Desde a última
quarta-feira até meados desta semana, toda a obra literária de Bartolomeu
Correia de Melo está em exibição na Cooperativa do Campus Universitário da
UFRN, dentro das comemorações do segundo ano de falecimento desse escritor,
evento que mereceu, por essa razão, a denominação de Semana Bartolomeu Correia
de Melo.
Para oficializar a
celebração, a professora Verônica Melo, viúva do escritor, autografou o livro
“Musa Cafuza”, recém-lançado pela Editora Bagaço, reunindo toda a poesia que
Bartola foi produzindo a conta-gotas ao longo de mais de três décadas, em
contraponto a sua prosa caudalosa e vibrante que lhe ocupou as horas de ócio de
que dispôs numa existência devotada ao magistério na área da química.
Falta agora, para
fechar a Coleção Bartolomeu Correia de Melo, o livro “Rosa Verde Amarelou”,
enfeixando toda a sua produção na área do conto, vale dizer, “Tempo de
Estórias”, “Estórias Quase Cruas” e “Lugar de Estórias”, enriquecido ainda de
parte de sua fortuna crítica. Em fase adiantada de realização, a obra deverá
ser lançada ainda este ano, o que ensejará certamente nova comemoração entre
seus muitos leitores daqui e de outras localidades.
Um público pequeno mas
representativo de instituições culturais como a Academia Norte-rio-grandense de
Letras, a UBE/RN e o Conselho Estadual de Cultura prestigiou a abertura da
Semana Bartolomeu Correia de Melo na manhã da última quarta-feira, na
Cooperativa do Campus da UFRN. Por essa razão, constituiu motivo de grande
perplexidade por parte dos organizadores da Semana – leia-se a própria
Cooperativa Universitária e UBE/RN –, a ausência de professores e alunos dos
cursos de Letras, Jornalismo e áreas afins. Até porque foram distribuídos cerca
de 600 convites impressos, e outros tantos eletrônicos para as instancias
acadêmicas da UFRN. Não custa lembrar ainda que Bartola foi durante toda a sua
vida útil professor do Departamento de Química da UFRN e, por alguns poucos
anos, presidente da Cooperativa que agora o homenageava.
Sabemos que a rotina de
um professor universitário é sobrecarregada por diversas tarefas extraclasse, e
encaixar nessa agenda uma tarefa suplementar não deve ser fácil. A total
ausência de alunos e professores que têm na literatura uma de suas
atividades-alvo é, no entanto, incompreensível. Sobretudo em se tratando de um
evento cercado de um grande atrativo, isto é, o lançamento de um livro inédito
de um escritor que vem despertando admiração e elogios entre leitores de todo o
país.
À academia não
interessa o novo? Não o cremos, porque nunca cessa a descoberta de novos
autores nas pesquisas acadêmicas. Seria então a cor local que passa ao largo da
vida universitária? Talvez que seja esse o caso, e a razão deve ser que seus
professores têm dificuldades em se atualizar com a matéria-prima de que tratam,
embora o mesmo não aconteça quando se trata da adoção de novas teorias. O que
nos faz lembrar um comentário do poeta pernambucano Marcus Accioly: “Os
professores de Letras não gostam de literatura, gostam de teorias”.
Ou talvez por que não
tenham tempo para ler os autores que discutem, absortos que vivem em
intrincadas teorias na busca de explicar a obra literária. Mas isso é só parte
do problema. A outra é certa postura “high profile” assumida por alguns no que
toca aos autores locais. Pensemos na longa demora que retardou o reconhecimento
da importante obra de Luís da Câmara Cascudo, hoje, por louvável ironia, nome
de um núcleo de estudos acadêmicos na UFRN.
Enfim, a academia é
lenta, como toda instituição complexa. Não achamos que esse seja um defeito
insanável. O que sucedeu com Cascudo – sua canonização – poderá suceder a
Bartolomeu Correia de Melo, não obstante as diferenças que separam esses dois
autores: um ficcionista, o outro historiador. Mas para tanto é indispensável
uma mudança de postura por parte daqueles que trabalham com as criações do
espírito em âmbito universitário. Do contrário, ficarão sempre defasados quanto
ao novo, o que é, convenhamos, extremamente antiacadêmico
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