescência. É uma das raras personalidades de corte renascentistas, a resistir à coercitiva voragem da especialização empobrecedora dos tempos atuais. Sociólogo, político e crítico de arte dos mais sérios já nascidos em solo nordestino, só recentemente dispôs-se a registrar em livro seus ensaios, onde revela justamente aquilo que destaca em Marx: o rigor analítico de seu pensamento. Pedro Vicente estaria completo neste livro se não faltasse uma de suas mais cativantes atuações, a de “agitador” cultural. Por onde passa, coloca toda a sua densa experiência a serviço das artes e dos livros. No Rio Grande do Norte, como ontem no Acre, em São Paulo, em Pernambuco, etc., seu espírito alegre e transbordando de energia está sempre levando adiante um projeto cultural. Numa entrevista para o jornal “O Galo”, de Natal, cheguei a chamá-lo de uma verdadeira “instituição cultural”.
Alberto da Cunha Melo – poeta e ensaísta

“Espero que nenhum leitor se iluda com o charme do autor no pórtico deste livro: circunstanciais ou não, escritos para atender ou não, o que este livro revela é uma inteligência superiormente crítica e superiormente ordenada. A inteligência de um estudioso íntimo da palavra: que tema a tema, assunto a assunto, nos torna cúmplices de tudo quanto escreve, o que é uma forma de dizer que nos torna cúmplices das mais diversas circunstâncias da vida”.
Jaci Bezerra Lima – poeta e ensaísta

“O novo livro de Pedro Vicente – Exercícios circunstanciais -- nos induz às concepções do mundo-labirinto, de Friedrich Durrenmatt, onde o homem identifica-se, de início, com o Minotauro, depois com suas vítimas e assim, sucessivamente, com Dédalo e com Teseu. As mudanças de temas e as variações de formas conduzem-nos, leitores, presos ao autor, por um fio imaginário de Ariadne, até nos encontrarmos perdidos, ou seja, perdidos no seu labirinto-mundo, nos encontramos em nós, em nossas entradas e saídas, em nossos espaços e tempos. Viajamos fora e dentro de nós mesmos. Viajamos parados diante de cada página, diante de cada folha que discrepa conforme as estações. Pedro é um poeta? É um filosofo? É um sócio-político? É um historiador poderíamos continuar indagando, se este livro não fosse uma resposta de cada indagação. Pedro Vicente – em Exercícios circunstanciais (que não são exercícios de circunstâncias) é um escritor múltiplo, versátil, “plural como o universo” – como diria Pessoa. Ele nos mostra a sua face, o seu verdadeiro rosto, sob mil máscaras gregas, porém a sua voz – personae – é sempre a mesma, a única, indisfarçável sob os mil disfarces. Ele inventa o seu ensaio como quem cria personagens. Ei-lo no palco, as luzes estão acesas, sob as suas mãos, alguém, com a boca às escâncaras, move-se em seu joelho. Pedro Vicente, o ventríloquo, maneja o seu boneco. Começa o espetáculo das palavras.
Marcus Accioly – poeta e ensaísta (da Academia Pernambucana de Letras)

“Adverte o autor no prefácio desse seu novo livro que os escritos nele reunidos não se baseiam em nenhum critério de unidade ou qualidade. Discordamos da afirmação. Se, aparentemente, os artigos tratam de assuntos diversos, isso não quer dizer que não formam uma unidade. Diríamos que, como caminhos convergentes, eles acabam por se encontrar numa qualidade que muito admiramos em Pedro Vicente Costa Sobrinho, certamente advinda de seu amplo leque de leituras: a abertura para as artes e ciências humanas. O autor transita com facilidade pelas artes plásticas, cinema, sociologia, política, gastronomia, literatura (as duas últimas não estão aí representadas) etc. e fornece ao leitor um painel – o painel contém uma unidade! – de um intelectual preso ao seu tempo e às circunstâncias. Mas a facilidade não quer dizer superficialidade. Pelo contrario, os artigos não são meros registros de impressão, mas reflexões suscitadas por elas e que serão certamente, provocantes”.
Enid Yatsuda – professora da UNICAMP e ensaísta

