sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Crítica de Cinema. O Som ao Redor - Resenha: Sérgio Lucena


Cena do filme: O Som ao Redor

Sons ao redor nos trazem noticia do que se aproxima ou nos cerca, um alerta, uma noticia do que não vemos ainda, que nos espreita. O som anuncia algo, um grito, um ruído, um aviso que nos põe despertos, o som nos acorda.

Kleber Mendonça Filho amplia o som ao nosso redor com seu filme cuja linguagem desconcerta ao mesmo tempo em que nos põe em vigília. Uma crônica do cotidiano de qualquer metrópole brasileira, ou de qualquer país, ambientada no Recife. Uma crônica feita com o tempero local, com suas raízes sociais históricas, mas que trata de uma situação universal e contemporânea. A decadência, a ruína de uma época, a desintegração dos valores e o vazio como única presença em meio aos escombros nostálgicos de uma cultura. O filme com sua linguagem tão particular e eficaz é uma experiência assombrosa do patético.

O Som ao Redor trouxe-me a lembrança do livro Galiléia do Ronaldo Correia de Brito, cearense, intelectual brilhante e médico que mora no Recife, cuja estória é completamente outra, mas que também aborda este cenário contemporâneo de alienação, barbárie e desintegração. Ambos, o Cineasta e o Escritor, anotam com clareza única a natureza do que estamos vivenciando, ambos, cada um na sua seara, estabelecem uma forma original de relato que atinge em cheio a surdez, a cegueira e a insensibilidade oriundas da banalização. O balsamo da nossa época.

Na fila do cinema para comprar o ingresso, um jovem Nissei a nossa frente comentava o filme, ele disse ”Não dá para explicar, é o melhor filme que vi nos últimos tempos, mas, não dá para explicar” e realmente não dá, ou melhor, não é para ser explicado, é preciso escutar o som ao redor.

 

Filme: O Som ao Redor

Direção: Kleber Mendonça Filho

Elenco: Irma Brown, Sebastião Formiga, Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, Irandhir Santos, W. J. Solha, Lula Terra.

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