Três livros clássicos sobre o Acre publicados nas Coleções Reconquista do Brasil, Brasiliana e Documentos Brasileiros. |
No
ano de 2008, fui convidado pelo governador do Acre, Binho Marques, para prestar
assessoria em três projetos: Bienal do
Livro, instalação de uma Pinacoteca e
do Complexo de Cinema e Teatro Recreio. Acabei me envolvendo em outras
atividades conexas, tais como projetos de animação cultural, formação de
platéia, regulamentação para uso de espaços culturais, inclusive o de uma Coleção Acreana, biblioteca básica para
se conhecer o Acre e os acreanos. O projeto exigiu certo esforço de pesquisa
para que seus fundamentos fossem convincentes junto aos gestores da política
cultural no estado. A iniciativa de certo modo andou bem, pois foi atribuído à Biblioteca
Pública Estadual o gerenciamento do projeto, definiram-se também os nomes da
Comissão Executiva Editorial e, por sua vez, fez-se a sugestão dos nomes para
constituir o Conselho Editorial. Além disso, realizou-se a licitação, de abrangência
nacional, para escolha da empresa gráfica ou editora para executar os serviços
de impressão das primeiras obras a serem publicadas. O empenho dos valores,
salvo engano, para fazer face às despesas iniciais de edição foi feito, pois
havia recursos no orçamento daquele ano, e já também havia recursos alocados
para o próximo exercício. Fiz contato inclusive com o grande artista gráfico
Victor Burton para que ele viesse a projetar capas e miolo padronizados dos
livros da coleção. A mudança ocorrida na Fundação Elias Mansour, com a posse do
novo governo e, portanto, com a indicação de um novo gestor da cultura, tudo
faz crer que o projeto foi circunstancialmente adiado. Para que esse projeto
não fique no anonimato e esquecimento macondiano eu estou postando ora em meu
blog. Fiz alguns acréscimos na listagem inicial de obras a serem editadas, acatando-se
algumas sugestões de obras recolhidas quando se estava ainda na finalização do projeto. Aí está o projeto na
sua versão inicial, então leia, critique e divulgue...
Considerações Iniciais
A formação de bibliotecas básicas com obras de referência
para o conhecimento do Brasil e dos brasileiros foi um objetivo perseguido
pelos grandes editores nacionais nos anos de 1930. Para que fosse alcançado
esse objetivo as maiores editoras mobilizaram nomes, a época, dos mais
representativos da chamada inteligência brasileira, tais como Gilberto Freyre,
Fernando Azevedo, entre outros, para assumirem a direção intelectual dessas
coleções. A organização de coleções temáticas e gerais foi o modelo editorial
encontrada para viabilizar o projeto que se propunha registrar e revelar os
aspectos mais variados da cultura e realidade nacionais, e daí, então, as
muitas coleções que circularam pelo país sob a forma de livros. Realce-se,
todavia, que só algumas delas conseguiram conquistar o estatuto de permanência no
curso da história do mercado editorial brasileiro.
Das muitas coleções organizadas destacamos ora quatro
delas, pois foram decerto as mais representativas pelo conteúdo dos livros
editados, pelo valor como referência bibliográfica e também por sua continuidade
editorial. A representatividade e penetração dessas coleções podem ser mais bem
avaliadas pelo muito que já se escreveu sobre elas, e pelo valor que elas
adquiriram no mercado de livros raros. Muitos são os colecionadores e
bibliotecas que procuram os títulos que nelas foram publicados. Vejamos.
Por iniciativa do ex-sócio do escritor Monteiro
Lobato, o editor Octalles Marcondes Ferreira, proprietário da Companhia Editora
Nacional, foi proposto o primeiro grande projeto editorial do mercado livreiro
(1931): Biblioteca Pedagógica Brasileira,
que tinha como objetivo à formação de uma biblioteca básica sobre o Brasil.
Para coordenar esse projeto, o editor Octalles Marcondes convidou inicialmente
o cientista Fernando Azevedo, um dos intelectuais mais respeitados do país, e
que, anos depois, veio a participar do projeto de criação da Universidade de
São Paulo – USP. Depois dele, a Biblioteca
foi dirigida pelo historiador Américo Jacobina Lacombe. Da biblioteca básica
fazia parte uma coleção denominada Brasiliana,
que ganhou autonomia e se tornou a mais importante e representativa das
coleções até hoje organizadas no Brasil.
