segunda-feira, 18 de junho de 2012

Livros - Resenha sobre o livro: Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental - Homero de Oliveira Costa


A Amazônia brasileira tem merecido nos últimos anos uma atenção especial da mídia mundial num momento em que a questão ambiental se transformou numa grande preocupação. Para entender o que está acontecendo na Amazônia é preciso, antes de tudo, alargar o marco cronológico e ter uma visão mais ampla, do ponto de vista histórico, dos grandes dilemas da região. Em primeiro lugar é preciso perceber a lógica de um certo modelo de desenvolvimento, direcionado principalmente a partir de 1964: os efeitos de uma política de incentivos fiscais e suas consequências, como o agravamento do processo de concentração de terra, a indução ao conflito fundiário – tornando a região numa das mais tensas do Brasil – à devastação ecológica e o acirramento dos conflitos sociais. Esse modelo trouxe como consequência a reprodução das desigualdades sociais, acompanhadas da desestruturação cultural e social de suas populações.

A esse respeito, já existe um considerável acervo bibliográfico, abrangendo os mais variados campos do conhecimento. No entanto, há algumas lacunas. Principalmente no que diz respeito à luta daqueles que são as maiores vítimas desse processo: trabalhadores, índios, posseiros etc., que têm se mobilizados e construído formas organizadas de resistência.

No caso específico do Acre essa bibliografia é agora enriquecida com a publicação do livro do professor Pedro Vicente Costa Sobrinho, “Capital e trabalho na Amazônia Ocidental” (coedição da Universidade Federal do Acre com Cortez Editora). Esse livro, resultado da dissertação de mestrado apresentada em 1991 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), tem como tema central o sindicalismo no Acre. É um estudo abrangente que acompanha a evolução histórica do sindicalismo no estado, desde o surgimento no começo do século, até o ano de 1977. Questões fundamentais como as condições sociais, econômicas e políticas que condicionaram e deram a esse sindicalismo uma característica distinta do praticado nas demais regiões brasileiras foram magistralmente  captadas pelo professor Pedro Vicente. Pode-se dizer que ele tratou o tema com uma elogiável riqueza de informações e com um raro rigor analítico.

Cabe destacar o período pré-64, onde é registrada a presença das Ligas Camponesas no Acre, bem como o primeiro sindicato rural no estado. O papel da igreja na organização dos movimentos sociais mereceu atenção especial, mostrando que esta instituição esteve presente nas lutas sociais dos trabalhadores acreanos, mesmo antes de 64, tendo sua inserção bem maior, e politicamente melhor definida na década de 1970, na orientação dos trabalhadores para a resistência contra a ação predatória dos pecuaristas na mais recente ocupação da fronteira.

É uma leitura obrigatória para todos aqueles que se preocupam com as questões sociais da região, principalmente do ponto de vista dos excluídos e dominados.



Nota: Homero de Oliveira Costa é professor-associado da UFRN; entre outros livros é autor de “A insurreição comunista de 1935 – Natal: o primeiro ato da tragédia”.   Este artigo foi publicado no jornal Gazeta do Acre (1993), quando, então, era professor da UFAC.

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