“Eu sou eu e minha circunstância”, ensinava Ortega y Gasset. Frase justa para entender esse livro e seu autor, alguém que não passou distraído pela vida. Chamo com atenção do leitor para o ensaio “Chico Mendes: a trajetória de uma liderança”, seguindo de uma entrevista com este herói popular mundialmente conhecido. Em meio à exploração comercial que se seguiu à morte de Chico Mendes, Pedro Vicente permaneceu fiel à sua amizade e avesso à badalação: a entrevista só veio a público anos depois, quando o assunto não era mais rentável, mas guardava ainda vivo todo o interesse político e teórico. A circunstância, agora, pode ser revivida com seriedade no que ela tem de essencial. Não tirar partido das circunstâncias momentâneas para permanecer fiel ao que elas guardam de verdadeiro e perene é prova de honestidade. Uma razão a mais para se deixar mergulhar nos combates teóricos travados por esse autor inquieto, movido por uma curiosidade universal.
Celso Frederico – professor da USP e ensaísta

“Pedro, Pedros... Nordestino/acreano Mário-andradiano, natalense por afinidades mutuas (não sei se é a cidade que tem mais razões para reinvidicá-lo, ou vice-versa) Pedro Vicente Costa Sobrinho só pode ser captado na sua pluralidade de interesses: sociólogo, ensaísta, gourmet e gastrônomo, cinéfilo e cineasta, enfim, historiador e pesquisador das inquietações do espírito e da carne, é sob a face do ensaísta, do sociólogo e do cinéfilo, de tudo isso junto, que ele aparece nestes Exercícios circunstanciais. Tenho uma preferência (não excludente dos demais ensaios) pelos escritos que ligam gastronomia & cinema, e pelo outro que trata do relato de Chico Mendes. A propósito já é tempo de Pedro Vicente nos dar seu livro de ensaios tratando não “en passant”, mas em profundidade, das relações do cinema com a literatura. Por enquanto, eles nos serviu só um couvert. Quando virá o prato principal? E a biografia definitiva de Chico Mendes!?...
Nelson Patriota – jornalista, tradutor e ensaísta

...sem Comunicação alternativa... acho que não se pode escrever mais nada sobre o Acre e vizinhança, sem contar com a importância de seu livro para uma História geral da Igreja no Brasil do século XX.
Roberto Mota – professor da UFPE, antropólogo e ensaísta

...li Comunicação alternativa... um estudo profundo. Erudito sob todos os pontos de vista. Os temas abordados valem, e como valem: Nós Irmãos..., Varadouro... irradiam a sua inteligência.
Enélio Petrovich – escritor, presidente do IHGRN (da Academia de Letras do RN)

...Comunicação alternativa... trata-se de lúcido trabalho que, originado de sua tese de doutoramento, em muito vem a contribuir para a compreensão da realidade brasileira, e a acreana em particular.
Fernando de Mello Freyre – escritor (da Academia Pernambucana de Letras)

...Você me parece uma criatura de trinta faces: professor, político, escritor, enologista, cordon-bleu, anfitrião, irreparável, botânico, editor e mais o escambau. E posso me gabar, com orgulho, de ter sido contemplado nesses ramos todos em que você se desdobra.
Francisco Dantas – romancista e ensaísta
 
Edição especial de Livro para comemorar os 70 anos da ANL


BIBLIOGRAFIA:


Livros do autor: Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental – São Paulo: Editora Cortez, 1992; Reflexões sobre a desintegração do comunismo soviético (org.). São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1995; Exercícios circunstanciais. Natal: Edições Coivara, 1997; Comunicação alternativa e movimentos sociais na Amazônia Ocidental. João Pessoa: Editora da Universidade Federal da Paraíba – EDUFPB, 2001; Ciências Sociais: desafios do milênio (org.) Natal: EDUFRN, 2001; Vozes do Nordeste (org.) Natal: EDUFRN, 2002; e Outras circunstâncias: João Pessoa: EDUFPB, 2002.