A Coleção
Brasiliana teve início em 1931, com permanência no mercado editorial até os
anos de 1980. Mais de 300 títulos, salvo engano, foram publicados com a sua
chancela. Tornou-se raridade no mercado de livros, e é bastante cobiçada por
colecionadores, bibliófilos e bibliotecas, no país e exterior.
A Coleção
Documentos Brasileiros, por sua vez, foi criada pelo editor José Olympio e
editada pela José Olympio Editora. O projeto editorial foi iniciado em 1936,
sob a direção do sociólogo Gilberto Freyre, que já havia publicado com a marca
da editora seus dois grandes livros: Casa
Grande e Senzala e Sobrados e Mocambos. A citada coleção teve dois outros
ilustres diretores: Octávio Tarquínio de Souza e o chanceler Afonso Arinos de
Mello Franco. A “Coleção Documentos Brasileiros” editou cerca de mais de 200
títulos. No ano de 1986, o Governo do Acre, através da Fundação Cultural, em coedição
com a José Olympio Editora, editou o livro Um
paraíso perdido. Ensaios, estudos e pronunciamentos sobre a Amazônia, de
Euclides da Cunha. O livro, que recebeu o n. 206 da coleção, foi organizado,
com introdução e notas, por Leandro Tocantins.
A Coleção Biblioteca
Histórica Brasileira foi de menor
duração, porém de prestigiado reconhecimento pelo seu valor e peso intelectual.
A iniciativa foi do editor e livreiro João de Barros Martins, e de sua empresa
Livraria Martins Editora. Os primeiros volumes da coleção datam de 1940, indo
até aos anos de 1952. Publicou pouco mais de 20 títulos, sob a direção do
famoso bibliotecário e bibliófilo Rubens Borba de Moraes, autor da monumental Bibliographia Brasiliana, editada em
língua inglesa. Os livros editados sob a orientação de Rubens Borba de Moraes
até hoje são referencias obrigatórias para o conhecimento do Brasil.
Outras coleções poderiam ser lembradas por sua
importância política e pedagógica, tais como Os Cadernos do Povo Brasileiro, da Editora Civilização Brasileira;
e a Coleção Primeiros Passos, da Editora
Brasiliense. No entanto, a Coleção
Reconquista do Brasil, editada pela Editora Itatiaia, Belo Horizonte (MG), pelo
seu reconhecido valor cultural, diversidade de títulos e permanência editorial,
merece maior destaque entre as grandes coleções. Os primeiros livros da coleção
foram editados, salvo erro, a partir dos anos de 1960. A coleção foi dirigida até o volume 92 pelo cientista Mário
Guimarães Ferri. Sua existência prolonga-se até os dias atuais. Publicaram-se
duas séries iniciais; a primeira com 60 volumes e a segunda com mais de 150
volumes. A terceira, dita especial, vem editando títulos inéditos na coleção e
já está, salvo engano, com mais de 10 volumes.
No ano de 1989, por iniciativa da Fundação Cultural do
Acre, foi editado o volume 152 da referida coleção: Reconhecimento do rio Juruá (1905), do
General Belarmino Mendonça, em coedição com a Editora Itatiaia. A edição foi
fac-similar, com farta e competente introdução e notas do historiador Leandro
Tocantins.
Iniciativas pioneiras de editores tais como Monteiro
Lobato, Octalles Marcondes, José Olympio, João de Barros Martins, Caio Prado
Júnior (Brasiliense) Henrique Bertaso (Globo) e Enio da Silveira (Civilização
Brasileira), para falar dos mais merecidamente lembrados, são muito raras nos
dias de hoje. O exemplo atual de editor de talento cabe, com raras exceções, ao
comerciante de “best-seller”, farejador de escritores medíocres, mas que vendem
muito para um público talvez ignorante e subletrado. E daí, a qualidade
literária da obra e mesmo sua importância real para estudo e pesquisa são
secundarizadas por esses editores, cabendo, portanto, ao poder público e a Universidade
arcar com a responsabilidade de colocar a disposição do público-leitor as obras
de referência para o conhecimento do Brasil e dos brasileiros. Neste contexto,
a institucionalização de uma Biblioteca
Básica Acreana assume a maior relevância, e mesmo tornando-se
imprescindível para o conhecimento da realidade e história do Acre e dos
acreanos. Cabe, portanto, ao Governo do Acre, através da Fundação Cultural
Elias Mansour, viabilizar o projeto de uma Coleção
Acreana, criando as condições para que dezenas de obras de referência sobre
o Acre sejam editadas ou reeditadas.
