De Pós-modernidade...
O projeto civilizatório da modernidade constituiu-se ao longo do percurso de quase quatro séculos. Nesse curso sinuoso, contraditório, prenhe de recuos, avanços, conflitos e incertezas, incorporou as notáveis realizações e valores nos campos da arte, literatura, ciência, filosofia, política, educação e religião deixados como herança pelo renascimento. A economia passou por profundas mudanças com a ampliação das relações comerciais entres os continentes e as revoluções industrial a agrícola: o capitalismo consolidou-se como modo de produção. A igreja católica, por sua vez, perdeu o domínio absoluto que detinha em relação à religião, à fé e à filosofia. A reforma protestante e a insurgência do pensamento cientifico colocaram em xeque seus dogmas e visão de mundo. Na esfera da política, as classes dominantes feudais foram alijadas do poder, e a burguesia emergiu como classe hegemônica. Para isso tornaram-se necessárias três grandes revoluções de cariz clássico: a inglesa, a francesa e a americana, complementadas pelas revoluções tardias que lhes sucederam. O iluminismo apresentou-se como uma ideologia síntese dessas transformações, consagrando o imperativo da razão e da ciência contra as velhas formas de pensar e investigar.
No século XIX duas concepções passaram a dominar o pensamento ocidental: o liberalismo como economia, política e ideologia da burguesia e o marxismo como política e ideologia do proletariado, que emergia como novo sujeito histórico. A partir daí o curso da modernidade vivenciou crises cíclicas da economia, grandes guerras continentais e mundiais, o holocausto, o gulag, a desintegração do socialismo real, a globalização, o surgimento da contra-reforma pós-moderna.
Neste livro, ora posto nas mãos do leitor pela Editora Sulina, o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, João Emanuel Evangelista, com rara sensibilidade e domínio no manuseio da teoria e com agudeza de analise, nos introduz no mundo da teoria social pós-moderna, colando as múltiplas, fragmentárias e diversas contribuições dos seus demiurgos, para construir um todo coerente e orgânico, arrolando e elegendo, como contraditório, os principais críticos dos princípios e postulações dos pós-modernos; Jügen Habermas, Fredric Jameson, David Harvey e Terry Eagleton. João Emanuel Evangelista vai além disso, pois resgata o percurso da recepção e do debate de idéias pós-modernas no Brasil: na mídia, intelectualidade e universidade, e elabora, de modo autônomo e competente, sua critica incisiva e radical a essa concepção.
Texto escrito para as orelhas do livro de João Emanuel Evangelista: Teoria Social Pós-Moderna – introdução crítica. Porto Alegre (RS): Sulina, 2007.
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