quarta-feira, 23 de julho de 2008

Crítica de Cinema. BOM DIA JORNADA DE TODOS NÓS ! - Pedro Vicente Costa Sobrinho

Guido Araújo

Paulo Emílio Salles Gomes



Cosme Alves Neto


A Jornada Brasileira de Cinema da Bahia é, sem dúvida, um dos marcos mais importantes da história do cinema brasileiro. O evento sob a regência e pela mestria do cineasta Guido Araújo, seu criador e até hoje seu principal animador, tornou-se, nesses 35 anos de existência, o mais representativo acontecimento do cinema nacional, e agora também internacional, no Brasil. Dela participei nos seus primeiros anos de existência. Foi e, com certeza, continua sendo o grande ponto de encontro anual do cinema brasileiro.

Do que não esqueci, cabe lembrar que a Jornada foi o espaço aberto, naqueles anos de ditadura militar, para que o cineclubismo nacional pudesse consolidar sua reorganização. Participei do movimento e dei minha modesta contribuição na reorganização da Federação Norte-Nordeste de Cineclubes; também fui eleito seu presidente durante uma dessas Jornadas. O primeiro encontro dos cineclubistas nordestinos, por sua vez, realizou-se em Natal. Na jornada também aconteceu a fundação da Associação Brasileira de Documentaristas; bem como a organização do Centro de Pesquisadores do Cinema Brasileiro. Nela, grandes temas foram discutidos, e tudo que dizia respeito ao cinema brasileiro não lhe foi estranho. A produção, distribuição, exibição, financiamento, o lugar do cinema documental na filmografia brasileira, a pesquisa, a recuperação e a preservação do acervo fílmico nacional, o papel das cinematecas etc.

Lembro-me ainda da presença marcante de Paulo Emílio Salles Gomes; sua estatura intelectual, experiência, engajamento político e liderança nos impressionavam. Cabe realçar que ainda mais importante era sua capacidade de dialogar conosco, os jovens. Paulo Emílio tinha sempre um comportamento cordial, compreensivo e afetivo; não pousava de modo professoral, e até assimilava com humor algumas provocações que lhe eram dirigidas. A defesa que fazia do cinema brasileiro era radical e podia ser tomada como ingênua, pois assumia sem dar trégua a defesa até da pornochanchada, com o argumento de ser produto genuinamente nacional. Paulo era a referência maior da Jornada, principalmente para os jovens.

Outro destaque, o amazonense Cosme Alves Neto, diretor à época da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Graças a sua presença e liderança aquele pequeno espaço tornou-se o núcleo para o qual convergia o grosso do pessoal ligado ao cinema, tanto os iniciantes quanto os já consagrados. Para a cinemateca também foi direcionado todo o material fílmico resultante de pesquisas sobre a produção cinematográfica brasileira. O projeto de longo prazo era recuperar, restaurar e preservar a filmografia nacional. Juntamente com Aluízio Leite, o gordo, eu tive a oportunidade de me engajar no projeto, vindo a colaborar no levantamento da filmografia do cineastas pioneiros do Rio Grande do Norte: José Seabra e João Alves de Melo.

Guido Araújo, nem falar, pois tudo que acontecia na jornada decorria de sua capacidade de articulação e condução do evento. Guido portava consigo o atributo da ubiqüidade, pois estava presente em todos os momentos da jornada. Desdobrava-se em vários e múltiplos “guidos” e, com sabedoria, resolvia problemas, administrava conflitos, estimulava debates e promovia encontros etc., sempre se comportando com paciência e bom humor. Eu tive a iniciativa de trazer Guido ao Acre, para participar juntamente com José Tavares Barros de um Festival Acreano de Cinema Super 8, promovido pelo SESC. Daqui resolveu ir até La Paz na Bolívia, para localizar certo cineasta boliviano. A jornada sob sua batuta se internacionalizou, sem jamais perder sua identidade. Ave Guido!

Quando Setembro chegar, mais uma jornada vai acontecer. Farei tudo para participar dela, pois espero rever muitos amigos e até falar dos muitos que lá estarão ausentes, porém não esquecidos. Os quarenta anos de 1968 serão lembrados para o bem e para o mal. É bom lembrar Zuenir Ventura: “1968, o ano que não terminou”. Bom dia e parabéns, Jornada de todos nós.


Nota; Comunique-se com a coordenação da Jornada Internacional de Cinema da Bahia através:

2 comentários:

Anônimo disse...

Quanto à 35a. Jornada, vou começar a colocar mais informações no site http://www.jornadabahia.com e você pode ir coletando essas informações. Peço licença para colocar o texto que você fez no seu blog, na comunidade dos Amigos da Jornada no orkut, e também, traduzir para o inglês, para colocar em outra comunidade, se você não se importar, por favor me informe.
Abs
Nelia

Anônimo disse...

Caro Pedro Vicente

Lendo a sua agradável e generosa matéria sobre as antigas Jornadas, me veio a ideia de lhe fazer uma consulta.
No âmbito da programação da Jornada 2008, teremos um seminário intitulado “1968 + 40 anos de Politica, Cultura e utopia “. Este Seminario acontecerá nos dias 15 e 16 de Setembro pela manha, no Salão Itaparica do Hotel Sol Victoria Marina. Gostaria de contar com você como um dos componentes da mesa. Responda-me se aceita o convite.
Ate setembro,
Abraços do amigo,
Guido