sábado, 30 de junho de 2012

Memórias - Varal das Lembranças: O que não esqueci sobre os ìndios, pessoas e movimentos de defesa da causa indígena no Acre - Pedro Vicente Costa Sobrinho

Ashaninkas - Rio Amônia-Acre - Foto: Saulo Petean

1978. No mês de março, precisamenteno dia 28, eu cheguei ao Acre, recrutado pelo meu saudoso amigo Jaime Ariston para assumir a Gerência de Bem Estar da Delegacia Executiva do SESC. Jaime já estava no Acre há pouco mais de um ano como delegado do SESC e SENAC, e, dentro das limitações de recursos do Departamento Nacional e da precariedade das instalações do órgão em Rio Branco, vinha ora desenvolvendo política bastante inovadora e até original, sobretudo na área da cultura. Entre suas ações cabe destacar: cinema na comunidade; teatro de marionetes; ação conjunta com o Cineclube Aquiry para exibição de cinema de arte; instalação de biblioteca etc. Além disso, Jaime procurou manter extenso e, sobretudo, instigante relacionamento com  os movimentos sociais, artistas locais e com as instituições ligadas às artes em  Rio Branco.

Logo que cheguei à Rio Branco, Jaime me apresentou aos seus recentes amigos indigenistas que trabalhavam na Ajudância da FUNAI no Acre: Antonio Pereira Neto (Toninho),José Carlos Meirelles, Saulo Petean, Ronaldo, Macedo e outros. Pouco tempo depois, na redação do Varadouro, eu vim a conhecer Terri, que não era da FUNAI, mas estava umbilicalmente ligado aos índios do Acre, principalmente aos Kaxinawa. Daí por diante, eu passei a visitar regularmente a Ajudância da FUNAI,  na Franco Ribeiro,  quase sempre nos dias que Toninho lá se encontrava. Os outros indigenistas, quando voltavam dos postos da Funai, sempre iam ao SESC e, não raras vezes, de lá saímos para bebericar num boteco que ficava na Av. Brasil, que anos depois eu vim a me tornar seu dono, e que foi então batizado por José Carlos Meirelles com o nome de Casarão; bar que fez história como espaço cultural de resistência à ditadura militar. A conversa era instigante e durava horas e através delas pouco a pouco fui me inteirando sobre a questão indígena no Acre. Ainda, vez por outra, Toninho animava esses encontros com a sonoridade de seu violão, instrumento que tocava muito bem.  Terri Aquino raramente se encontrava conosco no boteco, e minha conversa com ele sempre acontecia na casa de Jaime onde ia jogar xadrez, ou na sede do Varadouro, onde provisoriamente estava instalada a Comissão Pró-índio.
José Carlos Meirelles

Confesso que, ao chegar a Rio Branco,  minha ignorância sobre a Amazônia, seus índios e quanto ao Acre, particularmente, era sobejamente calamitosa. A bibliografia lida era quase nada, estava restrita ao romance picaresco de Márcio Souza: Galvez, Imperador do Acre; À margem da história, de Euclides da Cunha, e o mais recentemente publicado, Amazônia: expansão do capitalismo, de Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Müller. Por  Antonio Pereira Neto (Toninho) fui levado a um quiosque de livros, que se dizia Livraria Cultural, pertencente ao notável e saudoso Arthur Gerosch. Nessa pequena livraria instalada na Avenida Ceará eu me abasteci de publicações essenciais sobre o Acre: Plácido de Castro, um caudilho contra o imperialismo, Cláudio de Araújo Lima; A conquista do Deserto Ocidental: subsídios para a História do território do Acre, João Craveiro Costa; A formação histórica do Acre, Leandro Tocantins. Além desses títulos comprei os romances “A Selva”, de Ferreira de Castro, Coronel de Barranco, de Cláudio Araújo Lima, e Maira de Darcy Ribeiro. Por sugestão de Toninho, eu ainda adquiri “Os índios e a Civilização”, de Darcy Ribeiro, Amazônia, a ilusão de um paraíso, de Betty J. Meggers e, salvo engano, Índios do Brasil, de Júlio Cezar Melatti. Carga de leitura, contudo, nem tanto pesada, mas para dar conta em pouco tempo, pois a ansiedade em vencer a ignorância que me deprimia, levou-me a por mãos a obra para superar  o quanto antes o atraso.

