domingo, 29 de junho de 2008

CINEMA - PROFESSOR ALOPRADO - Pedro Vicente Costa Sobrinho


O cinema americano exerceu e ainda detém o domínio absoluto sobre o gênero cômico, mesmo sem o brilho de tempos passados. A trajetória desse gênero fílmico, nos Estados Unidos, incorporou no seu percurso a melhor tradição do burlesco no cinema e evoluiu até a conhecida e respeitada comédia americana.
No âmbito da comédia americana Jerry Lewis será sempre presença destacada, como ator e diretor, sobretudo nesse filme PrAofessor Aloprado.
Professor Aloprado é uma paródia no melhor estilo cômico do romance “O Estranho Caso do Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, do escritor inglês Robert Louis Stevenson. O romance teve uma versão famosa para o cinema com o título de O Médico e o Monstro, direção de Rouben Mamoulian (1931). O enredo tem como fio condutor a relação entre o bem e o mal, conflito que coabita no recôndito da criatura humana. O desfecho é trágico: a personalidade má, Mr. Hyde (o instinto), domina Dr. Jekyll (a razão), que ao despertar as forças adormecidas no seu interior não conseguiu contê-las.
No Professor Aloprado, Jerry Lewis narra a história do feio e desajeitado prof. Julius Kelp (o próprio Lewis), que, depois da fracassada tentativa de superação de sua inferioridade física por meio de exercícios musculares, decidiu-se a resolver o problema através da química, ciência que conhecia e dominava.
Kelp realiza suas experiências, inicialmente movido pela vingança contra um desafeto, e depois pela curiosidade e intuição científica, faz um mergulho no insondável mundo da interioridade. O resultado da experiência é a metamorfose do prof. Julius Kelp (feio, frágil, tímido e desajeitado), no surpreendente Buddy Love (bonito, forte, extrovertido e versátil), além de egoísta, grosseiro e de um narcisismo sem limites.
A segunda personalidade que aflora do interior do prof. Kelp vai também cumprir o papel de anjo vingador. Os seus desafetos efetivos e potenciais passam a ser castigados, ofendidos e humilhados. Dentre eles, garçons, público e freqüentadores do mal afamado “Purple Pit”, e também o sisudo, quadrado e repressor Dr. Warfield.
A cisão das personalidades do prof. Kelp (Kelp e Buddy Love), no entanto, reencontra sua unidade ou fusão no amor a Stella Purdy (Stella Stevens), sua jovem e bonita aluna, sublimação de suas fantasias sexuais e móvel indutor de suas diabólicas experiências.
O filme tem momentos especiais. As cenas em que o sisudo Dr. Warfield (chefe de Kelp), tem seu ego massageado pelo insinuante Buddy Love, e expõe-se ao ridículo ao interpretar um trecho do Hamlet com um chapéu furado como coroa, guarda-chuvas como espada, de cuecas e tendo como palco sua mesa de trabalho. A seqüência final, na qual Buddy em público metamorfoseou-se no prof. Kelp, que ao retomar o domínio sobre si mesmo confessou os descaminhos de sua experiência, revela a força dramática do ator Jerry Lewis, e a condução segura da narrativa fílmica.
Todos os ingredientes constitutivos do gênero cômico estão presentes e muito bem explorados. As “gags” (humor estilizado e reflexivo); a sátira de costumes e situações; as piadas engraçadas, o horror e o humor negro, não faltando o apelo aos recursos do velho e inesgotável pastelão.
Professor Aloprado baseia-se no romance de Stevenson, mas pode ser também considerado um remake do filme O Médico e o Monstro, de Mamoulian, numa versão moderna, patética, porém nem tanto, com glamour e happy end.

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