quinta-feira, 4 de setembro de 2008

LIVROS. PREFÁCIO AO LIVRO "REFLEXÕES SOBRE A DESINTEGRAÇÃO DO COMUNISMO SOVIÉTICO" - Org. por Pedro Vicente Costa Sobrinho

Comunismo... Adeus!

As reformas anunciadas na URSS nos anos oitenta, que ficaram conhecidas pelo mundo sob a denominação de perestroika e glasnost, causaram profundas transformações estruturais em sua sociedade e em sua política. O socialismo soviético de economia estatal, de AAplanejamento centralizado, de milhões de funcionários e partido único revelou ao mAAundo sua face real marcada pela ineficiência, pelos privilégios de uma casta burocrática que a seu modo privatizara o estado, e, sobretudo, pela ausência de liberdAades públicas: civis e políticas.

A falência do modelo soviético repercutiu de forma avassaladora em todo Leste, pondo em colapso o sistema do socialismo real existente na Europa, não poupando sequer os países que se situavam à margem do bloco hegemônico: Iugoslávia e Albânia.

A partir dos três últimos meses de 1989, praticamente esgotaram-se os movimentos de auto-reforma do comunismo. Em pouco mais de dois anos, na quase totalidade dos países do Leste europeu, os velhos partidos comunistas foram alijados do poder. AlAAguns deles metamorfosearam-se em novas siglas, outros simplesmente foram varridos do cenário político. Multidões antes bem comportadas destruíram símbolos, afastaram governos e demoliram o que parecia um monólito, pondo em evidência a frase de Marx: “Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado...”.

A rápida desintegração do sistema comunista de matriz soviética deixou chocados e atônitos intelectuais de todos os matizes e vertentes teóricas: conservadores, liberais e marxistas. Mas, principalmente, como afirmou Eric Hobsbawn: “Aqueles de nós que pensávamos que a Revolução de Outubro era a porta para o futuro da história mundial”. Ao contrário, o fim da história foi anunciado.

As expectativas e indagações são muitas e desencontradas diante desse quadro de tremor e temor. Os velhos paradigmas que serviam de norte como referencial teórico para reflexão e análise da sociedade contemporânea foram postos sob suspeita. Nesse ambiente conturbado, qualquer afirmação quanto à nova ordem internacional emergente do colapso total do Leste e do comunismo asiático é mero exercício de futurologia.

Neste vivido instante rico de paradoxos, marcado pelo desespero, insegurança, ansiedade e também regozijos, novas e originais reflexões sobre o passado, o presente e o destino dos homens tornaram-se urgentes, pois, como afirmou Norberto Bobbio: “O comunismo histórico fracassou, não nego. Mas os problemas permanecem: os mesmos problemas para os quais a utopia comunista chamou a atenção, e que garantiu serem solucionáveis”.

Sob a forma de livro, os textos aqui reunidos e colocados à disposição do leitor expressam o pensamento de intelectuais de cariz marxista, que, com certa originalidade e risco, buscam examinar e refletir sobre a desintegração do comunismo de modelo soviético. E também eles em seus textos se propõem avaliar as inevitáveis conseqüências deste fracasso com relação aos fundamentos teóricos que inspirou, durante quase dois séculos, o socialismo e os socialistas.
Reflexões sobre a desintegração do comunismo soviético. Pedro Vicente Costa Sobrinho. São Paulo: Editora ALFA-OMEGA, 91 p., 1995.loja.alfaomega.com.br

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