terça-feira, 23 de agosto de 2011

Livros - Prefácio ao Livro "Acre: entre o Velho e o Novo Velho" / Pedro Vicente Costa Sobrinho

O livro "Acre: entre o velho e o novo velho, de Raimundo França, que ora é posto a disposição do público leitor, mais precisamente do leitor da ciência dita política, tem origem numa dissertação de mestrado que de modo original busca estudar a rica experiência política e administrativa do Partido dos Trabalhadores no governo do estado do Acre, durante os anos de 1999-2002 e que, por sua vez, insere-se no contexto mais amplo da  vasta bibliografia que tem como objeto de pesquisa  o denominado “modo petista  de governar”.

No curso de seu texto o autor resgatou com rigor teórico e analítico a trajetória histórica do PT, sua participação na vida social e política como sujeito que se forjou nas lutas dos movimentos sociais organizados nas áreas urbanas e rural do Acre, principalmente nos sindicatos de trabalhadores rurais e associações de bairro, e quanto ao projeto de poder que o PT se propôs implementar  tendo como proposta a realização de mudanças radicais com relação as formas tradicionais de exercício de governo no estado:  autoritarismo, patrimonialismo, nepotismo  etc. e a corrupção desenfreada  daí decorrente.  A preocupação central  enunciada pelo autor  é avaliar as ações do PT/governando,  e para isso  procedeu um exaustivo  levantamento dos componentes que fundamentam a decantada “experiência inovadora de governança”, principalmente com relação às políticas de governo com vistas ao sonhado”Desenvolvimento Sustentável “ e quanto à busca da mítica “Participação Democrática”. Do universo dos componentes elencados,  o autor sobretudo foca sua análise na Reforma Administrativa do Aparelho de Estado implementada pelo PT, que teve como objetivo racionalizar o uso dos escassos recursos humanos e materiais. Na política educacional, cujo desafio básico visava recuperar e ampliar fisicamente a rede escolar e capacitar e melhorar as condições materiais do pessoal  ligado ao ensino público. E, por último, a partir da base econômica existente (extrativismo, pecuária e pequena produção agrícola) como o partido buscou programar uma política ambiental que preservasse o meio ambiente sem no entanto paralisar a expansão e o desenvolvimento da economia.

Diante desse amplo e complexo repertório de variáveis, o autor soube se conduzir com rara mestria analítica, fazendo uso adequado dos seus instrumentos teóricos  para avaliar a experiência de governo do PT no Acre e concluir que  “...O Partido dos Trabalhadores não foi apenas uma novidade na vida partidária do Acre, mas, principalmente uma grande novidade no governo, trazendo significativos avanços para vida administrativa do estado.Contudo, não se pode afirmar que ele tenha se constituído numa forma de ruptura com as demais formas de administrar, no Acre. Em termos gramscianos poderíamos dizer que o que houve foi uma transição pelo alto.”

Para além de um estudo realizado sobre uma certa conjuntura pretérita, o livro, do sociólogo Raimundo França, pela pertinente análise e conclusão nele contidas, projeta-se para o futuro e, sem dúvida, constitui-se em material imprescindível para se compreender as duas últimas administrações do PT e da paparrotada Frente Popular no Acre. Ouso até afirmar, sem nenhum exercício de premonição, que se lido enquanto dissertação de mestrado pelos dirigentes locais do PT, o texto poderia ter servido de material  para reflexão  e  também indicador de uma possível mudança de rumo na política e na condução da coisa pública, e que, certamente, teria evitado o desastre político acontecido nas eleições de 2010. O eleitor acreano é sábio e cidadão, e sempre se conduziu de modo autônomo e independente desde os tempos de ditadura, quando votava na oposição ao regime militar. Valeu a advertência, o resto é conversa fiada.

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