domingo, 25 de outubro de 2009

ARTIGO - A CABANAGEM REVISITADA - Pedro Vicente Costa Sobrinho



“Cabanagem, uma luta perdida...”, de autoria da pesquisadora Ítala Bezerra da Silveira, é o primeiro estudo que busca de modo exaustivo resgatar para a história a insurreição popular cabana, cuja importância e relevo não foram devidamente até agora reconhecidos pela historiografia brasileira.
 
O livro de Ítala é, sobretudo, o transbordar de uma paixão cultivada e curtida desde sua infância, vivida na Amazônia paraense. Os heróis cabanos e seus feitos, cultuados pela memória popular, tiveram suas estórias a ela contadas muitas vezes sob a forma de lendas imortalizadoras do fato histórico e dos seus personagens.
 
Ítala alimentou durante longos anos esse projeto. A realização do curso de mestrado em política na UFMG criou as condições. O resultado conta no livro que ora, oportunamente, foi editado pela Secretaria da Cultura do Pará, neste quase fim de ano de l994.
 
O texto de Ítala não se trata de mais uma dissertação de mestrado, construída segundo os cânones rígidos da academia, mas uma narrativa esclarecedora, forte, apaixonada e com rigor na informação. A revisita ao objeto de paixão na infância nos legou uma obra que já nasceu clássica, tornando-se, sem dúvida, referência obrigatória a quem quer que investigue os movimentos sociais na Amazônia, especialmente no Pará. Um texto que já nasceu para ser um livro.
 
No diálogo que a autora instaurou com todos ou quase todos estudiosos que se referiram ao assunto, até mesmo aqueles que fizeram tabula rasa da Cabanagem, há uma demonstração cabal da sua erudição. Cabe frisar que essa erudição não é fruto exclusivo de sua lide acadêmica, mas de leituras e estudos sérios realizados ao longo dos anos sobre a história deste País. Ao dialogar com a história e seus narradores, Ítala revelou suas lacunas, realçou seus acertos, criticou suas erronias, identificou seus vínculos políticos e compromissos de classe, que muitas vezes os levaram a ocultar ou denegrir os fatos, ou mesmo exaltar sem profundidade de análise, reduzindo seus estudos a mera especulação ou indicativo para projeto de pesquisa futuro.
 
Ao descrever os antecedentes e a contextualização histórica na qual ocorreu o movimento cabano, Ítala esboçou uma quase história social e política do Pará, acenando na direção de um novo projeto, pois suponho que os documentos que resgatou e a bibliografia compulsada dêem asas para novos vôos.
 
No texto, Ítala reconstituiu o levante cabano com uma enorme riqueza de detalhes, sem, no entanto, se comprometer com o mero factualismo. O rigor analítico é predominante. Os ideais de liberdade que nortearam as ações dos cabanos, a natureza popular do movimento, o compromisso com a unidade do império e conseqüentemente com a jovem Nação brasileira foram realçados. Através dos atos de suas lideranças como Pedro Vinagre, Antônio Vinagre, Eduardo Angelim e outros revelados no livro, é possível avaliar a força e dignidade dos ideais que moveram os cabanos. A Cabanagem agora revisitada não deve, a partir do livro de Ítala, ser considerada uma luta perdida, pois os ideais que a motivaram sempre serão fontes de inspiração para os combatentes pela liberdade.



Publicado no jornal “Diário de Natal”, dezembro, 1994.

2 comentários:

teste disse...

Olá, gostaria de ter acesso ao livro da Ítala Bezerra, mas encontrei apenas na biblioteca da UFMG. Sabe onde posso encontrar? Tem algum contato com a autora?
Moro em Campinas-SP.

Será que pode me ajudar?

meu e-mail é brocoliz@yahoo.com.br

Obrigada!

Lais

Clo disse...

A Cabanagem é uma das revoluções mais importante que ocorrreu no Brasil, entretanto a mesma tem pouca relevância para a maioria dos pesquisadores, professores e alunos do curso de História, creio que querem esquecer este fato tâo importante da nossa História, sendo este foi o único movimento ou relovuçâo como Di Paolo intitula em seu livro:Cabanagem, A Revolução da Amazônia, que o povo chegou oa poder de fato, nem um outro movimento ou revolução consegui fazer o que os cabanos conseguiram. É a História vista de baixo para cima.
Clo Tavares.