Propostas preliminares para editoração da Coleção Acreana
Identificação e objetivo
A Coleção Acreana tem por objetivo a
constituição de acervo bibliográfico com obras de referência que contribuam
para o estudo e conhecimento do Acre e dos acreanos, através da publicação e/ou
republicação, sob a forma de livro, de estudos, pesquisas, relatos de viagem,
memórias, biografias, em síntese: obras artísticas, literárias e científicas de
natureza geral.
Da direção
A “Coleção Acreana” será dirigida por uma Comissão
Executiva Editorial composta por três pessoas, com mandato renovável de dois
anos, por designação, através de portaria, do
Presidente da Fundação Cultural Elias Mansour. A Comissão Executiva Editorial, por sua vez,
terá as seguintes atribuições: a) Selecionar as obras que serão editadas na
coleção; b) Escolher, quando necessário, o organizador para o material a ser
publicado; c) Providenciar junto à Biblioteca Pública Estadual a devida ficha
catalográfica da obra a ser editada, d) Normalizar os originais ou obras para
publicação de acordo com as normas e disposições da ABNT e da Fundação
Biblioteca Nacional (ISBN/ISSN); e) Providenciar a revisão de ortografia e
linguagem dos textos selecionados; f) Fazer entrega dos originais devidamente
preparados (miolo, orelhas, quarta capa, título, autor, ficha catalográfica,
ISBN etc.) para diagramação e finalização
do arquivo a ser impresso em gráfica ou editora.
Do Conselho
Editorial
A Coleção Acreana terá um Conselho Editorial composto
de 9 (nove) membros, com as seguintes atribuições: a) Analisar, avaliar e
emitir parecer sobre os originais que lhe forem encaminhados pela Comissão
Executiva Editorial; b) Solicitar parecer de consultor ad hoc na hipótese de se
considerar incapacitado para julgar determinado original. c) Sugerir à Comissão
Executiva Editorial, a inclusão de obras
científicas ou literárias, já editadas ou não, para que façam parte da Coleção Acreana.
Formato e capa
Os livros
publicados na “Coleção Acreana” serão impressos no formato 16 por 23
cm, com mancha gráfica de 12 por19 cm, incluindo-se a numeração da página, que
será posta no canto esquerdo (par) e direito (ímpar). A capa e o miolo dos
livros deverão ser projetados por artista de reconhecido valor no campo da
editoração gráfica, e padronizados para todas as publicações, com exceção dos
álbuns de arte.
Das tiragens
Os livros publicados na “Coleção Acreana” terão
tiragens econômicas de dois mil exemplares, podendo variar para mais ou para
menos de acordo com as expectativas de mercado com relação aos títulos
publicados.
Da
distribuição
Os livros publicados na “Coleção Acreana” serão
distribuídos; a) Gratuitamente para as redes de bibliotecas públicas, municipal
e estadual, bem como para bibliotecas escolares das redes públicas de ensino
estadual e municipal; b) Postos à venda
no mercado local e nacional através da
FEM; c) Parte da tiragem será reservada para intercâmbio com a rede nacional de
bibliotecas públicas e universitárias, através do serviço de intercâmbio da Biblioteca
Pública Estadual
Dos trabalhos
de editoração e impressão
O trabalho de editoração dos livros da “Coleção
Acreana” será realizado por serviços de terceiros: preparação de textos,
digitação, revisão de originais e provas, ilustração, diagramação, formatação e
finalização do arquivo para impressão do miolo e capa.
O trabalho de impressão e acabamento dos livros deverá
ser realizado por gráficas especializadas no ramo, ou através de coedições com
editoras públicas ou privadas.
Das reuniões
da Comissão Executiva Editorial e Conselho Editorial
As reuniões da Comissão Executiva Editorial devem se
realizar mensalmente ou de acordo com cronograma definido por seus integrantes,
conforme as necessidades do trabalho. O Conselho Editorial, por sua vez, reunir-se-á
quando convocado pela Comissão Executiva Editorial.
