Que é que você vai ver em Rio Branco? Não vale a pena.
Foram estas as palavras que mais ouvi quando disse a alguns amigos que ia visitar a Capital do Acre.
Já agora, ao fim do primeiro dia de passeios pela cidade, não tenho dúvidas de que aqueles amigos estavam enganados. Rio Branco tem o que se ver, sim. À primeira vista pode até parecer desinteressante. É preciso vê-la sem preconceito. E então seus encantos vão surgindo, pouco a pouco.
É das pouquíssimas capitais brasileiras que ainda não cresceram na vertical. Felizmente. Outra particularidade digna de nota: não tem shopping center. Na verdade tem um, pequeno, mas, embora novo, está em decadência, oitenta por cento das lojas fechadas, e é como se não existisse. Apesar desta nota destoante, a cidade moderniza-se. No centro e noutros cantos por onde andei, há diversos melhoramentos, indicativos senão de prosperidade, pelo menos de certo zelo por parte da administração pública. Praças, de moderna concepção arquitetônica: prédios históricos restaurados - o Mercado Velho, por exemplo -; calçadões com inúmeros quiosques e lojas, comércio popular estendendo-se até as proximidades do Mercado Municipal e do Terminal Urbano. Outras obras também dão na vista: a moderníssima ponte para pedestres, no rio Acre; o Parque da Maternidade; o Teatro Plácido de Castro; o Museu da Borracha e o Memorial dos Autonomistas.
Vista aérea: Assembléia, Palácio do Governo, Catedral, Pça.Povos da Floresta. |
No Acre, esta palavra - autonomistas - tem um significado especial. É que, integrado o Acre ao Brasil, por volta de 1903, instituiu-se, posteriormente, o Território Federal do Acre, para decepção dos acreanos que desejavam o status de Estado para a sua terra. Começaram então as lutas autonomistas. Somente em 1962, aprovado Projeto de Lei de autoria do Deputado Federal José Guiomard dos Santos (ex-governador do Território), o Presidente João Goulart, com apoio do Primeiro-Ministro Tancredo Neves, sancionou a Lei que elevava o Território Federal do Acre à categoria de Estado.
Teatro Plácido de Castro |
Para perpetuar a memória da campanha autonomista e dos movimentos precursores, erigiu-se, numa praça, aos fundos do Palácio Rio Branco, o Memorial dos Autonomistas; bela edificação, em que, além do mausoléu de José Guiomard dos Santos e de sua esposa Lydia Hammes, encontra-se pequena mostra de objetos e cartazes referentes à campanha, espaço para exposições temporárias, galeria dos governadores do Estado, café e, em anexo, o Teatro Hélio Melo.
Mercado Velho |
O Palácio Rio Branco, antiga sede do governo estadual, construção de 1930, em estilo neoclássico, todo branco e cheio de enfeites, parece um gigantesco bolo de noiva. Essa impressão se acentua com o desenho das grades das portas e janelas, de gosto duvidoso e em total desacordo com as linhas do prédio.
Desde 2002, o palácio serve para realização de cerimônias oficiais; em algumas salas funciona pequeno museu sobre a História do Acre.
Diante do Palácio, a Praça dos Povos da Floresta, onde se destaca o monumento a Chico Mendes - herói e mártir.
Parque da Maternidade |
Visitando livraria em busca de edições locais e livros de interesse regional, um título me chamou a atenção: “Galvez, Imperador do Acre”, primeiro romance de Márcio Souza, e sua melhor obra, no meu modesto entender. Procurei em vão, por serem de edições esgotadas, outros títulos: “Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental” e “Comunicação Alternativa e Movimentos Sociais na Amazônia Ocidental”, de autoria do potiguar Pedro Vicente Costa Sobrinho; “Cismas” e “Acreanas”, de Juvenal Antunes, esse outro norte-rio-grandense acreanizado; “Amazônia - o papel decisivo do Mal.Taumaturgo de Azevedo na questão do Acre”, de autoria do meu primo e xará Manuel Onofre de Andrade.
Juvenal Antunes, como depois pude constatar, é mais cultuado no Acre do que em sua terra natal. O poeta de “Elogio da Preguiça” tem original monumento em sua honra, na calçada do prédio sede da Fundação Elias Mansour, antigo Hotel Madrid, onde ele morou: de bronze, em tamanho natural, sentado a uma mesa de bar, tal qual Fernando Pessoa diante do café “A Brasileira”, em Lisboa.
Escultura de Juvenal Antunes - defronte a Fundação Cultural |
Conheci no avião, quando ia para Rio Branco, o senador Tião Viana, líder político acreano, atual presidente do Senado Federal. Estava ele na poltrona ao meu lado. Quando já se anunciava a aterrissagem, pedi-lhe informação sobre a hora local. Três horas a menos do que em Brasília - respondeu-me afável. Conversamos ligeiramente. Pareceu-me ser verdadeiro gentleman, embora sem a afetação que, às vezes, o gentleman aparenta. É simples e espontâneo em sua polidez. Falou-me das especialidades gastronômicas do Acre, e aconselhou-me a degustar um pato no tucupi.
Não tive oportunidade de me deliciar com essa iguaria, mas consolei-me com uma caldeirada de tambaqui, que estava de se comer de joelhos...
Novembro de 2007.
Livro publicado pelo Sebo Vermelho. Natal(RN): mar. 2008.
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