Participação em livros: Presidencialismo versus Parlamentarismo; Ponto de Vista; Democratização do Estado e Cidadania; Cascudo: guardião das nossas tradições; Culinária acreana; e Trajetória da luta camponesa na Amazônia.

Artigos e ensaios publicados: Jornais: Diário do Acre, Folha do Acre, Gazeta do Acre, Rio Branco (AC), Diário de Natal, O Poti, Tribuna do Norte (RN), e Voz da Unidade (SP); Revistas: Novos Rumos (SP), Fundação SEADE (SP), Cadernos UFAC(AC), Cronos e Odisséia (RN), Academia de Letras do RN e Continente Multicultural (PE).



Nota: Entrevista concedida ao jornalista José Soares Júnior, e que serviu de base para o texto biobibliográfico que foi publicado no livro “Academia Norte-Rio-Grandense de Letras – Ontem, Hoje e Sempre - 70 anos rumo à luz’, v. 2, p. 499, Natal (RN), 2007. Veja na secção Comentários, reportagem sobre o livro no Jornal de Hoje.

Um comentário:

Anônimo disse...

Entendendo a imortalidade acadêmica

José dedicou um ano e meio a pesquisa Livro revela a biografia e bibliografia dos 40 atuais ocupantes da Academia Norte-rio-grandense de Letras, em sete décadas de atividades.

Para muitos, as Academias de Letras ainda são verdadeiras incógnitas. Mas elas são, de fato, a representação cultural da sociedade, em suas diversas vertentes. As instituições brasileiras, inspiradas na Academia Francesa, elegem para suas cadeiras personalidades que marcaram suas épocas por seus trabalhos. A história do Brasil, e de seus respectivos Estados, é contada de maneira peculiar a partir dos perfis daqueles que fazem das Academias referências de conhecimento.

Durante este ano, a Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANRL) está comemorando os 70 anos de sua fundação. Para celebrar o aniversário, a entidade publicou uma revista, reformou sua sede, localizada na rua Mipibu, 443, no bairro de Petrópolis. Amanhã, a partir das 19h, na livraria Siciliano, acontece o lançamento do livro "Academia Norte-rio-grandense de Letras: 70 anos rumo à luz", de autoria do jornalista José Soares Júnior.

A obra, dividida em dois volumes, revela em suas 670 páginas a biografia e bibliografia dos 40 atuais ocupantes das cadeiras, inclusive quatro in memorian: Oswaldo Lamartine, Maria Eugênia, Dom Nivaldo Monte e Aluízio Alves. "Passei um ano e meio coletando os dados com cada um deles, fotografando alguns, apuração dos dados, escrevendo o texto, fazendo a revisão histórica e amadurecendo os textos que são apresentados no estilo dissertativo e seguidos de entrevistas ping-pong. Essa estrutura facilita a leitura, visto que os textos estão leves, com uma matéria jornalística", ressalta José Soares Júnior.

O jornalista explica que cada imortal é apresentado em, aproximadamente, vinte páginas nas quais foram condensadas a biografia, as principais obras e depoimentos de personalidades. "Esta obra é uma oportunidade das pessoas conhecerem o perfil de cada uma dessas personalidades que são representantes de diversas áreas do conhecimento científico e popular. O ecletismo dessas instituições segue o modelo francês que visa a preservação da cultura local", diz.

Além de conhecer o perfil dos imortais, o livro "Academia Norte-rio-grandense de Letras: 70 anos rumo à luz" apresenta aos leitores, na introdução escrita pelo acadêmico Manoel Onofre Júnior, um breve histórico da instituição potiguar, bem como explica a razão de ser da ANRL, como se tornar um membro dela, dentre outras informações.

Uma das questões importantes ressaltadas na obra é a questão da imortalidade. O ocupante da cadeira se torna um imortal através da relevância de sua obra, como acontece com Machado de Assis, pertencente à Academia Brasileira de Letras. Os livros escritos pelos acadêmicos são atemporais e representam uma cultura, seja ela a científica ou a popular, e permitem aos autores estar sempre entre os vivos, a partir do momento em que as páginas de suas obras são abertas e passadas, uma a uma. "Outro detalhe importante é a indicação dos patronos das cadeiras que não são acadêmicos. Isso acontece porque no ano de criação da ANRL, 1937, eles já tinham falecido ou eram personalidades de destaque na sociedade da época. A obra se deteve aos atuais acadêmicos, mas cita os ex-ocupantes das cadeiras", revela José Soares Júnior.

