Não fosse uma viagem que eu inventei
nas últimas vinte e quatro horas, o meu programa para a noite de hoje seria
sentar na primeira fila do anfiteatro Garibaldi Brasil, no campus universitário
da UFAC para assistir ao lançamento do livro Comunicação Alternativa e
Movimentos Sociais na Amazônia Ocidental, de autoria do sociólogo Pedro Vicente
Costa Sobrinho.
Pedro Vicente, que hoje trabalha na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), eu conheci na segunda
metade dos anos 70, quando, na qualidade de estudante de Letras na UFAC ouvi-o
durante uns dois semestres, dia após dia, dissertar com brilhantismo sobre
Cultura Brasileira. Ele destilava conhecimento e erudição. Um intelectual da
mais fina estirpe.
Na época, talvez por força de um
vínculo empregatício com o Serviço Social do Comércio que não lhe deixava tempo
para maiores vôos literários, Pedro Vicente não havia ainda se aventurado pelo
caminho da escrita. Agitador cultural, preocupadíssimo com a efervescência
artística acreana, tudo, porém, levava a crer que a publicação de livros não
tardaria.
O tempo provaria que quem pensava
assim, como era o meu caso, não estava enganado. Tanto que logo após se
desvincular das suas funções no Sesc, Pedro Vicente foi fazer mestrado em Ciências Sociais
na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. E da dissertação final,
claro, saiu o livro Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental.
Daí para cá, além do livro objeto do
lançamento desta noite, foram mais duas publicações. Uma delas de artigos
escritos por vários autores, intitulada Reflexões Sobre a Desintegração do
Comunismo Soviético, que saiu pela editora Alfa-Ômega, na condição de
organizador. A outra, de autoria individual, pelo selo Coivara, chamada
Exercícios Circunstanciais.
Esses dois citados por último eu
ainda não cheguei a ler. Conheço-os somente de ouvir falar. Capital e Trabalho
na Amazônia Ocidental, entretanto, eu conheço muito bem. Recorri à leitura dele
várias vezes quando da elaboração da minha dissertação de mestrado. E não tenho
nenhum pudor em recomendá-lo a quem quiser entender um pouco mais da história
do Acre.
Comunicação Alternativa e Movimentos
Sociais na Amazônia Ocidental é o resultado da tese de doutorado em Ciências da
Comunicação que Pedro Vicente defendeu no ano passado na Escola de Comunicação
e Artes da Universidade de São Paulo. E novamente, tal qual o primeiro livro,
tem o poder de jogar luzes sobre o passado recente do Estado.
Se naquele o autor se preocupou em
estudar as flutuações da economia gomífera nos confins da floresta amazônica,
neste a proposta é compreender o papel crucial que dois órgãos do passado da
imprensa local (o jornal O Varadouro e o boletim Nós Irmãos) desempenharam no
fortalecimento dos movimentos sociais acreanos durante a década de 70.
Em ambos os informativos, uma mesma
linha editorial, voltada para a denúncia de barbaridades cometidas pelos então
novos donos das terras acreanas e, claro, total e absolutamente a favor dos
movimentos de resistência encabeçados por posseiros, índios e seringueiros
(minoria que, ressalte-se, não contava com a simpatia dos meios de comunicação
locais).
Num momento em que, apesar de toda a
tecnologia disponível, a imprensa do Acre vive uma, digamos, profunda crise de
paradigmas (não sabe se faz ou se compra feito), a leitura desse novo livro do
doutor Pedro Vicente me parece essencial. No mínimo servirá para a gente
comparar temporalmente as atitudes de algumas figurinhas carimbadas que até
hoje andam por aí.
(Jornal
Página 20, 23.04.2002)
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