Encontro de amigos na Bilbioteca Pública do Acre (Rio Branco): Luis Galdino, Pedro Vicente e Fábio Lucas |
O LIVRO
A “realidade amazônica”
desponta, neste livro de Fábio Lucas, autêntica e íntegra, como relembrança de
uma “viagem” mais sentimental do que geográfica. Não mais o olhar alienígena – auto-suficiente
arrogante e muitas vezes deformador – do naturalista, aventureiro ou “turista”,
que insistia em afirmar que a Amazônia era apenas um espaço vazio e acéfalo,
infestado de insetos, répteis e índios indignos de continuarem vivos.
Em suas
“peregrinações”, Fábio Lucas escutou (e “eufonizou”, como diria Abguar Bastos,
o paraense que propagou o Modernismo na Amazônia) as melhores vozes deste
Brasil das catedralescas florestas e de uma malha fluvial com cerca de 4.000
rios; um Brasil muito falado e ainda tão pouco conhecido, embora represente 60%
do território brasileiro; um Brasil que gera “preocupação” e desperta a cobiça
nacional e estrangeira.
A Amazônia aguardava um
livro como este de Fábio Lucas, que a interpretasse com senso crítico e
sensibilidade, lançando luzes sobre questões mal-resolvidas. O estilo
“grandíloquo e aliciante” de Euclides da Cunha, que ainda causa perplexidade em
muitos, não paralisou o pensador social, o crítico literário meticuloso, que
não titubeia em apontar-lhe os acertos – como, por exemplo, a atitude
crítico-assimilativa que Euclides utilizou, “sem passividade e sem basbaquice”,
em face da ciência estrangeira (p.68). Mas também mostra os erros, como o de
considerar o sertanejo uma “sub-raça”, o negro e o índio “raças primitivas” e o
cruzamento étnico “um desastre genético” (p.65).
Fábio Lucas observa
que, não raro, o contexto de uma natureza física “grandíloqua e majestática”
termina por invadir o texto da maior parte dos que se atrevem a movimentar
personagens no cenário amazônico.
Com um olhar seletivo
sobre o que já se pensou e escreveu “na” e “sobre” a Amazônia, Fábio Lucas
estabelece um roteiro seguro e indispensável para quem quiser tomar posse do
conhecimento existencial e filosófico dessa outra Amazônia que o Brasil e o
mundo desconhecem – uma Amazônia pensante, sensível, inteligente, representada
por escritores, poetas, ficcionistas, historiadores, sociólogos e filósofos de
grande valor, como João de Jesus Paes Loureiro, Olga Savary, Thiago de Mello,
Jorge Tufic, Astrid Cabral, Aníbal Beça, Age de Carvalho, Márcio Souza,
Ferreira de Castro, Abguar Bastos, Inglez de Souza, Dalcídio Jurandir,
Benedicto Monteiro, Leandro Tocantins, José Veríssimo, Arthur Cezar Ferreira
Reis, Benedito Nunes... e tantos outros nomes significativos que passam pelas
páginas deste livro imprescindível.
Fábio Lucas também
amplia e enriquece o painel das ‘letras amazônicas’, tornando-o ainda mais
representativo, ao incluir no seu campo de análise as obras de Ferreira Gullar
e Nauro Machado, dois ícones da poesia do Maranhão, Estado situado em zona de
transição entre o Norte e o Nordeste brasileiros, e que, histórica e
geograficamente, mantém fortes vínculos com a Amazônia.
O AUTOR
Fábio Lucas nasceu em
Esmeraldas (MG), no dia 27 de julho de 1931. Professor, ensaísta, tradutor,
crítico e teórico da Literatura, lecionou em seis universidades
norte-americanas, cinco universidades brasileiras e uma portuguesa. Dirigiu o
Instituto Nacional do Livro em Brasília, bem como a Faculdade Paulistana de
Ciências e Letras. É autor de mais de 50 obras de crítica e ciências sociais. É
considerado um dos mais importantes críticos e conferencistas internacionais da
Literatura Brasileira.
Em seu discurso de posse na Academia Mineira
de Letras, em 19 de outubro de 1961, disse: “O livro é o objeto de quase todas
as horas de que disponho”. Com tal paixão tornou-se um dos principais membros
da geração literária mineira que fundou, em Belo Horizonte, as revistas
“Vocação” (1951) e “Tendência” (1957), em cujas equipes participaram o poeta
Affonso Ávila e o romancista Rui Mourão.
Em 1953, Fábio Lucas
graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, e, em 1963,
concluiu doutorado em Direito Público, em Economia e História das Doutrinas
Econômicas pela Fafich/UFMG. Na mesma Universidade, tornou-se professor de
Teoria da Renda e Repartição da Renda Social na Faculdade de Ciências Econômicas,
em que teve mestres como Emílio Moura e Francisco Iglésias como colega,
sofrendo perseguições durante os sombrios anos da ditadura militar (1964-1975),
quando lhe retiram a cadeira em que lecionava, o que o obriga a partir para o
exterior.