Toninho ainda me deu acesso a alguns relatórios de campo da FUNAI, que tratavam de questões diversas, inclusive as relacionadas com a demarcação de terras indígenas no Acre. A partir da leitura desses relatórios tornei-me um admirador do trabalho do indigenista José Porfírio de Carvalho, pelo papel que ele desempenhou, enquanto chefiava a Ajudância da FUNAI, na defesa intransigente dos direitos legítimos dos índios do Acre. O jornal Varadouro, por sua vez, também me ajudou bastante para que eu viesse a entender melhor o assunto, pois em suas páginas sempre havia matérias que tratavam da questão do índio no estado. 

No mês de abril, sugeri a Jaime que o SESC deveria tomar a iniciativa de organizar a Semana do Índio. Era muito pouco o tempo pra realizar o evento, mas Jaime sempre topava desafios e me autorizou a fazer os contatos e mobilizar o nosso pessoal. Com a ajuda da FUNAI, Prelazia, Varadouro, Departamento de Atividades Culturais (DAC) e Comissão Pró-Índio a coisa aconteceu, e foi de bom tamanho, superando inclusive nossas expectativas. Fizemos uma boa exposição de arte, artesanato e fotografias; o fundo musical feito com músicas de rituais de índios do Acre, e peças originadas do folclore indígena boliviano, e, sobretudo, contou-se com a presença de índios das várias populações que habitam o Acre. 

 Não conseguimos realizar palestras, mesas ou debates sobre a questão indígena no Acre, mas as visitas programada de alunos da rede estadual pública de ensino e dos colégios sob a  orientação da Igreja Católica foi o ponto alto do evento, pois chamou a atenção dos jovens para os índios, que até 1975 eram tidos como aculturados e não tinham sua existência reconhecida até então de direito pela FUNAI, órgão estatal responsável pela proteção ao índio brasileiro, haja vista o que mencionou Terri Vale de Aquino ao se referir que: “Esse órgão nunca havia atuado na região e mesmo desconhecia dados mais atuais da situação das populações indígenas dos vales dos rios Purus e Juruá. Não existia uma única reserva e nem mesmo posto indígena foi instalado durante quase um século de contato entre os diversos grupos Pano e Aruak e a sociedade nacional”. Cabe realçar que somente em 1976 a FUNAI instalou precariamente sua Ajudância em Rio Branco; isso, sobretudo, graças à ação do governador Geraldo Mesquita, que desde 1975 vinha chamando a atenção do órgão para a situação de abandono e falta de defesa das populações indígenas diante da grilagem e avassaladora bovinização de suas terras pelas grandes fazendas que ora estavam se instalando no estado.
Elson Martins da Silveira

Daí por diante meus contatos  com indigenistas da FUNAI, coordenadoria da Comissão Indigenista Missionária (CIMI), pessoal do jornal Varadouro,  integrantes da Comissão Pró-índio e lideranças indígenas foram cada vez mais se tornando mais próximos, e com alguns deles fiz relações de amizade que até hoje resistem a voracidade e ao desgaste do tempo. E quando assumi o cargo de delegado executivo do SESC e SENAC por indicação de meu amigo Jaime Ariston, que ora estava de volta ao Departamento Nacional no Rio, eu então procurei não só ampliar esses laços informais, mas também  criar relações de cooperação ao nível institucional. Na biblioteca do SESC, organizou-se um bom material sobre índios: livros e até cópias xerográficas de relatórios de indigenistas sobre índios do Acre. Nas atividades culturais do SESC os índios passaram a ter acesso sem o uso de carteira e isentos da cobrança de qualquer taxa. Muito deles foram assíduos frequentadores do Forró do SESC, nas noites de sábados.

