Alguém já disse que é
difícil em Natal encontrar quem não tenha pelo menos um livro sugerido por Luiz
Damasceno, referindo-se ao tempo em que ele atuou por trás dos balcões das
livrarias da cidade. Na verdade, ninguém assumiu de forma tão consequente e passional
o papel de divulgador do livro e da leitura, em nosso meio, como esse livreiro
cuja trajetória começou nos anos 60 na Livraria Universitária de Walter
Pereira. Nos poucos anos que ali passou, Luiz se mostrou um vendedor tão
diferenciado de seus pares que logo se tornou uma referência indispensável.
Desde essa época, ele se destacou por não só sugerir livros, mas por conhecer
os gostos e preferências literárias de seus amigos e clientes.
Era tão forte a relação
entre Luiz Damasceno e os livros que quando foi criada a Cooperativa
Universitária da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, naturalmente se
cogitou em seu nome para viabilizar aquela iniciativa, graças ao seu
conhecimento amplo e criterioso da área.
Aposentado há poucos
anos da Cooperativa Universitária e padecendo de um mal incapacitante, Luiz
Damasceno ainda hoje é uma referência incontornável no campo do livro em Natal.
“Ninguém conhecia os livros tão bem como Luiz”, se ouve dizer com frequência,
sempre que se toque nesse assunto.
Personagem consagrado
pelo seu próprio esforço, espécie de “self-made man” do mundo do livro, Luiz
Damasceno ganha agora uma homenagem justa pelo trabalho que desenvolveu durante
toda a sua vida útil. Trata-se do livro “Viva Luiz Damasceno”, editado pela Editora
da UFRN em parceria com a Cooperativa Cultural da UFRN e organizado pelo
professor Marcos Silva. Essa obra, que será lançada com pompa e circunstância
no dia 10 próximo, no auditório do Núcleo de Arte e Cultura da UFRN - NAC
(Campus Universitário da UFRN), às 18 horas, apresenta pelo menos 50 visões e
versões de Luiz Damasceno, num esforço de interpretação que mobilizou
escritores, professores, jornalistas, amigos e admiradores do livreiro. Quanto
aos textos assinados por Bené Chaves, Francisco Sobreira e Nássaro Nasser, por
não apresentarem correlação direta com Luiz Damasceno, parecem fora de lugar.
O texto do programa
“Memória Viva” enfocando a vida de Luiz Damasceno, e que foi ao ar na TV
Universitária da UFRN no dia no dia 1º de agosto de 2005, também integra o
livro, e serve assim como uma espécie de réplica às 50 versões do personagem.
De fato, na entrevista, conduzida pelo escritor e apresentador Tarcísio Gurgel,
e enriquecida com as presenças do escritor Pedro Vicente Costa Sobrinho e do
professor Antonio Capistrano, Luiz Damasceno filtra, “a posteriori”, muitas
informações que circulam a seu respeito nas páginas do livro. Por outro lado, o
entrevistado corrobora outras tantas informações de cunho pessoal, enquanto
discorre sobre seus trabalhos, sua militância no Partido Comunista, suas
leituras e suas relações com a clientela de amigos e conhecidos que sempre fez
pelas livrarias por onde andou, especialmente na Universitária, na época do
livreiro Walter Pereira, e na Cooperativa da UFRN.
É evidente que alguém
que, como Luiz Damasceno, fez da controvérsia um estilo de vida, coloca-se
naturalmente à margem de qualquer consenso de seus intérpretes, visto que “cada
cabeça, uma sentença”. Aí, talvez, resida o mérito principal desse “Viva Luiz
Damasceno”, propondo, a cada capítulo, um aspecto, um chiste, um cacoete, uma
anedota, que fez do livreiro uma lenda num setor conhecido mais pelo
pragmatismo do que pela verve e o improviso de seus agentes.
Mas é bem possível que,
por trás do livreiro polemista e sempre inconformado, se encontre sua máxima
virtude, na medida em que nos adverte contra o consenso fácil que seduz à
primeira vista, mas cuja outra face é o logro e a decepção. Sem falar que sua
ética miúda, mantida a toque de ironias ditas e subentendidas, muitas vezes
acertou o alvo.
DESTAQUE:
“Personagem consagrado
pelo seu próprio esforço, espécie de ‘self-made man’ do mundo do livro, Luiz
Damasceno ganha agora uma homenagem justa pelo trabalho que desenvolveu durante
toda a sua vida útil no livro ‘Viva Luiz Damasceno’
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