Em sua extensa
produção, destacam-se: Poesia e prosa no Brasil: Clarice, Gonzaga, Machado e
Murilo Mendes (1976), Vanguarda, História e ideologia da literatura (1985),
Fontes literárias portuguesas (1991), Do barroco ao moderno (1989), Mineiranças
(1991), Cartas a Mário de Andrade (1993), Jorge de Lima e Ferreira Gullar, o
longe e o perto (1995), Luzes e Trevas, Minas Gerais no séc. XVIII (1998),
Murilo Mendes, poeta e prosador (2001), Literatura e comunicação na era da
eletrônica (2001), Expressões da identidade brasileira (2002), O poeta e a
mídia: Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo (2004), O poliedro da
crítica (2009), O centro e a periferia de Machado de Assis (2010), Ficções de
Guimarães Rosa: perspectivas (2011) . Na ficção, produziu o romance A mais bela
história do mundo (1996). Com O caráter social da literatura brasileira (Paz e
Terra, 1970) conquistou o Prêmio Jabuti de Literatura, no setor “Estudos
Brasileiros”, concedido pela Câmara Brasileira Livro. (Obs: O caráter social da
literatura brasileira oferece um roteiro ímpar, seguro e obrigatório, para quem
busca os melhores caminhos na brumosa seara das narrativas de cunho social no
Brasil). Razão e emoção literária recebeu o Prêmio Crítica, “Os Melhores do Ano
de 1982”, da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Em 1992, Fábio
Lucas ganhou o Prêmio Juca Pato, como Intelectual do Ano, concedido pela União
Brasileira de Escritores, juntamente com o jornal “Folha de São Paulo”. Em 2006
obteve o Prêmio Conrado Wessel na área de Literatura.
Quando da comemoração
de seu aniversário, em 1997, em homenagem prestada pela grande imprensa de
Minas Gerais, o escritor e jornalista Roberto Drummond definiu Fábio Lucas como
o que há de melhor na Crítica no Brasil, ao lado de Antonio Candido e de Wilson
Martins.
Acrescente-se que o
compromisso do crítico Fábio Lucas, ao longo de seis décadas de intensa
militância intelectual, estendeu-se para
o campo das lutas cívicas. Todas as vezes que a liberdade de organização e de
expressão do pensamento esteve ameaçada, Fábio Lucas repudiou publicamente o
autoritarismo.
Em 1984, por exemplo,
participou do movimento político que exigia a redemocratização do Brasil. Como
presidente, por cinco vezes, da União Brasileira de Escritores (UBE-SP), Fábio
Lucas manteve a independência da instituição frente aos setores do livro
ligados ao “mercado”, bem como resistiu às pressões do Estado – quer o Estado
totalitário, implantado pelos militares em 1964, quer o Estado “democrático”
que se lhe seguiu, o qual, já não com as armas impopulares da ditadura, mas com
o emprego “simpático” (e legal!) do dinheiro público, tem aliciado e silenciado
consciências.
Vice-Presidente da
primeira Diretoria da Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR)
como representante dos escritores, notabilizou-se pelo combate à pirataria e à
fraude ao direito autoral. Foi membro titular do Conselho Nacional de Direito
Autoral (CNDA) de 1989 a 1991.
Organizou, em 1985, o Congresso Internacional
de Escritores do Brasil, em São Paulo, com a presença de 1200 escritores.
Esteve, em 1995, na organização do primeiro Congresso de Escritores do interior
de São Paulo. Também, em 1995, participou da organização do Congresso de
Escritores do MERCOSUL.
Mais recentemente, Fábio
Lucas presidiu a comissão de escritores que redigiu o Manifesto dos Escritores
Brasileiros, que resultou das discussões, análises e deliberações do Congresso
Brasileiro de Escritores, que se realizou de 12 a 15 de novembro de 2011, na
cidade de Ribeirão Preto (SP).
Saindo da pequena
Esmeraldas, Fábio Lucas soube conquistar – com trabalho, inteligência e a
notória “prudência mineira” – todos os lugares por onde foi passando, até
fixar-se na cosmopolita São Paulo, que acolheu a este ilustre mineiro e concedeu-lhe
assento na Cadeira 27 da Academia Paulista de Letras (APL).
Nota: Nestas suas peregrinações amazônicas, Fábio Lucas de modo muito gentil me faz referência - "Outra homenagem seja lançada ao amigo Pedro Vicente Costa Sobrinho, que viaja num quadrângulo que sai de Rio Branco a Natal, de Natal à cidade de São Paulo e de São Paulo a Belo Horizonte. E de BH ao Acre. É autor de uma obra de peso "Capital e trabalho na Amazônia ocidental" (São Paulo: Cortez; Rio Branco, AC: Universidade Federal do Acre, 1992). Trata-se de contribuição à história social e ao estudo das lutas sindicais no Acre".
Nota: Nestas suas peregrinações amazônicas, Fábio Lucas de modo muito gentil me faz referência - "Outra homenagem seja lançada ao amigo Pedro Vicente Costa Sobrinho, que viaja num quadrângulo que sai de Rio Branco a Natal, de Natal à cidade de São Paulo e de São Paulo a Belo Horizonte. E de BH ao Acre. É autor de uma obra de peso "Capital e trabalho na Amazônia ocidental" (São Paulo: Cortez; Rio Branco, AC: Universidade Federal do Acre, 1992). Trata-se de contribuição à história social e ao estudo das lutas sindicais no Acre".
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