Cabe realçar que durante os anos de 1981 e 1982, as minhas relações pessoais com a Ajudância da FUNAI azedaram, mas as institucionais foram mantidas, mesmo com algumas limitações. Logo após o afastamento de Toninho da direção da Ajudância, quase todos os meus amigos indigenistas que nela trabalhavam foram demitidos. Os substitutos de Toninho na chefia do órgão ou eram incompetentes ou policiais travestidos de indigenistas, entre eles merece destaque um tal Benamour Brandão, que segundo o jornal Varadouro se intitulava “major” e era de fato dedo-duro.

Em 1980, salvo engano, eu me reuni com Elson Martins e Terri Vale de Aquino na sede do jornal Varadouro; nesse encontro eles me convidaram para assumir a coordenação da Comissão Pró-índio. Apesar de me encontrar muito ocupado, diante dos argumentos desses amigos eu cedi e aceitei o encargo. De imediato tomei algumas providências, inclusive adquiri por doação de comerciantes com quem tinha amizade algum mobiliário para equipar a CPI. A minha gestão durou pouco, pois alguns antigos integrantes da CPI não ficaram satisfeitos com  minha indicação  feitas por Elson e Terri e protestaram. Eu disse aos amigos, Elson e Terri, com ênfase e  clareza  que não era inerente a minha vocação disputar cargo, principalmente na comissão, pois ele já era pequena, e dividida então não era nada; ainda mais, essas pessoas que se opuseram certamente eram mais importantes que eu, não somente pelo tempo em que estavam ligados a CPI, mas pela militância efetiva e comprovada à causa da defesa dos índios do Acre, e eu era, com certeza,, cristão novo, e, portanto,  a elas eu dava toda razão. Coube-me, então, bater em retirada, sem criar arestas e manter o apoio a CPI e, graças a essa atitude, eu preservei a amizade com todos seus integrantes.

Em 1981, quando me associei com Elson para instalar o bar Casarão, na Avenida Brasil, ele e eu tomamos a decisão de ceder mediante aluguel meramente simbólico uma das salas para sediar a Comissão Pró-índio do Acre. Quando eu vendi o bar, ao novo proprietário eu fiz questão de assegurar a permanência da CPI na sala que ocupava, até porque o contrato do prédio continuava em meu nome por mais dois anos, e nele eu ainda mantive,  de minha propriedade, a livraria Casarão.

Em 1982, eu insisti com Terri Aquino pra que publicasse sua dissertação de mestrado feita na Universidade Nacional de Brasília, pois esse material era de fundamental importância para a cultura indígena no Acre, por se tratar do primeiro trabalho científico sobre os índios e, sobretudo, por ser realizado com um olhar comprometido com a defesa dos seus interesses.   Ele me disse que não tinha condições de bancar o custo, e me perguntou se eu não podia fazer a  edição pelo SESC. Pouco depois, eu recebi a visita de um grupo de alunos e professores de escolas de Rio Branco, que vieram até o SESC para sugerir a publicação da dissertação de Terri. Avaliei criteriosamente a possibilidade de editar o livro pelo SESC, mas, a meu ver, seria muito complicado, pois burocracia do DN certamente criaria dificuldades para que o livro fosse editado com a chancela oficial do órgão. Voltei, juntamente com Miguel Ortiz, a conversar com Terri, e acertamos que o SESC informalmente contribuiria com a edição do livro, ficando responsável pelos custos do trabalho de datilografia, estênceis eletrônicos e gravação, papel e impressão em mimeografo. De sua parte, Terri conseguiu com Elias Mansour, Chefe da Casa Civil do Governo do Acre, a impressão da capa e o acabamento numa gráfica local. A tiragem foi de 200 exemplares e, como ficou acertado, não fizemos menção na capa ou folha de rosto ao SESC, contudo, Terri, por ato falho, no prefácio se referiu ao tal apoio. Assim o livro: Índios Caxinauá: de seringueiro “caboclo” a peão “acreano”, veio a ser editado, suprindo, portanto, essa lamentável lacuna na bibliografia sobre o Acre e seus índios. Guardo com muito carinho este livro pioneiro, e me envaideço com a dedicatória que a Ana e a mim o autor fez: “Para Pedro Vicente e Ana Maria pela força que vocês têm dado, seja no SESC ou nos jornais locais, em defesa dos índios do Acre” (10/06/1982). E ainda, “Muito obrigado pela força na publicação desse livro”. A edição logo se esgotou. Ao voltar ao Acre em 2008 elaborei projeto para formação de Biblioteca Básica Acreana, e indiquei a imprescindível reedição do livro de Terri.
Terri Vale de Aquino: Txai Terri