Os dois volumes do livro, que tem orelhas escritas pelo jornalista e acadêmico Vicente Serejo, prefácio do presidente da ANRL Diógenes da Cunha Lima e introdução de Manoel Onofre Jr, podem ser utilizados como obras de referências para aqueles que têm curiosidade de conhecer um pouco mais sobre as personalidades que fazem a história cultural do RN. "Além da orelha, prefácio e introdução que foram escritos por acadêmicos, o capítulo dedicado ao imortal Dom Nivaldo Monte, in memoriam, ocupante da cadeira nº 18, foi escrito por Diógenes da Cunha Lima que é o biógrafo oficial do acadêmico", comenta o jornalista.

José Soares Júnior trabalhou como repórter de cultura durante cinco anos, é assessor de imprensa da ANRL e foi professor universitário. Esse conhecimento prévio, ressalta o jornalista, o ajudou na construção deste projeto. "Na realização desta obra, para a qual fui contratado independente do meu trabalho como assessor da instituição, tive algumas surpresas agradáveis como o fato de ter conhecido a história potiguar a partir dos depoimentos de cada um dos acadêmicos e de suas peculiaridades. Outra coisa interessante foi o fato de constatar que mesmo sendo pessoas ocupantes de altos cargos, como desembargadores, magistrados, professores, jornalistas, pesquisadores, por exemplo, são simples em suas atitudes e se permitem oferecer uma visão abrangente da sociedade para ela mesma. Eles são verdadeiras fontes de conhecimento e me levaram a conhecer o RN de maneira diferente e é exatamente isso que tento passar ao leitor", enfatiza o autor.



Conheça os imortais:

Cadeira nº1 Cláudio Emerenciano
Cadeira nº2 Ernani Rosado Soares
Cadeira nº3 José de Anchieta
Cadeira nº4 Enélio Lima Petrovich
Cadeira nº5 Manoel Onofre Júnior
Cadeira nº6 João Batista Pinheiro
Cadeira nº7 Nestor dos Santos Lima
Cadeira nº8 Nilson Patriota
Cadeira nº9 Dorian Gray Caldas
Cadeira nº10 Paulo Macedo
Cadeira nº11 Paulo de Tarso Correia
Cadeira nº12 Oswaldo Lamartine
Cadeira nº13 Anna Maria Cascudo
Cadeira nº14 Armando Negreiros
Cadeira nº15 Francisco Fausto
Cadeira nº16 Maria Eugênia
Cadeira nº17 Aluízio Alves
Cadeira nº18 Dom Nivaldo Monte
Cadeira nº19 Murilo Melo Filho
Cadeira nº20 José Hermógenes
Cadeira nº21 Valério Mesquita
Cadeira nº22 Cônego José Mário
Cadeira nº23 Iaperi Soares
Cadeira nº24 Sônia Fernandes
Cadeira nº25 João Wilson Mendes
Cadeira nº26 Diógenes da Cunha Lima
Cadeira nº27 Vicente Serejo
Cadeira nº28 Jurandyr Navarro
Cadeira nº29 Itamar de Souza
Cadeira nº30 Diva Cunha
Cadeira nº31 Pedro Vicente Costa
Cadeira nº32 João Batista Cascudo
Cadeira nº33 Hypérides Lamartine
Cadeira nº34 Lenine Pinto
Cadeira nº35 Ticiano Duarte
Cadeira nº36 José Augusto Delgado
Cadeira nº37 Elder Heronildes
Cadeira nº38 América Rosado
Cadeira nº39 Raimundo Nonato
Cadeira nº40 Sanderson Negreiros


Reportagem publicada no Jornal de Hoje – Natal-Rio Grande do Norte
www.jornaldehoje.com.br