Sobre o novo livro do poeta Fernando Monteiro: Vi uma foto de Anna Akhmátova, assim se expressaram os escritores Francisco Brennand e Jorge Tufic.
Vi uma foto de Anna ...
Francisco Brennand
“Vi uma foto de Anna...”, em hebraico. Não me surpreende a súbita inspiração de um professor da Universidade Bar-llan, em Israel, de traduzir o seu livro para o hebraico.
Aqui, entre os meus alfarrábios que formam um conjunto parecido com um diário, encontra-se uma personagem fictícia de um cozinheiro coreano que resolve escrever uma carta indecifrável. Tentei saber um pouco a respeito do sistema de escrita coreano e acabei descobrindo não haver um consenso entre os linguistas sobre a identidade desse idioma, frequentemente classificado como um “idioma isolado”. Sem explicação achei isso de uma nobreza tamanha devido ao fato de uma pessoa se expressar num idioma que jamais será universal. Não estou fazendo nenhuma digressão e vou direto ao assunto: o seu longo e admirável poema “Vi uma foto de Anna Akhmátova” ficará dentro da literatura brasileira de todos os tempos como um “idioma isolado”. Foi isso o que me ocorreu. Pode, inclusive, nem ser um elogio, mas o efeito substancial desses versos é de tal forma avassalante que, por natureza, tornará inevitável sua exclusão. Lidos, com ou sem atenção, eles são únicos e plurais. E estranhos, muito estranhos. Que lembranças invulgares, que associações ao mesmo tempo espirituosas e fisiológicas, como se estivéssemos diante de uma batalha sem tempo, de uma carnificina ímpar (e você dentro dela a vociferar, vez ou outra recordando a foto de Anna que também é o tempo). “O tempo que não passa porém cancela nossas pegadas nele.”
Diz você que é a sua visão do mundo. Em oitenta e cinco páginas você escreveu a história da humanidade. Pelo menos a que nós conhecemos, alguns de nós. Outros, jamais a conhecerão. Não pretendo ser um profeta fácil. Agora, de uma coisa estou certo, dentro de muito pouco tempo “Vi uma foto de Anna Akhmátova” será traduzido em diferentes idiomas, a começar significativamente pelo hebraico.
Todos os urros do Minotauro
Jorge Tufic
"O poema é longo, mas pode ser lido com o maior prazer estético por quem gosta de poesia, drama, teatro, cinema -- além da epopéia que se disfarça no enredo universal de Anna Akhmátova, cujo retrato nos olha de variadíssimos ângulos filosóficos.
Seu método de escrever, Fernando, é incrível. Parece entendido com a hora e a temperatura cósmica das altas esferas. E o fio de Ariadne se conduz por um modus poético de repetição original, o qual costura, afinal, todos os urros do Minotauro..."
Francisco Brennand é artista maior da escultura e pintura brasileira. Jorge Tufic é poeta, contista e ensaísta.
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