Relação de títulos considerados essenciais para
constar do acervo inicial da Coleção Acreana:
A Gazeta do Purus. Antonio José Souza Loureiro;
Reconhecimento do rio Juruá (1905). General Belarmino Mendonça;
Um paraíso perdido: ensaios, estudos e
pronunciamentos sobre a Amazônia.
Euclides da Cunha;
Estudo Geográfico do território do Acre. Antonio Teixeira Guerra;
Formação Histórica do Acre. Leandro Tocantins;
Plácido de Castro. Um caudilho contra o
imperialismo. Cláudio de Araújo Lima;
Organização dos relatos de Constant Tastevin sobre
os rios Juruá, Muru, Tarauacá; e
sobre os índios das bacias dos rios Purus, Juruá e regiões limítrofes, este
último com a colaboração P. Rivet;
Álbum do rio Acre. Emílio Falcão;
A conquista do deserto ocidental. João Craveiro Costa;
Os seringais. Mário Guedes;
Amazônia. O papel decisivo do Mal.
Taumaturgo de Azevedo na questão do Acre. Manoel Onofre;
Apontamentos sobre o rio Juruá. W. Chandless;
A presença do Capitão Rego Barros no
Alto Juruá (1912-1915). Glimedes Rego
Barros;
Índios Caxinauá – seringueiro caboclo a
peão acreano. Terri Vale de Aquino.
Organização
dos artigos de José Moreira Brandão Castello Branco: Importância dos rios acreanos na história e geografia do Acre;
Afluentes do rio Juruá. O rio Purus e seus afluentes. O rio Abuña e o rio Javari; Comunicação sobre
o território do Acre – tentativa de desbravamento da região do Acre; Terra e
gente do Acre; O Juruá Federal. Território do Acre; Cartografia acreana.
Caminhos do Acre; Descobrimento das terras da região acreana; Acreânia.
Acre: prosa e poesia (1900-1990). Laélia Rodrigues da Silva;
A represa. Océlio Medeiros;
Reunião
dos romances: Terra caída, Vidas marcadas
e Do seringal ao asfalto. José
Potiguara;
Certos caminhos do mundo – romance do
Acre.
Abguar Bastos;
Deserdados. Romance da Amazônia. Carlos de Vasconcelos;
Quixadá de fazenda a cidade. José Bonifácio de Souza;
A Conquista do Acre. Pimentel Gomes;
Os imperadores do Acre – Uma análise da
recente expansão capitalista na Amazônia. Marcílio Ribeiro Sant’ana;
A epopéia do Acre. Sílvio de Bastos Meira;
Coronel de barranco. Cláudio de Araújo Lima;
O sertanejo, o brabo e o posseiro: a
periferia de Rio Branco e os cem anos de andança da população acreana. Luiz Antonio Pinto Oliveira;
O seringal e o seringueiro. Arthur Cezar Ferreira Reis;
Conflitos pela terra no Acre: a
resistência dos seringueiros de Xapuri.
Élio Garcia Duarte;
Por que perdemos a batalha da borracha. Cosme Ferreira Filho;
Organização dos materiais da FUNAI, da
Comissão Pró-Indio, do CIMI-Acre e principalmente do antropólogo Terri Vale
de Aquino, sobre os índios do Acre;
Reunião em livro de
todas as entrevistas concedidas por Chico Mendes;
O barão de Rothschild e a questão do Acre. Luiz Alberto Moniz Bandeira;
O Palácio de Juramidan. Santo Daime: um
ritual de transcendência e despoluição.
Clodomir Monteiro da Silva;*
Seringal. Miguel Ferrante;
Peru versus Bolívia. Euclides da Cunha;
Arquivos do Galvez que se encontram no
Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP).
*
Haja vista a repercussão nacional alcançada pela questão do Santo Daime, e
sobretudo pela qualidade e relevância do texto do escritor Clodomir Monteiro da Silva, sugere-se que seu
trabalho seja o primeiro livro a ser editado pela Coleção Acreana.
Nota: Se não me esqueci, os nomes sugeridos para Comissão Executiva Editorial foram Helena Carloni, Diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas, Laélia Maria Rodrigues da Silva, professora Dra. da UFAC, e o jornalista Elson Martins da Silveira.
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