Um fato que não esqueci, está relacionado com o movimento de apoio aos Apurinã de Boca do Acre., que se encontravam ameaçados de expulsão de suas terras pela ação do  grileiro João Sorbille, o famoso “cabeça branca”. Este personagem asqueroso tinha adquirido uma fazenda de cinco mil hectares e havia esticado seus domínios para 300 mil. O pessoal que fazia teatro em Rio Branco pediu o apoio do SESC para montagem de espetáculo sob o título “A Grilagem do Cabeça”, que seria lançado no Teatro de Arena, e daí então seria encenado em escolas de Rio Branco, inclusive podendo ir pro interior do estado. Apoiei a iniciativa e, através do DN, também foi possível que o grupo responsável pela encenação fosse até Manaus apresentar a peça no Teatro do SESC do Amazonas.

Ao sair do SESC em 1982, eu moderei as minhas atividades políticas, e passei então a me dedicar quase integralmente às aulas na UFAC e a minha formação acadêmica. Voltei a mexer com documentos indígenas quando na PUC, em São Paulo quando fiz contatos com Betty Mindlin e Carmem Junqueira; elas estavam  ora envolvidas com assessoria ao Banco Mundial, num projeto de avaliação de impacto com relação as populações índias que se localizavam próximas ao curso da rodovia  BR364, cujo asfaltamento dependia da cessão de recursos daquela instituição financeira. A coisa era simples, elas queriam cópia de relatório sobre os índios Kaxararí, e eu tinha comigo e então repassei.

Em 1985, quando eu me encontrava envolvido com as eleições municipais, por ser ora candidato pelo Partido Comunista Brasileiro ao cargo de prefeito de Rio Branco, fiquei feliz com a visita não esperada de Carmem Junqueira e Toninho, na casa de Vicente Cerqueira onde estava hospedado. Toninho, salvo engano, havia voltado pra FUNAI, e  assumira, ora,  o cargo de delegado da  então  14ª Delegacia  do órgão no Acre. Carmem cumpria mais uma de suas visitas regulares à área em decorrência da assessoria que vinha prestando ao Banco Mundial. Em 2005, precisamente no mês de outubro, eu soube que meu amigo Toninho viera a falecer em Belém, vitimado por ataque cardíaco fulminante.
Carmem Junqueira - antropóloga

Em 1990, quando finalizava coleta de material para estudo sobre sindicatos no município de Feijó, no hotel em que me hospedei, eu reencontrei um amigo índio, se não me esqueci do aldeamento de Morada Nova, que fazia curso de formação de professor em língua portuguesa. A conversa foi longa, e ele então me pediu que, se possível, eu comprasse em Rio Branco uma boa gramática de português. Nada a obstar, pois logo que eu me encontre em Rio Branco eu te mando a encomenda. Demorei um pouco a enviar o livro por não encontrar nas livrarias de Rio Branco, e até porque eu queria mandar pra ele a Nova Gramática do Português contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, cuja 2ª edição, havia recentemente saído. Comprei a tal gramática em São Paulo e postei a encomenda pelo Correio no endereço que meu amigo índio havia me passado, e ele, logo que recebeu o livro, através de Forneck, coordenador do CIMI, mandou me agradecer pela prenda e também me dar o seguinte recado: “que ele sentira firmeza na minha promessa e, portanto, tinha certeza de que eu cumpriria o compromisso assumido”.

