A Amazônia brasileira tem
merecido nos últimos anos uma atenção especial da mídia mundial num momento em
que a questão ambiental se transformou numa grande preocupação. Para entender o
que está acontecendo na Amazônia é preciso, antes de tudo, alargar o marco
cronológico e ter uma visão mais ampla, do ponto de vista histórico, dos
grandes dilemas da região. Em primeiro lugar é preciso perceber a lógica de um
certo modelo de desenvolvimento, direcionado principalmente a partir de 1964:
os efeitos de uma política de incentivos fiscais e suas consequências, como o
agravamento do processo de concentração de terra, a indução ao conflito
fundiário – tornando a região numa das mais tensas do Brasil – à devastação
ecológica e o acirramento dos conflitos sociais. Esse modelo trouxe como
consequência a reprodução das desigualdades sociais, acompanhadas da
desestruturação cultural e social de suas populações.
A esse respeito, já existe
um considerável acervo bibliográfico, abrangendo os mais variados campos do
conhecimento. No entanto, há algumas lacunas. Principalmente no que diz
respeito à luta daqueles que são as maiores vítimas desse processo:
trabalhadores, índios, posseiros etc., que têm se mobilizados e construído
formas organizadas de resistência.
No caso específico do Acre
essa bibliografia é agora enriquecida com a publicação do livro do professor
Pedro Vicente Costa Sobrinho, “Capital e trabalho na Amazônia Ocidental”
(coedição da Universidade Federal do Acre com Cortez Editora). Esse livro,
resultado da dissertação de mestrado apresentada em 1991 na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), tem como tema central o
sindicalismo no Acre. É um estudo abrangente que acompanha a evolução histórica
do sindicalismo no estado, desde o surgimento no começo do século, até o ano de
1977. Questões fundamentais como as condições sociais, econômicas e políticas
que condicionaram e deram a esse sindicalismo uma característica distinta do
praticado nas demais regiões brasileiras foram magistralmente captadas pelo professor Pedro Vicente.
Pode-se dizer que ele tratou o tema com uma elogiável riqueza de informações e
com um raro rigor analítico.
Cabe destacar o período
pré-64, onde é registrada a presença das Ligas Camponesas no Acre, bem como o
primeiro sindicato rural no estado. O papel da igreja na organização dos
movimentos sociais mereceu atenção especial, mostrando que esta instituição
esteve presente nas lutas sociais dos trabalhadores acreanos, mesmo antes de
64, tendo sua inserção bem maior, e politicamente melhor definida na década de
1970, na orientação dos trabalhadores para a resistência contra a ação
predatória dos pecuaristas na mais recente ocupação da fronteira.
É uma leitura obrigatória
para todos aqueles que se preocupam com as questões sociais da região,
principalmente do ponto de vista dos excluídos e dominados.
Nota: Homero de Oliveira
Costa é professor-associado da UFRN; entre outros livros é autor de “A insurreição
comunista de 1935 – Natal: o primeiro ato da tragédia”. Este artigo foi publicado no jornal Gazeta
do Acre (1993), quando, então, era professor da UFAC.
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