segunda-feira, 13 de outubro de 2008

ARTIGO - TRIBUTO AO MEU AMIGO E POETA MAIOR ALBERTO DA CUNHA MELO - Pedro Vicente Costa Sobrinho

Alberto da Cunha Melo e Pedro Vicente


As coisas e fatos que marcaram de certo modo nossas vidas não são esquecidos facilmente. A esponja por mais que seja eficiente deixa sempre vestígios que se reaglomeram e se condensam em imagens; e, vez ou outra, sem que tenhamos feito muito esforço surgem essas imagens sob a forma de lembranças que nos levam a retroceder anos e anos atrás no tempo. E isso aconteceu recentemente comigo.

Estava eu dias atrás pensando em encontrar uma maneira de divulgar minha pequena e modesta obra ensaística, pois os livros que publiquei estão todos esgotados, e devido as suas limitações e peculiaridades não creio que venham ainda motivar qualquer interesse ao editor. Socorro e minha filha Mariana sugeriram, então, que fizesse um blog e colocasse a obra a disposição do público, inclusive com reprodução livre para quem viesse a ter qualquer interesse em usá-la. A minha caturrice com o computador é de domínio público. Todos os meus amigos que navegam pela internet: passam, recebem e repassam e-mails e outros animais de igual porte, estão sempre a me gozar. Assumo minha burrice e não me aproximo da tal máquina, até por medo que ela venha a me engolir e lançar-me no labirinto da realidade virtual. Se eu ficasse seguramente de fora, e elas, Socorro e Mariana, assumissem todos os encargos decorrentes da empreitada,  assim eu me disporia a usar o tal blog. Acordo feito, a partir daí passamos a pensar no nome, isso naturalmente ficou sob minha responsabilidade.

A escolha de título ou nome para qualquer peça ensaística que escrevi sempre me deu um trabalho dos diabos. Passo dias matutando. Mas ocorreu dessa última vez uma coisa estranha: divagava... divagava e só vinha o suposto título “Coisas da Vida”. Que coisa, me perguntei. Até porque o título vinha sempre associado ao nome e a lembrança do meu amigo maior Alberto da Cunha Melo. Recorri a minha biblioteca e me encontrei.

Há cerca de dez anos atrás, numa de minhas andanças com meu amigo Homero Costa para visitar livrarias, em Campina Grande, num pequeno sebo deparei-me com um exemplar de livro de autor que não me era desconhecido: Eliezer Figuerôa seu nome. Obra provinciana que tratava de assunto provinciano: uma história da imprensa de Jaboatão. Comprei pelo preço, e sobretudo por haver no livro certo registro que muito me interessava. Lá estava um capítulo dedicado ao “Dia Virá”; jornalzinho que um grupo de estudantes de vanguarda fazia em Jaboatão. Nesse grupo estavam Alberto da Cunha Melo, Zé Luis de Melo,  Paulo José da Silva etc.,  inclusive  eu.

Retirei o livro da estante, e consultei às páginas dedicadas ao “Dia Virá”. Nelas encontrei a chave do enigma. A recorrência ao título Coisas da Vida foi desvendada, pois ele estava referido a uma coluna assinada por um certo Joseph de la Rue, que no nanico “Dia Virá” era o pseudônimo de Alberto da Cunha Melo, personagem fortíssima presente durante toda minha breve história de vida e sobretudo na minha formação intelectual. Agora, havia mais uma razão para me fixar em “Coisas da Vida” e dar este título ao tal Blog, pois esse fato veio a dar corpo à matéria da memória.

É bom realçar que ao meu amigo Alberto eu devo a minha iniciação intelectual. Numa entrevista para José Soares Júnior, publicada sob a forma de livro comemorativo dos setenta anos da Academia Norte-Rio-grandense de Letras, afirmei que duas pessoas haviam sido importantes em minha trajetória intelectual e de vida: o operário Sebastião Ricardo e o poeta Alberto da Cunha Melo. Através do primeiro, eu comecei a ler a literatura socialista; Alberto, por sua vez, revelou-me o mundo da poesia e aproximou-me de jovens intelectuais, que vieram a constituir o grupo de Jaboatão, deflagrador do movimento que ficou conhecido como geração-65, de marcante presença no cenário cultural pernambucano.

Para Alberto da Cunha Melo, In memoriam, dedico este humilde blog que penso alimentar pelo resto de minha vida. Assim como Alberto denominou de poeta mentor a César Leal, eu o denomino de intelectual mentor de toda uma geração que teve o privilegio de tê-lo como amigo e orientador. Para Alberto, esse humilde tributo em louvor da amizade, que em vida cultivamos por quase meio século, e que permanecerá por toda minha breve existência graças ao meu culto a sua memória e a sua poesia. Alberto da Cunha Melo deixou os amigos de modo prematuro, e encantou-se no dia 13 de outubro de 2007. Sobre este poeta maior consulte o site: http://www.albertocmelo.com/ – e http://www.trilhasliterarias.com/ - http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/

Nenhum comentário: