terça-feira, 24 de junho de 2008

CINEMA - PISTOLEIROS DO ENTARDECER - Pedro Vicente Costa Sobrinho



O crítico e historiador do cinema J. L. Rieupeyrout afirmou que o western é o cinema americano por excelência. Sem me preocupar em cair em pecado por tentação ou exagero, vou além disso: o western é o cinema por excelência.
A conquista do oeste americano, com toda sua rede de conflitos, envolvendo agricultores e fazendeiros, xerifes e pistoleiros, pobres e ricos, homens bons e maus, onde o amor, o ódio, a paixão, a ambição e o desejo de liberdade entrelaçam-se, fornecendo os ingredientes indispensáveis para a composição deste gênero, “desta forma moderna de epopéia”, como bem o definia André Bazin.
O gênero western nos deu algumas obras-primas do cinema. Dentre elas, cabe destacar: No Tempo das diligências, Paixão de fortes, Rastros de ódio e O Homem que matou o facínora, de John Ford; Onde começa o inferno, de Howard Hawks; Matar ou morrer, de Fred Zinnemann; Johnny Guitar, de Nicholas Ray; Os Brutos também amam (Shane), de George Stevens; Os imperdoáveis, de Clint Eastwood. Neste universo de reconhecidos clássicos não hesito em colocar “Pistoleiros do entardecer”, de Sam Peckinpah.
Peckinpah é um diretor conhecido pelo jorro de violência que transborda em seus filmes. O western “Meu ódio será tua herança” e o drama “Sob o domínio do medo” são exemplos marcantes, não faltando, todavia, em suas obras, momentos de intenso lirismo como em “Pat Garret and Billy the Kid”.
“Pistoleiros do entardecer” (Ride the High Country), filme de 1962, roteiro de N. B. Stone Jr., fotografia de Lucien Ballard e música de George Bassman, traz no elenco os inesquecíveis Randolph Scott e Joel McCrea, e introduz também a bela e sensual novata Mariete Hartley. O filme inicia com a entrada do velho homem da Lei, Steve Judd (McCrea), numa pequena cidade do Oeste. O clima é de festa, o que faz pensar numa recepção à sua chegada. Afinal, fora contratado pelo Banco de Hornitos para proteger e transportar um quarto de milhão de dólares em ouro. Equívoco, no entanto, logo desfeito, quando um abusado interlocutor o chama de velho e grita para que saia da rua.
Na cidade, Steve reencontra seu antigo assistente e amigo Gil Western (Scott), e o convida para, juntos com mais outro parceiro, realizarem a empreitada. A caminho de Coarse Gold, em busca do ouro, os dois velhos amigos têm como companhia o jovem impetuoso Hark Longtree (James Drury). A jornada parece tranqüila, mas a intenção de Gil é convencer Steve a roubar o ouro e, em última instância, deixá-lo de lado e dividir a grana com Hark. A inusitada presença da bela e sensual Elza (Hartley), desejosa de casar a qualquer preço para livrar-se da tutela castradora do pai, criou novas situações; desde o despertar da paixão desenfreada de Hark ao sentimento de proteção de Gil e Steve, cujo desfecho é o confronto com os desordeiros irmãos Hamlins.
Num enredo relativamente simples, Peckinpah revelou as diversas facetas do humano. As reminiscências de Gil e Steve dão a tônica de suas conversas. Seus medos, suas ambições, orgulho, frustrações amorosas, etc., estão presentes. Gil não se sente reconhecido por sua dedicação à causa da Lei, o mesmo atribui a Steve. Afinal, o que possuía o parceiro? Um cavalo, uma sela de prata, uma arma, uma bota furada, e, já um velho, continuava arriscando a vida em trabalho de aluguel. Para Steve, nada disso importava, “... tudo o que quero é poder entrar em casa de consciência limpa”. Sua retidão de caráter, auto-respeito e intransigência saem a tona ao não perdoar o ato de traição do amigo. Mesmo assim, não se revela maniqueísta, pois confessa: “não existe apenas o bem e o mal, há alguma coisa pelo meio”.
A fotografia corretíssima de Ballard, o cenário quase sempre natural, os grandes planos, a seqüência do duelo final são inesquecíveis. Um diálogo mais do que esclarecedor encerra o filme, resumindo-se assim: “tudo será como antes” (Gil); “eu sei, você apenas esqueceu por um momento o seu caráter” (Steve).

Um comentário:

Anônimo disse...

Prof. Pedro.

Seu blog era uma peça que faltava para completar as ações do CINEMACRE.
Muito boa sua entrevista.
Acrescentaria na sua ótima definição de cinema que é uma arte que inquieta.
Vou divulgá-la entre os nossos sócios.
A Propósito, o próximo filme é Jules e Jim, e penso em que o outro poderia ser a Festa de Babete.