Em 1996, ao reler todas as edições do jornal Varadouro e do Boletim Nós Irmãos tendo em vista a minha tese de doutoramento na USP, eu me deparei com extenso material sobre a questão indígena publicado nas páginas desses valorosos veículos da imprensa alternativa do Acre. Nessa leitura eu revisitei muitos amigos e conhecidos que eu convivi e admirava pelo sua coragem e empenho na defesa dos índios nesses anos de temor e tremor passados no Acre. Entre os amigos e pessoas de cujos nomes não me esqueci, destaco: Terri Vale de Aquino, José Carlos Meirelles, Padre Paulino Baldassari, Forneck Elson Martins, Ronaldo, Saulo Petean, Antonio Pereira Neto, Concita Maia, Keilah Diniz Djacira Oliveira (Dedê) e Macedo; através deles eu também vim a conhecer e me relacionar com Apoena Meireles, Edilson Martins, João Pacheco, Mary Alegretti e Alfredo Wagner. Das lideranças indígenas lembro-me ainda de Alfredo Sueiro, Manuel Apurinã,  Getulio Sales, Vicente Sabóia, José Correia e José Orias.
Alfredo Wagner

Nesse mesmo tempo, ao reler o Varadouro eu me lembrei do índio Ashninka, antes Campa, de nome Turiano que eu conheci em Rio Branco quando estava no SESC. Turiano havia viajado léguas à procura de “patrão bom”.
O Ashaninka Turiano e sua joven esposa 

Voltei ao Acre em 2008 e lá fique por mais três anos. Tive a oportunidade de reencontrar alguns amigos indigenistas, que haviam voltado a se reintegrar a FUNAI após o fim da ditadura militar, e que haviam resistido também aos entreveros, corrupção no órgão, e instabilidade da política indigenista praticada pelos governos “democráticos” que aos militares sucederam. A Comissão Pró-Índio, graças aos projetos de Terri, já havia adquirido um bom imóvel na Rua Pernambuco para sua sede própria. Afora os índios isolados que se negam ao contato com o mundo dos “civilizados”, as populações indígenas do Acre agora se encontram devidamente mapeadas e, suponho, com suas terras já devidamente demarcadas: Madija ou Kulina, Manchineri, Nukini, Poyanawa, Yawanawa, Shanenawa, Arara/ Katukina, Nawá, Jeminawa/Arara, Ashaninka, Kaxinawa, Jaminawa e Apolima/Arara. Por sua vez, com os Apurinã e Kaxarari que estão tão próximos, eu creio que o mesmo tenha ocorrido.
Comissão Pró-Índio - Agentes Florestais Indígenas

Há muito tempo, eu já considerava as lideranças e o movimento dos índios do Acre bastante diferenciados de outros líderes e movimentos indígenas do resto do país. Os líderes indígenas do Acre eram muito conscientes na defesa dos seus interesses e conseguiam verbalizar com clareza o que queriam e o que não queriam; tudo feito com seriedade, sem macaquices e sem, certamente, atrair aquele riso irônico do público dito “letrado” da classe média brasileira. Confirmo isso quase trintas anos depois em reuniões políticas que participei e em que se encontravam presentes lideranças indígenas e as chamadas elites acreanas. O desempenho dos índios era bem melhor que o discurso rasteiro, sem idéias e ofensivo à língua portuguesa dos demais presentes.

De outra vez, na Universidade Federal do Acre, ao participar de mesa num seminário de extensão, presenciei, sem sentir nenhum remorso, o massacre de uma astuciosa representante do MEC, promovido pelas lideranças indígenas. A  professora viera ao seminário defender a política de quotas para negros, digo afrobrasilerios, estudantes da escola pública e índios na Universidade pública. A esperta docente pensava que os índios do Acre eram massa de manobra e se embananou, pois as lideranças indígenas unanimemente rejeitaram a proposta, e alegaram que não queriam ser cidadão de segunda classe, e pretendiam entrar na Universidade por mérito e pela porta da frente com a cabeça erguida, e para isso eles reivindicavam escola pública de ensino fundamental e colegial de qualidade, na aldeia e fora dela. A infeliz da oradora oficial ficou ainda mais acuada e sem argumentos, quando os índios perguntaram-lhe se tinha filhos e se era na escola pública que eles estudavam? Na minha condição de opositor de quase tudo que vier do multiculturalismo e da ação “politicamente correta”, inclusive leis e justiça de exceção, sistema de quotas etc., eu só podia ficar muito feliz com a posição então externada pelas lideranças indígenas.  Ave os índios do Acre!

Nenhum comentário: