Os estudos sobre o sindicalismo brasileiro iniciaram-se a partir de pesquisas realizadas em São Paulo nos anos 60
e conheceram
um enorme desenvolvimento na década seguinte. Quem conhece esta
literatura sabe que, salvo raras exceções, o seu referencial empírico concentra-se no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Apesar disso, tais pesquisas se fizeram
acompanhar de uma teorização ampla, visando a relacionar o sindicalismo seja com o Estado, seja com o mercado de trabalho ou
qualquer outro tema a partir do qual a história
sindical era interpretada. Tal procedimento, contudo, levou as
pesquisas a servirem somente de suporte a
interpretações ge-neralizantes sobre o movimento sindical. O que era
apenas uma realidade localizada passou,
assim, a ser visto como uma história globalizante cristalizada antes do
conhecimento efetivo da diversidade recoberta pelo mundo do trabalho. Nada
como uma boa pesquisa regional para
desmentir generalizações indevidas e repor a riqueza do real: este é o caminho duro e necessário que permitirá, num futuro próximo, um conhecimento totalizador, contendo a pluralidade viva dos diversos
O livro de Pedro Vicente Costa Sobrinho acena
nesta direção. Obra séria e competente, guiada por pretensões modestas,
que gerou resultados
importantes. Como um bom pesquisador, o autor é modesto: apresenta uma descrição minuciosa do processo de trabalho nos seringais acreanos, com sua violência e brutalidade terríveis, em vez das eternas
discussões abstraías e vazias sobre capitalismo e pré-capitalismo. A riqueza de sua análise, dispensando o teoricismo estéril, faz reviver uma vez mais o contraste entre as cores vivas
do real e a palidez das construções teóricas.
O leitor é posto em contato com a
história viva dos trabalhadores do Acre no século XX, a história tirada das sombras pela infinita paciência do
autor, que desenterrou documentos e depoimentos escassos e rarefeitos para
construir uma monografia exemplar. A luta
dos trabalhadores rurais é o centro irradiador da narrativa e dos
principais personagens envovidos: o PCB, as Ligas Camponesas, a Contag, a
Igreja Católica. Essa luta teve um herói e mártir conhecido mundialmente, Chico
Mendes, ao lado de tantos outros personágens anônimos, atores e autores da
história do sindicalismo rural. E no Acre, mostra o autor, o campo organizou a
cidade: a atuação das ligas e sindicatos rurais foi o elemento dinâmico que
motivou a organização dos trabalhadores urbano
Pedro Vicente Costa Sobrinho, professor
de sociologia da Universidade Federal do Acre e ativo militante na região, com
sua narrativa sóbria refaz o percurso da história dos trabalhadores do Acre,
mostrando o desenrolar do processo histórico e captando, em cada momento, a particularidade de seu objeto de estudo. O
resultado final é um trabalho maduro e refletido que, na modéstia de suas
intenções, restringe o âmbito de diversas teorias “globais” e acrescenta
elementos novos para se repensar uma futura história do sindicalismo que dê
conta da pluralidade das situações vividas no mundo do trabalho.
Celso Frederico, professor titular da
Universidade de São Paulo (USP); é autor, entre outro livros, de Marx, Lukács:
a arte na perspectiva ontológica; A vanguarda operária; Consciência operária no
Brasil; O jovem Marx: as origens da ontologia do ser social; Sociologia da
Cultura: Lucien Goldmann e os debates do século XX; e Crise do Socialismo e
movimento operário.
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